Opinião de dom William Shomali, vigário patriarcal latino para Jerusalém e a Palestina
ROMA, quarta-feira, 31 de outubro de 2012 (ZENIT.org) - "Estou convencido de que o apoio das igrejas e dos governos estrangeiros é um passo em frente no rumo da paz e da ordem pública". Dom William Shomali, vigário patriarcal latino para Jerusalém e para a Palestina, em entrevista neste último 29 de outubro à fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), diz considerar "útil" a pressão diplomática sobre Israel. Ele comenta ainda o possível confisco de 300 hectares de terra no Vale de Cremisan, perto de Belém, para a construção de um novo trecho do muro de separação do país.
Dom Shomali está entre os signatários da declaração divulgada na semana passada pela Assembleia dos Ordinários Católicos da Terra Santa (AOCTS), que condena o percurso previsto para o muro e nega "categoricamente a existência de um acordo expresso ou implícito entre o Vaticano, a Igreja local e as autoridades israelenses". Em 16 de outubro, a organização não-governamental Israel Project havia acusado abertamente a Santa Sé de autorizar a Tel Aviv a construção do muro em uma área de propriedade eclesiástica.
Além de refutar as alegações, vinte e dois prelados e sacerdotes de várias denominações católicas, incluindo dom Fouad Twal, patriarca latino de Jerusalém, o pe. Pierbattista Pizzaballa, custódio da Terra Santa, e dom Giorgio Lingua, núncio apostólico na Jordânia e no Iraque, sublinham que o confisco "agravará a situação da aldeia de Al Walaja e de 58 famílias de Beit Jala, cerca de 80% das quais são cristãs e cuja subsistência depende principalmente daquele terreno".
O documento, enviado à Ajuda à Igreja que Sofre pelo Patriarcado Latino de Jerusalém, também expressa a preocupação com a possibilidade de que a pressão adicional da "barreira de segurança" sobre os cristãos de Belém aumente o êxodo de fiéis da Terra Santa. A presença cristã na região, em 1947, era de cerca de 20% da população; agora, está reduzida a apenas 2%. "Sem uma renda estável e um futuro para os filhos, muitos vão tomar a decisão de abandonar a região".
Falando com a AIS, dom Shomali lembrou que, em 2004, o Tribunal Internacional de Justiça de Haia declarou ilegal a construção do muro, iniciado por Israel em 2003 para se defender de possíveis ataques terroristas. O muro se estende, em mais de 80% dos seus cerca de 750 quilômetros, além do “limite verde”, criado pelos acordos de armistício de 1949 entre árabes e israelenses. "Se a barreira tivesse sido erguida dentro das fronteiras anteriores à ocupação da Cisjordânia”, diz o vigário patriarcal, “ninguém poderia se opor. Mas o trecho que corta o vale de Cremisan passa além dessa linha, dentro das terras palestinas".
Indo além das queixas relacionadas com a violação do direito internacional, o bispo acredita que é possível traçar uma rota alternativa, que acarrete menos perda de terras para os moradores da área. As últimas esperanças estão agora no julgamento do Supremo Tribunal de Israel, em fevereiro próximo. Será o epílogo da ação legal iniciada em 2006 pelas famílias de Beit Jala, às quais, em 2010, se uniram as religiosas salesianas, para impedir a construção do muro na região. "Exigimos a decisão justa. Não uma medida para contentar a Igreja", afirma dom Shomali, que confia nos magistrados “independentemente da política".
No entanto, não pode ser excluída a possibilidade de confisco das terras, uma "expropriação de facto", e o bispo já pensa em como ajudar as famílias privadas dos próprios recursos. "Temos que começar a nos mexer, junto com a Caritas e com outras organizações humanitárias. Mas eu temo que os nossos recursos não sejam suficientes".
(Trad.ZENIT)
Fonte: ZENIT
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