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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Os Hamburger: uma saga judaica de sete décadas, de Berlim a São Paulo



ESPECIAL


Para o encontro de família, eles vieram dos EUA, de Berlim e de Londres. E naturalmente estiveram presentes também os brasileiros. Para as famílias Hamburger e Liepmann, nenhum caminho é longo demais.


Charlotte Hamburger certamente teria gostado de presenciar essa cena: um encontro de todos os seus filhos, netos, bisnetos, sobrinhos e sobrinhas. Aproximadamente 50 pessoas, entre jovens e idosos, de três continentes, juntos por alguns dias para rir, conversar e festejar. Eles falam diversas línguas: português, inglês e alemão. E alguns estão se vendo pela primeira vez neste momento, em junho de 2012, no Brasil. Mais precisamente em São Paulo, na residência de Ernst Wolfgang Hamburger, e na casa de campo alugada pela família.

Raízes berlinenses

Ernst Wolfgang é o quarto e mais jovem filho de Charlotte Hamburger (1899-1977), cujo nome de solteira era Liepmann. Seu marido Hans Hamburger (1892-1953) nasceu em Berlim. No idílico loteamento Eichkamp, perto do bosque Grunewald, ele passou seus primeiros três anos de vida junto dos irmãos Hugo, Adelheid e Stefan. Em 1936, a família migrou para o Brasil. A decisão definitiva de deixar a Alemanha nazista foi tomada no dia 17 de dezembro de 1935. Naquele dia, às sete horas da manhã, tocou a campainha na residência da família Hamburger: era um oficial de Justiça, que entregava ao dono da casa a mensagem de sua demissão do cargo de diretor do Tribunal Regional e funcionário público – cargo que ocupava desde 1931.

"Naquele momento", lembraria Charlotte Hamburger anos mais tarde, "aconteceu alguma coisa no coração de Hans". Até então, seu marido, nascido em uma família judaica liberal e assimilada, nunca havia colocado em dúvida o fato de fazer parte da sociedade alemã. Por isso o advogado havia inclusive lutado em 1914 por sua pátria na Primeira Guerra Mundial, tendo pago um preço alto por seu patriotismo: em 1918, seu braço esquerdo teve que ser amputado por causa de um ferimento durante um combate na Bélgica. O braço direito ficou com sequelas e dificuldade de movimento.

Apesar dessas limitações graves, Hans Hamburger construiu uma existência, criou uma família e acreditava que os nazistas o poupariam de perseguições. Afinal, o presidente Paul von Hindenburg havia assegurado ao oficial inválido em função da guerra "a certeza da gratidão da pátria".
Ernst Wolfgang Hamburger e Doris Liepmann-Partan

No dia 17 de dezembro de 1935, porém, ao receber a carta de demissão do cargo que ocupava, Hans Hamburger perdeu de súbito seu amor pelo país. A partir daquele momento, ele e sua esposa começaram a planejar seriamente a emigração. Eram poucos os países abertos a imigrantes judeus. Amigos que já se encontravam no Brasil aconselharam a saída imediata da Alemanha, embora ainda tenha demorado nove meses até a família conseguir deixar o país a bordo do Cap Arcona com destino a Santos.

Saída rumo a uma nova vida

Em 1966, 13 anos depois da morte do marido, Charlotte Hamburger começou a escrever a história de sua vida a fim de deixar o registro para os filhos e netos. Para que eles tivessem uma ideia da vida judaica na Berlim daquela época e também para que soubessem dos medos e angústias por que passaram seus antepassados. E também para terem ciência do profundo amor da família pela Alemanha, bem como do alívio pela fuga bem sucedida.

"Pode parecer estranho que muitos de nossos amigos e conhecidos tenham se decidido pela emigração. Nossa ligação com a cultura e com a natureza alemãs eram demasiado profundas para que pudéssemos nos desvencilhar com facilidade. (… ) Era necessário ter força para julgar corretamente a situação política, para ver a verdade nua e crua, sem subterfúgios, e deixar tudo aquilo que conhecíamos. E era também preciso ter ousadia e um espírito empreendedor para construir uma nova existência no exterior", escreveu Charlotte Hamburger.

Por fim, os membros da família Hamburger chegaram à nova terra, onde encontraram amigos, emprego e uma nova vida. E tornaram-se brasileiros. Além disso, passaram a seus filhos muita coisa: sabedoria, talento e uma coesão familiar especial. Essa é inclusive uma das razões pelas quais foi organizado um encontro da família em junho de 2012.

Durante este encontro, muitos homens e mulheres, jovens e crianças, se debruçaram sobre a cópia de uma enorme árvore genealógica da família, que vai até o ano de 1799. Eles procuraram seus nomes, foram atrás das linhagens e confirmaram ligações entre pessoas de três regiões: do Brasil, da Europa e da América do Norte. Além de falarem também sobre outros assuntos, jogarem, fazerem juntos refeições e passeios. Ao observá-los, a impressão é de que eles se gostam muito. E de que todos, de alguma forma, têm orgulho desta família.

Autora: Silke Bartlick (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: DW.DE

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