A unidade do ensino público do jardim de infância da quadra 404 Norte de Brasília funcionava quase o tempo todo como uma escolinha de religião sem que os pais soubessem.
As crianças tinham de rezar antes das aulas. Durante as atividades, cantavam músicas religiosas, agradeciam o Papai do Céu, abençoam o parquinho, esse tipo de coisa. Até que alguns pais denunciaram a direção do estabelecimento à Secretaria de Educação.
A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) prevê ensino religioso apenas nos ensinos fundamental e médio -- e ainda assim como matéria facultativa. Na educação infantil, a orientação é que os professores deem noções de ética e diversidade cultural, sem qualquer menção religiosa.
Mas a direção do jardim de infância submetia as crianças ao proselitismo católico, sem consultar os pais, não se importando com a crença ou descrença deles.
Mafa Nogueira foi um dos pais que reclamaram. Ele disse que custava a acreditar que a escolinha estivesse dizendo a sua filha que Deus é masculino, um só e o criador. Não era o que ele estava planejando passar para ela.
Alguns pais, contudo, defenderam a escola e fizeram um abaixo-assinado para que as orações fossem mantidas. Flávio Henrique, por exemplo, disse que ali se fala de Deus, mas em um “momento espontâneo das crianças”. Uma mãe disse que na escolinha se “constrói o amor” e estão querendo acabar com isso.
Mas a contadora de histórias Lyvia Sena, que estranhou o seu filho estar cantando em casa música com a palavra “sacristão”, disse que a orientação religiosa cabe à família, não à escola, aos professores. Esse jardim de infância faz parte de um plano piloto que inclui outras seis unidades. Todas foram denunciadas pelo mesmo problema, o que demonstra que não se trata de uma atitude espontânea de professores, mas de uma orientação que vem de cima, dos responsáveis do plano piloto.
Além de determinar o fim do proselitismo religioso, o que foi feito, a Secretaria de Educação deveria demitir toda a direção do plano piloto.
Com informação do G1, via PAULOPESE WEBLOG
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"Guerra santa" em escola de Brasília
Uma das crianças voltou para casa dizendo que "o telefone para falar com Jesus era dobrar o joelho no chão"
Agência Brasil
A diretora do Jardim de Infância da 404 Norte, Rosimara Albuquerque, diz que a escola vai convocar reuniões com pais, professores, funcionários e representantes da Secretaria de Educação para discutir como abordar a pluralidade e a diversidade de crenças.
Uma “guerra santa” foi travada entre os pais das 180 crianças de 4 e 5 anos que estudam no Jardim de Infância da 404 Norte, na região central de Brasília.
Uma oração feita pelos alunos diariamente, antes do início das aulas, é o principal motivo da discórdia. De um lado está um grupo de pais que pede a exclusão de referências religiosas das atividades escolares. Do outro, os que apoiam o ritual diário e consideram que a direção da escola está sendo perseguida.
A discussão teve início quando uma denúncia sobre o assunto foi encaminhada à Ouvidoria da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Todos os dias antes das aulas os alunos se reúnem no pátio da escola para o momento chamado de acolhida.
Nessa hora, são estimulados a fazer uma “oração espontânea”, como define a diretora Rosimara Albuquerque. A cada dia, crianças de uma turma ficam responsáveis por fazer os agradecimentos a Deus ou ao “Papai do Céu”. “Pode agradecer pelo parquinho, pelos colegas.
Mas houve um questionamento por parte dos pais para que fosse um momento de acolhida um pouco mais amplo já que algumas famílias não comungam dessa religião, que seria basicamente cristã”, conta Rosimara, que está à frente da escola há seis anos.
Para a radialista Eliane Carvalho, integrante da Associação de Pais e Mestres do colégio, a escola está ultrapassando os limites permitidos pela legislação. Ela e outros pais que protestam contra essas atividades se apoiam no princípio constitucional da laicidade para pedir que práticas de cunho religioso fiquem de fora do ambiente escolar. Além do momento da acolhida, ela conta que notou outros sinais de violação, a partir de informações que o filho de 4 anos levava para casa.
“Não posso dizer que existem dentro da sala de aula práticas religiosas. Mas meu filho não aprendeu em casa a orar em nome de Jesus. Um dia ele me disse que o telefone para falar com Jesus era dobrar o joelho no chão”, relata Eliane.
Em resposta à denúncia, um grupo maior de pais organizou um abaixo-assinado a favor da escola e da oração no início das aulas. Alguns alegam que a diretora está sendo perseguida por ser católica e atuante em grupos religiosos.
“A forma como eles [professores e direção] estão atuando não é nada abusiva ou direcionada a uma crença específica. Eles colocam a palavra de Deus, como entidade superior, e agradecem à família. São só coisas boas, frutos bons. Quem está incomodado é uma minoria”, defende Thiago Meirelles, que é católico e pai de um aluno.
Para Carolina Castro, mãe de outro estudante, a intenção da escola é positiva e busca a socialização. “Não acho que eles estejam tratando de religião em si, mas passando uma noção de agradecimento do que é precioso na vida. Não acho que isso seja ensino religioso”, diz.
Eliane Carvalho lamenta que a discussão tenha ficado polarizada. “Não é uma discussão pessoal, mas de currículo. O grupo que fez o abaixo-assinado passou a nos ver como perseguidores de cristãos, hoje somos vistos como pessoas absurdas que não querem a palavra de Deus na escola. Todos têm o direito de fazer suas orações, mas eu questiono o fato de a escola aceitar uma prática que, para mim, se configura em arrebanhar fiéis”, diz.
O momento da acolhida é feito há 40 anos, desde que a escola foi fundada, e é comum também em outros colégios da rede. Na última semana a reza foi substituída por cantigas de roda e outras atividades. “Aí, sim, parecia uma escola, antes parecia uma igreja. Como pai que tem a obrigação de dar uma orientação religiosa à filha, não posso permitir que haja divergência.
O mais triste é que, apesar de essas pessoas dizerem que estão pregando o amor e o respeito, elas não têm respeito nenhum pela minha liberdade de que não haja essa interferência [religiosa]”, diz Mafá Nogueira, pai de uma aluna.
Para resolver o problema, a escola vai convocar reuniões com pais, professores, funcionários e representantes da Secretaria de Educação. “Vamos discutir como a gente pode abordar a pluralidade e a diversidade sem agredir ninguém e que todos possam sair satisfeitos. Mas essa polêmica é salutar porque, na medida em que a gente ouve questionamentos de pais que pensam diferente, isso é saudável para o crescimento.
Podemos adotar uma postura diferente, estruturada no que a comunidade pensa”, avalia a diretora Rosimara, que usava no pescoço um cordão com um crucifixo enquanto conversava com a reportagem da Agência Brasil.
A Secretaria de Educação do Distrito Federal informou que desconhece problemas semelhantes em outras escolas da rede e reiterou que orienta as unidades a seguir a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que veda qualquer prática proselitista no ambiente escolar.
Fonte: Rev. ÉPOCA
As crianças tinham de rezar antes das aulas. Durante as atividades, cantavam músicas religiosas, agradeciam o Papai do Céu, abençoam o parquinho, esse tipo de coisa. Até que alguns pais denunciaram a direção do estabelecimento à Secretaria de Educação.
A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) prevê ensino religioso apenas nos ensinos fundamental e médio -- e ainda assim como matéria facultativa. Na educação infantil, a orientação é que os professores deem noções de ética e diversidade cultural, sem qualquer menção religiosa.
Mas a direção do jardim de infância submetia as crianças ao proselitismo católico, sem consultar os pais, não se importando com a crença ou descrença deles.
Mafa Nogueira foi um dos pais que reclamaram. Ele disse que custava a acreditar que a escolinha estivesse dizendo a sua filha que Deus é masculino, um só e o criador. Não era o que ele estava planejando passar para ela.
Alguns pais, contudo, defenderam a escola e fizeram um abaixo-assinado para que as orações fossem mantidas. Flávio Henrique, por exemplo, disse que ali se fala de Deus, mas em um “momento espontâneo das crianças”. Uma mãe disse que na escolinha se “constrói o amor” e estão querendo acabar com isso.
Mas a contadora de histórias Lyvia Sena, que estranhou o seu filho estar cantando em casa música com a palavra “sacristão”, disse que a orientação religiosa cabe à família, não à escola, aos professores. Esse jardim de infância faz parte de um plano piloto que inclui outras seis unidades. Todas foram denunciadas pelo mesmo problema, o que demonstra que não se trata de uma atitude espontânea de professores, mas de uma orientação que vem de cima, dos responsáveis do plano piloto.
Além de determinar o fim do proselitismo religioso, o que foi feito, a Secretaria de Educação deveria demitir toda a direção do plano piloto.
Com informação do G1, via PAULOPESE WEBLOG
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"Guerra santa" em escola de Brasília
Uma das crianças voltou para casa dizendo que "o telefone para falar com Jesus era dobrar o joelho no chão"
Agência Brasil
A diretora do Jardim de Infância da 404 Norte, Rosimara Albuquerque, diz que a escola vai convocar reuniões com pais, professores, funcionários e representantes da Secretaria de Educação para discutir como abordar a pluralidade e a diversidade de crenças.
Uma “guerra santa” foi travada entre os pais das 180 crianças de 4 e 5 anos que estudam no Jardim de Infância da 404 Norte, na região central de Brasília.
Uma oração feita pelos alunos diariamente, antes do início das aulas, é o principal motivo da discórdia. De um lado está um grupo de pais que pede a exclusão de referências religiosas das atividades escolares. Do outro, os que apoiam o ritual diário e consideram que a direção da escola está sendo perseguida.
A discussão teve início quando uma denúncia sobre o assunto foi encaminhada à Ouvidoria da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Todos os dias antes das aulas os alunos se reúnem no pátio da escola para o momento chamado de acolhida.
Nessa hora, são estimulados a fazer uma “oração espontânea”, como define a diretora Rosimara Albuquerque. A cada dia, crianças de uma turma ficam responsáveis por fazer os agradecimentos a Deus ou ao “Papai do Céu”. “Pode agradecer pelo parquinho, pelos colegas.
Mas houve um questionamento por parte dos pais para que fosse um momento de acolhida um pouco mais amplo já que algumas famílias não comungam dessa religião, que seria basicamente cristã”, conta Rosimara, que está à frente da escola há seis anos.
Para a radialista Eliane Carvalho, integrante da Associação de Pais e Mestres do colégio, a escola está ultrapassando os limites permitidos pela legislação. Ela e outros pais que protestam contra essas atividades se apoiam no princípio constitucional da laicidade para pedir que práticas de cunho religioso fiquem de fora do ambiente escolar. Além do momento da acolhida, ela conta que notou outros sinais de violação, a partir de informações que o filho de 4 anos levava para casa.
“Não posso dizer que existem dentro da sala de aula práticas religiosas. Mas meu filho não aprendeu em casa a orar em nome de Jesus. Um dia ele me disse que o telefone para falar com Jesus era dobrar o joelho no chão”, relata Eliane.
Em resposta à denúncia, um grupo maior de pais organizou um abaixo-assinado a favor da escola e da oração no início das aulas. Alguns alegam que a diretora está sendo perseguida por ser católica e atuante em grupos religiosos.
“A forma como eles [professores e direção] estão atuando não é nada abusiva ou direcionada a uma crença específica. Eles colocam a palavra de Deus, como entidade superior, e agradecem à família. São só coisas boas, frutos bons. Quem está incomodado é uma minoria”, defende Thiago Meirelles, que é católico e pai de um aluno.
Para Carolina Castro, mãe de outro estudante, a intenção da escola é positiva e busca a socialização. “Não acho que eles estejam tratando de religião em si, mas passando uma noção de agradecimento do que é precioso na vida. Não acho que isso seja ensino religioso”, diz.
Eliane Carvalho lamenta que a discussão tenha ficado polarizada. “Não é uma discussão pessoal, mas de currículo. O grupo que fez o abaixo-assinado passou a nos ver como perseguidores de cristãos, hoje somos vistos como pessoas absurdas que não querem a palavra de Deus na escola. Todos têm o direito de fazer suas orações, mas eu questiono o fato de a escola aceitar uma prática que, para mim, se configura em arrebanhar fiéis”, diz.
O momento da acolhida é feito há 40 anos, desde que a escola foi fundada, e é comum também em outros colégios da rede. Na última semana a reza foi substituída por cantigas de roda e outras atividades. “Aí, sim, parecia uma escola, antes parecia uma igreja. Como pai que tem a obrigação de dar uma orientação religiosa à filha, não posso permitir que haja divergência.
O mais triste é que, apesar de essas pessoas dizerem que estão pregando o amor e o respeito, elas não têm respeito nenhum pela minha liberdade de que não haja essa interferência [religiosa]”, diz Mafá Nogueira, pai de uma aluna.
Para resolver o problema, a escola vai convocar reuniões com pais, professores, funcionários e representantes da Secretaria de Educação. “Vamos discutir como a gente pode abordar a pluralidade e a diversidade sem agredir ninguém e que todos possam sair satisfeitos. Mas essa polêmica é salutar porque, na medida em que a gente ouve questionamentos de pais que pensam diferente, isso é saudável para o crescimento.
Podemos adotar uma postura diferente, estruturada no que a comunidade pensa”, avalia a diretora Rosimara, que usava no pescoço um cordão com um crucifixo enquanto conversava com a reportagem da Agência Brasil.
A Secretaria de Educação do Distrito Federal informou que desconhece problemas semelhantes em outras escolas da rede e reiterou que orienta as unidades a seguir a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que veda qualquer prática proselitista no ambiente escolar.
Fonte: Rev. ÉPOCA
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