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sábado, 17 de novembro de 2012

Nossa fábrica de cadáveres a todo vapor



Jornal do BrasilLuiz Flávio Gomes*



"Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada. Até que, um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E, porque não dissemos nada, já nada podemos dizer” (Vladimir Maiakovski). 

A carnificina é generalizada. A mídia, com razão, protesta contra as 10 mortes diárias na cidade de São Paulo. Mas não chama a atenção para as outras 137 em todo o país (confira nosso delitômetro – www.institutoavantebrasil,com.br). Extermínio epidêmico. Que está ficando mais complexo com a presença de milícias. Milícias matando policiais, membros das facções matando gente das milícias e das polícias, policiais matando gente de todo tipo. Eis: estudante da USP sendo executado (O Estado de S. Paulo, 10/11/12, pág. C1); Pobres coitados morrem por engano (O Estado de S. Paulo, 11/11/12, pág. C3); homem é dominado e executado pela PM (O Estado de S. Paulo, 12/11/12, pág. C3) etc. 

Na primeira noite eles matam 10 ou 20, e não dizemos nada. Na segunda noite eles matam mais outra dezena, e não dizemos nada. No ano eles matam mais de 90 policiais, e não dizemos nada. Em Salvador eles matam um advogado que defendia os pobres, e não dizemos nada. O governador diz que “quem não reagiu está vivo”. Agora, mesmo quem não está reagindo não está vivo (e não dizemos nada). O governo diz que o PCC não existe (e não dizemos nada). Diz que o PCC é coisa insignificante (e não dizemos nada). Conhecendo bem o nosso medo, a política de extermínio aumenta a cada dia (e não dizemos nada). 

Um milhão e duzentas mil pessoas foram assassinadas no Brasil de 1980 até hoje (e não dizemos nada). A cada nove minutos matam intencionalmente uma pessoa no Brasil (e não dizemos nada). Os mortos não são nunca ouvidos (Zaffaroni). E eles têm muita coisa a dizer (primeiro, que estão mortos, que houve crueldade, que suas famílias sofreram). E porque nunca dissemos nada, já nada podemos dizer (Vladimir Maiakovski). Estamos voltando ao estado pré-moderno, onde o homem era o lobo do outro homem. E não dizemos nada! 

*Luiz Flávio Gomes, jurista, é professor e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. - www.professorlfg.com.br.

Fonte: JB

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns pelos seus comentários. Inteligentes, humorados e com propriedade.