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domingo, 17 de outubro de 2010

O Partido do Chá

As ideias da Tea Party
Integrantes do grupo, que vem crescendo na política americana, defendem a volta do padrão ouro na economia, o fim do Banco Central e a saída dos EUA das Nações Unidas
José Antonio Lima
Steve Helber / AP
APOIO Greg Hernandez, partidário da Tea Party, ouve discursos de líderes do movimento durante convenção em Richmond, na Virgínia, em 9 de outubro
O movimento conhecido como Tea Party (festa do chá) é, com folga, o principal fato novo do período eleitoral dos Estados Unidos. Em 2 de novembro, os americanos renovarão parte do Senado, toda a Câmara de Representantes e escolherão alguns novos governadores influenciados pelo discurso ultraconservador do grupo, inspirado em um episódio ocorrido no século XVIII e que serviu para catalisar o movimento de independência americana. A força da Tea Party do século XXI tem origem na reação ao resgate financeiro, pela Casa Branca, de bancos e outras companhias afundados na crise econômica de 2008. Hoje, é um grupo heterogêneo de políticos e personalidades – majoritariamente ligados ao partido Republicano – que propagam uma série de ideias polêmicas sobre economia, mas também sobre política social, relações internacionais, direitos civis e religião. São ideias que, se forçam a agenda conservadora do partido Republicano, ameaçam a credibilidade da Tea Party.

No campo da economia, quem lidera as propostas radicais da Tea Party é Ron Paul, um representante (deputado) republicano do Texas. As primeiras festas do chá deste século foram organizadas por seus apoiadores, em dezembro de 2007, para arrecadar fundos para sua campanha. Ron Paul é autor de um livro chamado End the Fed, que no título – Acabe com o Banco Central, na tradução literal – resume sua proposta, muito popular entre os integrantes da Tea Party. Segundo ele, o Banco Central americano é corrupto e inconstitucional e ameaça colocar os Estados Unidos em uma depressão inflacionária como a da República de Weimar, o período conturbado da história alemã que antecedeu a ascensão de Adolf Hitler.

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O Banco Central foi a principal ferramenta no plano iniciado por George W. Bush e continuado por Barack Obama, que salvou da falência companhias como a montadora General Motors, a seguradora AIG e inúmeros bancos. Em fevereiro de 2009 a Tea Party ganhou as ruas, depois que o apresentador da rede CNBC Rick Santelli convocou os descontentes com o plano econômico a fazer uma “Chicago Tea Party” contra Obama.

Outro candidato que ataca o Banco Central dos EUA é Mike Lee, favorito a uma vaga no Senado por Utah. Ele acusa o Fed de “monetizar a dívida” americana ao imprimir dólares para comprar títulos do governo. Irritado com o comportamento da instituição, ele prega o retorno do padrão ouro, sistema pelo qual o dinheiro dos governos era baseado na quantidade de ouro que eles dispunham. “Eu não ligo se é ouro, prata, platina ou cereal matinal”, disse ele segundo o jornal
The New York Times. “Tem que ser baseado em alguma coisa”, disse.

Nas relações internacionais, os candidatos da festa do chá também têm ideias complexas. Em agosto, Dan Maes, candidato republicano ao governo do Colorado, ganhou as manchetes ao criticar um programa de bicicletas públicas instaurado pelo prefeito de Denver, John Hickenlooper, que é seu concorrente na eleição ao governo. Segundo Maes, o programa é uma parte “muito bem disfarçada” de um plano de Hickenlooper para converter “Denver em uma comunidade das Nações Unidas”. Ao tentar explicar o comentário, Mães disse que se preocupava com a adequação do projeto das bicicletas à Constituição Estadual. Sharron Angle, que disputa uma vaga no Senado por Nevada com Harry Reid, o líder do governo Obama, vai mais longe. Em junho, ela defendeu a saída dos Estados Unidos das Nações Unidas pois a entidade é um “bastião de ideologia liberal e o juiz da ciência fraudulenta como o aquecimento global”.


Uma bandeira levantada por Angle e por quase todos os membros da Tea Party é a total privatização do sistema público de saúde. A reforma feita por Barack Obama para tentar promover saúde gratuita para a toda a população é altamente impopular nos Estados Unidos e seu impacto nas finanças do país ainda é desconhecido. Angle, novamente, foi além e sugeriu que toda a previdência social americana fosse migrada aos poucos para a iniciativa privada. Outra ideia radical de Angle é abolir o Departamento (ministério) de Educação, pois em sua opinião “a melhor educação é a controlada no nível mais local possível”.

Bob Brown / AP
PRECURSOR Ron Paul, autor do livro "Acabe com o Banco Central". Sua campanha foi a primeira a trazer à tona a Tea Party, ainda em 2007. Na foto, ele discursa em evento do grupo na Virgínia e o cartaz diz: "Socialismo não é legal"
No domingo passado, o candidato republicano ao governo do Estado de Nova York, Carl Paladino, apoiado pela Tea Party, teve um encontro com um grupo de judeus ortodoxos e discorreu sobre sua posição a respeito do casamento gay. “Eu acho que meus filhos e os seus filhos estariam muito melhor e teriam muito mais sucesso se casando e tendo filhos, e eu não quero que eles sofram uma lavagem cerebral para pensar que a homossexualidade é uma opção igualmente válida e de sucesso – não é”, disse. A declaração foi encarada como um ultraje aos gays e, no dia seguinte, Paladino participou de diversos programas de televisão para tentar explicar sua posição. Disse que não tinha problemas com os homossexuais, e que era apenas contra o casamento gay, mas afirmou que as paradas gays eram “nojentas” pois os homens ficavam “se esfregando”.

Polêmicas como a que envolveu Paladino se tornaram comuns diante do forte puritanismo que cerca os candidatos da Tea Party. O caso mais famoso é o de Christine O’Donnell, candidata ao Senado por Delaware. Após derrotar o deputado Michael Castle (preferido pelo partido) na primária republicana, em setembro, ela virou estrela e não demorou para entrar em uma imensa polêmica. Depois que um vídeo dos anos 1990, no qual ela dizia que a masturbação era pecado, virou hit na internet. Christine se apressou a afirmar que, se eleita, não regularia vida pessoal dos americanos. A candidata, assim como muitos colegas da Tea Party, é contra o aborto mesmo em casos de estupro e incesto. Mas Christine conseguiu chamar a atenção ao dizer que, em casos de risco para a mãe, a família deve decidir qual vida salvar – a da mãe ou a do feto.


No campo religioso, Obama também vira alvo dos partidários da festa do chá. Vários políticos propagam a teoria conspiratória de que o presidente dos Estados Unidos não nasceu no país e é muçulmano (Obama nasceu no Havaí e é cristão). O último deles foi Tim Walberg, que disputa uma vaga na Câmara dos Representantes pelo Estado do Michigan. Em um programa de rádio, em setembro, ao ser questionado sobre o tema por um ouvinte, ele disse "não ter certeza", pois "não há muitas informações a respeito desse presidente".


Como afirmou o próprio Barack Obama em uma recente entrevista à revista
Rolling Stone, é difícil definir o que é a Tea Party, pois o grupo ainda "está se definindo". Não há uma hierarquia formada e nem líderes eleitos, mas sim um movimento que desfruta de financiadores muito ricos, políticos de destaque e, principalmente, apoio popular. A proliferação de ideias polêmicas serviu para tornar o grupo conhecido, mas muitos de seus adeptos foram ridicularizados pela imprensa, tradicionalmente dominada por democratas. O resultado foi o fechamento de alguns eventos políticos do Tea Party para jornalistas e o expurgo de quem ultrapassa os limites da lei. O caso mais famoso é o de Mark Williams, um apresentador de rádio que liderava o "Expresso Tea Party". Depois de chamar Alá (Deus muçulmano) de deus-macaco – e posteriormente pedir desculpas aos hindus que veneram Hanuman, um legítimo Deus-macaco – ele publicou um post com tom racista em seu blog, o que provocou sua expulsão do grupo. Assim, mesmo em meio a polêmicas, a Tea Party vai crescendo. Segundo levantamento do jornal The New York Times, os candidatos apoiados pelo grupo podem conseguir até 33 vagas na Câmara dos Representantes e oito no Senado, suficiente para fazer suas vozes serem ouvidas ainda mais.
 
Fonte: R7

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