Se confirmado e comprovado o constrangimento sofrido pelo cidadão MARCO PAULO DOS SANTOS - eu escrevi "cidadão" de propósito, porque o STJ se diz o Tribunal da Cidadania - o ministro foi arrogante e turculento e deveria ser examinado por um psiquiatra, a bem do serviço público. Um "elemento" que se comporte de forma tão incondizente com a relevante função que ocupa, não pode ser mantido no cargo. Falta-lhe equilíbrio e capacidade de respeitar a cidadania.
De outro lado, por que teria ficado tão nervoso o tal magistrado? Estaria escondendo algum segredo escabroso, que temia pudesse ser conhecido pelo estudante?
Eu já passei por um episódio semelhante, com um magistrado chamado PEDROSA, então desembargador do TJ/SC, mas não baixei a cabeça para aquele velho safado não. Ele teve que engolir a acusação que fez a mim e a outros colegas da Biblioteca, quando outro desembargador (Marcílio Medeiros) nos devolveu os livros que Pedrosa nos acusava de apropriação.
Se MARCO PAULO puder provar o que sofreu, deve contratar um advogado e acionar esse ministro, que pensa ser todo poderoso, para haver indenização de danos morais, entre outros pedidos.
Prestará um serviço relevante à democracia, mesmo que, eventualmente, a ação seja julgada improcedente, por espírito de corpo. Se não tiver um advogado que patrocine a sua causa, procure-me, que o assistirei com muito prazer e como se tivesse sido eu a vítima da truculência. Detesto arrogantes e gente que abusa da função pública que exerce para tentar atropelar aqueles que pagam os seus proventos.
Eu iria à cata de antecedentes do ministro nas suas origens. Provavelmente, aquele ato não foi um procedimento isolado. Ele já deve ter agido de forma injusta com outras pessoas, antes do caso Marco Paulo.
Para completar: eu não acredito que os demais ministros do STJ consigam deixar - nem que seja no fundo das suas consciências - de reprovar a atitude tresloucada do Ari Paglender.
Vamos ver se os ministros do STF vão preferir passar a mão na cabeça do coleguinha ou aplicar-lhe o devido corretivo. Na magistratura, a maioria esmagadora é composta de gente séria. Casos como o do indivíduo aparentemente faltoso não são regra, mas seguramente uma exceção lamentável.
Vamos ver se os ministros do STF vão preferir passar a mão na cabeça do coleguinha ou aplicar-lhe o devido corretivo. Na magistratura, a maioria esmagadora é composta de gente séria. Casos como o do indivíduo aparentemente faltoso não são regra, mas seguramente uma exceção lamentável.
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A testemunha descreve
a cena tal qual a vítima fez constar no boletim de ocorrência. Por
volta das 16h do dia 19 de outubro, o estagiário, após entregar um
processo na seção de documentos administrativos, que fica no subsolo do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, dirigiu-se para a
agência do Banco do Brasil no complexo de prédios da corte a fim de
fazer um depósito por envelope para uma amiga. Vestindo camisa polo,
calça jeans e sapato social, foi informado por um funcionário da agência
de que em apenas um dos caixas eletrônicos poderia ser feita a
transação. Justamente aquele, em uso por um homem de terno e gravata,
aparentando 1,60 metro, que ele inicialmente não reconheceu. Postou-se
atrás de linha de espera, traçada no chão da agência. O diálogo que se
seguiu foi o seguinte:
- Quer sair daqui? Estou fazendo uma transação pessoal – disse o
senhor, após voltar-se duas ou três vezes para trás, “de forma um tanto
áspera”, como relataria o jovem, em seu português impecável.
- Senhor, eu estou atrás da linha de espera. – foi a resposta, “em tom
brando”, como contou, ou “de forma muito educada”, na confirmação da
testemunha.
- Vá fazer o que tem que fazer em outro lugar! – esbravejou o homem em frente ao caixa eletrônico.
- Mas, senhor, minha transação só pode ser feita neste caixa…
- Fora daqui! – o grito, a essa altura, chamou a atenção de pessoas que passavam e aguardavam na agência.
E foi completada pelo veredicto, aos brados:
- Eu sou Ari Pargendler, presidente deste tribunal. Você está demitido,
entendeu? Você está fora daqui, isto aqui acabou para você. De-mi-ti-do!
Assim terminou a carreira do estudante de administração Marco
Paulo dos Santos, de 24 anos, na segunda mais alta corte do País. Ele
entrara no STJ no início do ano, após passar por um processo seletivo do
Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), na capital federal, do qual
participaram mais de 200 candidatos. Marco ficou entre os dez
primeiros. Todos os dias, saía do apartamento onde mora com a mãe e o
irmão em Valparaíso de Goiás, cidade-satélite a 35 km de Brasília, e
levava uma hora de ônibus até chegar ao estágio. Dava expediente das 13h
às 19h, pelo que recebia R$ 600 por mês, mais R$ 8 por dia de
auxílio-transporte. Pouco importa. Martelo batido.
“Foi uma violência gratuita”, avalia a brasiliense Fabiane
Cadete, de 32 anos, que estava sentada com uma amiga na fila de cadeiras
ao lado dos caixas eletrônicos naquele dia. “Ele (Pargendler) gritava,
gesticulava e levantava o peito na direção do Marco.” Chamou-lhe
especialmente a atenção a diferença de estatura – literal, no caso – dos
dois protagonistas. Marco tem 1,83 metro. “O juiz puxou tanto o cordão
do crachá para ler o nome do menino, que as orelhas dele faziam assim,
ó”, mostra ela, empurrando as suas próprias como se fossem de abano.
Batalha difícil
Fabiane conta que ficou receosa antes de decidir depor em favor de
Marco – que, no dia seguinte, registrou queixa por “injúria real” contra
o presidente do STJ na 5ª delegacia da Polícia Civil do Distrito
Federal. Funcionária de uma empresa que presta serviços ao tribunal, ela
jura que nunca tinha visto Marco antes na vida, mas ainda assim se
dispôs a contar o que viu. A amiga, que tem mais anos de casa no STJ,
preferiu se preservar. “Eu não me sentiria em paz comigo mesma se não
falasse”, explica Fabiane, que cursa direito no Instituto de Educação
Superior de Brasília (Iesb). “Como futura advogada, fiquei decepcionada
com o ministro.”
Como Ari Pargendler só pode ser julgado em instância superior no
Judiciário, o delegado Laércio Rossetto encaminhou o caso ao Supremo
Tribunal Federal (STF), onde o processo corre em segredo de Justiça.
Remetido inicialmente para a ministra Ellen Gracie, esta se declarou
impedida por manter relações de amizade com Pargendler. Redistribuído
pelo presidente do Supremo, Cezar Peluso, caiu nas mãos do ministro
Celso de Mello, jurista que não tem por hábito “sentar em cima” dos
casos mais polêmicos.
O depoimento de Fabiane animou o até então cauteloso advogado de
Marco, preocupado em não expor seu cliente a uma contraofensiva
judicial. “Não tenho vocação nenhuma para Policarpo Quaresma”, diz
Antonielle Julio, que teve uma prévia das dificuldades que vai enfrentar
quando solicitou à gerência do Banco do Brasil no STJ as imagens do
circuito interno de segurança, que revelariam facilmente quem está com a
razão. Ouviu que o sistema apresentou falha técnica e “não há imagem
alguma”.
A Bíblia e os ‘policiais’
Marco Paulo dos Santos é negro, filho de brasileira com africano e
nascido na Grécia. Vista de perto, sua história de vida é tão espantosa
quanto o diálogo supostamente travado na agência bancária do STJ. Sua
mãe, a doméstica Joana D’Arc dos Santos, de 56 anos, natural de Raul
Soares (MG), passou como ele por um concurso que mudaria o rumo de sua
existência. Ainda solteira, na década de 80, leu um anúncio no jornal
Estado de Minas em que a esposa de um diplomata mineiro procurava uma
empregada para acompanhar a família em seu novo posto no exterior.
Quando chegou a Belo Horizonte para a entrevista, uma centena de
candidatas já havia passado pelo crivo da patroa, mas foi Joana quem
levou. “Ela agradou mais de mim”, conta, na construção típica da zona da
mata mineira.
Em Atenas, Joana conheceu o marinheiro cabo-verdiano José Manoel
da Graça, que trabalhava em um navio petroleiro. O namoro deslizava em
mar de rosas, quando o patrão recebeu ordens do Itamaraty para se
transferir para a Embaixada do Brasil no Chile. E lá se foi Joana D’Arc
de volta para a América. Mas, com banzo de seu africano, em pouco tempo
abandonava o emprego para voltar a sua odisseia grega. Amigou-se com
Manoel em Atenas e teve com ele dois filhos: Daniel David e Marco Paulo.
Cinco anos depois, foi a saudade do Brasil que bateu e Joana
embarcou de volta com os meninos. Primeiro, para Minas; depois,
Brasília. Manoel foi navegar outros mares. “Fiquei esperando, porque ele
nunca disse que não vinha. Os telefonemas foram rareando, só Natal,
aniversário… E Manoel acabou não vindo”, dá de ombros. Hoje, é com a
tormenta jurídica do caçula que ela se preocupa. “Sabe como é, a gente
foi criada no negócio do ‘deixa pra lá’. Mas ele decidiu assim, entrego
nas mãos de Deus.”
Em casa, o primogênito Daniel, hoje com 27 anos, é o voluntarioso
e bem-humorado. Já Marco sempre foi introvertido e responsável. A mãe
conta que, enquanto faxinava nas casas de família, o garoto dava um
jeito de se enfurnar na biblioteca dos patrões. “Sempre foi menino de
ler. Passava duas, três horas… eu até esquecia dele.” Daí a facilidade,
talvez, com que passou em todos os testes que fez até hoje, inclusive o
do Prouni – programa de bolsas de estudos do governo, que lhe permite
cursar administração no Iesb.
Evangélico, como toda a família, Marco traz sempre a Bíblia
debaixo do braço. E algum romance policial de Agatha Christie e Conan
Doyle. Mas também passeou por leituras mais substanciosas, como O
Príncipe, de Nicolau Maquiavel. “É uma aula de vida. Ele juntou todo o
conhecimento de como se governar, lidar com as pessoas, a política e o
poder. É muito útil para um administrador”, ensina o estagiário
defenestrado do STJ.
Na melodia do Supremo
Outro dos talentos de Marco é a música. Na igreja, deu seus
primeiros acordes. E logo conseguiu uma bolsa no tradicional Clube do
Choro de Brasília, onde estuda violão de sete cordas. O professor, o
instrumentista carioca Fernando César, de 40 anos, é só elogios: “Ele é
um cara supertranquilo, aplicado e musical. Lê muito bem partitura”.
Empreendedor precoce, escreveu e lançou em junho, por uma editora
evangélica, um método de ensino de violão para os fiéis sem condições de
pagar por um curso. Agora, ainda desempregado, dedica-se com mais
afinco à execução de clássicos como Vou Vivendo, de Pixinguinha, cujos
versos finais são: “Vou vivendo assim/ Porque o destino me fez um vadio/
Novo endereço ele vai traçar/ E virei para te avisar/ Quando à noite
uma toalha de estrela/ Tiver para me cobrir”.
Mesmo apreensiva, Joana D’Arc não esconde o orgulho pela coragem
do filho em enfrentar o presidente de uma das instituições mais
poderosas do País. “Antes de ir para a Grécia eu era um bicho assustado.
Achava que por ser negra e pobre era normal ser humilhada e maltratada.
Mas lá, a gente entrava num restaurante ou em qualquer lugar chique e
era recebido como todo mundo. Então, não deixei meus filhos crescerem
com esse pensamento meu.”
Procurado pela reportagem do Estadão para dar sua versão dos
fatos, o ministro Ari Pargendler disse por intermédio da assessoria que
não vai se manifestar. No telefone da corte, em chamada de espera,
ouve-se a seguinte mensagem: “Ter acesso rápido e fácil à Justiça é um
direito seu. STJ, o Tribunal da Cidadania”.
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