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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

COLUNISTA IGNORA DADOS ELEMENTARES DA HISTÓRIA


Assim como há turistas que dão dez voltas ao mundo e do mundo nada conhecem, há também intelectuais que envelhecem e da velhice não tiram nenhum aprendizado. Rubem Alves, ex-seminarista, teólogo, psicanalista e cronista da Folha de São Paulo, não nasceu ontem. No entanto, no decorrer de sua vida, pouco ou nada parece ter aprendido. Em crônica publicada ontem, faz perguntas que já deveria ter respondido em seus verdes anos:

Fico a imaginar o caráter, a alma de uma pessoa que se dedica a inventar uma máquina que será usada para matar com a benção do Estado. Pergunto-me: "Sua alma será pura ou assassina"?

"Guillotin", o inventor da guilhotina: sua alma, como seria ela? Ele nunca matou. Não foi um criminoso. Apenas criou um instrumento de matar.

Quem terá tido a idéia de uma "cadeira elétrica"? Terá sido inventada por uma pura explosão de criatividade individual ou terá sido construída por encomenda, por físicos, eletricistas e biólogos?


Para começar, matar é uma das mais antigas punições aplicadas a criminosos. Já está na Bíblia. E na Bíblia nem se precisava sequer ser criminoso para ser executado. Bastava ser inimigo. Se é preciso matar, urge criar os instrumentos de dar a morte.

Continuando, Guillotin era um médico emérito e cientista respeitado, que pretendeu humanizar as execuções de condenados à morte. Antes da Revolução de 1789, participou da comissão que desmascarou a impostura de Mesmer, um aventureiro que encantou os ingênuos da época com suas experiências sobre o magnetismo animal, e que está na origem desta impostura muito brasileira, o espiritismo. Com a guilhotina, eliminava-se a forca, a espada e a roda. A lâmina caía e um segundo depois o homem não existia mais.

Considerada um instrumento de humanização da pena de morte, a guilhotina mereceu o apodo de l’amie du peuple. No 21 de janeiro de 1793, Luis XVI e Maria Antonieta, mereceram sua homenagem, após o que a máquina passou a chamar-se de la Louisiette. Só foi abolida na França recentemente, durante o governo Mitterrand.

Villiers de L’Isle-Adam, um dos desconhecidos precursores do modernismo em literatura, há cerca de duzentos anos preocupava-se com o novo instrumento de
execução. Em um de seus Contos cruéis, um médico, imbuído do espírito de investigação do Iluminismo, tenta convencer, um condenado à morte a prestar uma última colaboração à pesquisa neurológica: no momento da execução, ele, o médico, estaria do outro lado da guilhotina, junto ao cesto que recolhe a cabeça do condenado.

Não poderia este, em nome da ciência, é claro, responder com um ligeiro piscar de olhos, depois da descida da lâmina, para confirmar a continuidade da consciência após a separação da cabeça do corpo? O condenado aceita a proposição, mas seu gesto é tão vago que não permite ao pesquisador conclusão alguma. Hoje se sabe que uma cabeça cortada por machado ou guilhotina continua consciente enquanto roda ou cai no cesto. O que deve ser uma percepção no mínimo desagradável.

Quanto à cadeira elétrica, é de supor-se que o renomado escritor e professor emérito da Unicamp não ignore que foi uma invenção patrocinada por... Thomas Alva Edson. Isso mesmo, o inventor da lâmpada elétrica e do gramofone. A primeira cadeira elétrica foi desenvolvida por Harold Pitney Brown, funcionário de Edson, empregado com a finalidade de desenvolver a eletrocussão. Não havia tentativa alguma de humanização da pena de morte no invento, e sim uma guerra industrial entre Edson e George Westinghouse. A primeira execução com o novo instrumento de morte, a de William Kemmler, foi um desastre. O condenado sobreviveu ao primeiro choque e teve de ser preparado para um segundo antes de morrer.

Ou Rubem Alves está fazendo uma pergunta retórica ao leitor... ou pouco ou nada sabe do século que percorreu. O que estava em jogo com a invenção da cadeira elétrica era uma luta de mercado entre os defensores da corrente contínua e da corrente alternada para a transmissão de energia elétrica nos Estados Unidos. Thomas Edison defendia a corrente contínua e a alternada era defendida por Westinghouse, que vinha ganhando concorrências para fornecer energia e produtos mais baratos que seu concorrente.

Edison, que realizou dezenas de testes com animais para provar a periculosidade da corrente alternada, acabou testando sua tese em seres humanos. A chamada batalha das correntes só acabou em 1892, com a criação da General Eletric, Westinghouse derrotou definitivamente a empresa de Edison. Assim surge a cadeira elétrica.

É espantoso que o colunista da Folha de São Paulo ignore estes fatos de conhecimento público. Que mais não seja, estão à distância de um click no Google.

Fonte: Blog do JANER CRISTALDO

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