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segunda-feira, 26 de julho de 2010

A insignificância dos indiferentes

Gramsci: Odeio os indiferentes


07/25/2010 14:10 Fonte: Pravda.ru








Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.











Antonio Gramsci

11 de Fevereiro de 1917

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar.

A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso.

Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis.














Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes.

Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir.

Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.

Primeira Edição: La Città Futura, 11-2-1917

Origem da presente Transcrição: Texto retirado do livro Convite à Leitura de Gramsci"

Tradução: Pedro Celso Uchôa Cavalcanti.

Transcrição de: Alexandre Linares para o Marxists Internet Archive

HTML de: Fernando A. S. Araújo

Direitos de Reprodução: Marxists Internet Archive ( marxists.org ), 2005. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License

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Bernard Shaw: É chegada a hora de os homens de bem terem o mesmo atrevimento dos canalhas - (catei do Cangablog)

Ficar na moita, ou, diante das ameaças e do perigo, portar-se como avestruz, escondendo a cabeça, é o mesmo que assumir a covardia, mostrar-se um zero à esquerda.

Para o povo, os desfibrados de nada valem. São insignificantes e um péssimo exemplo para gerações futuras. A cidadania só se reforça com participação e não com omissão, acomodação. Quem não soma, diminui-se. Quem soma, agiganta-se.

Um bebê com fome, ou molhado, ou sentindo alguma dor, berra a plenos pulmões.

Muitos cavalos e touros, quando sentem apertar-lhe a virilha ou os rins, pulam, buscam livrar-se do incômodo e da pressão indesejada, dão manotaços, coiceiam, dão marradas, até matam, se preciso. Não se cingem a aceitar, pacificamente, a injustiça.

Muitos humanos (se é que merecem ser assim considerados) adultos, ao seu turno, "comem merda", mas não se encorajam a esboçar a menor reação. Aceitam e engolem tudo, mesmo as imposições mais disparatadas. Não possuem dignidade, honra, brio, humanidade enfim. São como lesmas, vermes, ou até pior que eles.

Todos possuímos capacidade para mostrar descontentamento e raiva contra injustiças. É só vencer a timidez, o comodismo e/ou a covardia.

Seja em casa, seja na vida em coletividade (sentido mais amplo), aceitar injustiças, não reagir aos tidos como poderosos, que impõem planos, decisões absurdas, é ir longe demais na submissão.

Quem não é capaz de reagir sozinho, disponha-se, pelo menos, a buscar ajuda, a somar esforços.

Há por aí quem tem prazer em combater, em apontar soluções, em peitar a truculência. Procure e achará.

Não se intimide, não tema ser chamado de "negativo", pelo simples fato de dar combate persistente e destemido ao sistema estabelecido, se injusto.

Negativo mesmo é quem se omite, consente nas injustiças, na exploração, na intimidação, nas ameaças dos chamados poderosos, entre eles o próprio Estado e o "mercado", nos engodos, em promessas vazias, de religiosos, de políticos, de vendedores de quimeras.

Muitos poderosos já foram derrubados, destronados e eliminados, o que significa dizer que não eram tão poderosos quanto imaginavam.

O poder exercido com legitimidade e parcimônia, fruto de liderança autêntica e comprometida com os anseios populares, é necessário, mas todo aquele que se vale da intimidação, mesmo que camuflada como legalidade (e esta é a situação mais comum, pelo mundo afora) não merece apoio e sim combate ostensivo, ferrenho e incessante.

O ditador que não se esconde é pernicioso, mas o camuflado é pior ainda.

Não adianta ficar meditando ou rezando, cantando mantras, esperando que soluções caiam do céu, por milagre. Também não resolve nada ir para um campo de futebol e quebrar a canela do adversário, muitas vezes um vizinho e até um amigo. O inimigo não é o jogador do time adversário de futebol. O inimigo é o padre, o pastor, o lama, o político profissional, o que fala manso, vende ilusões e engessa consciências ou entretém os tolos com promessas delirantes de paraíso, céu, ou coisa que o valha. Eles, via de regra, forjam pessoas que se tornam verdadeiras nulidades, imprestáveis ao progresso da humanidade.

É preciso decidir-se, engajar-se, agir, protestar, "quebrar o pau", se necessário. Os tiranos (de casa, ou do governo) só respeitam quem os afronta, com denodo, mesmo que enfrentando riscos. Os riscos fazem parte do viver.

É muito importante ter paz, mas quando não se está sob o jugo asqueroso de qualquer tirano, declarado ou disfarçado. Quando a servidão é uma realidade, nenhum ser humano tem o direito de quedar-se quieto, conformado, como se já estivesse derrotado, sem nunca ter lutado, sequer.

Quando a natureza nos dota de astúcia, não é para enganarmos os outros, ou dominar outras espécies, mas para agir de modo a ajudar no crescimento da humanidade, tornando-a cada vez mais livre e feliz.

Quem passa pela terra como uma coisa qualquer, sem participação efetiva na construção de um mundo melhor, que não exige respeito, consigo próprio e com os outros seres humanos, deixando avantajar-se os "malandros", exploradores e tiranos, não pode dizer que viveu como gente. Não passa de um amontoado casual de moléculas.

É sempre melhor correr o risco de errar, quando se tenta acertar e melhorar a própria sorte e ao destino dos outros, do que simplesmente vegetar.

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