Waldir Pires admite envenenamento de João Goulart: "Fleury era um homem capaz de tudo"
O ex-ministro da Defesa Waldir Pires considera "plausível" o relato do ex-agente uruguaio Mario Barreiro sobre o envenenamento do ex-presidente João Goulart, no exílio argentino, em 1976. Consultor-geral da República no governo Jango, Waldir defende, em entrevista a Terra Magazine, uma apuração "profunda" do Ministério Público. "(o delegado) Sérgio Fleury era um homem capaz de tudo", avalia.
A ORDEM VEIO DE GEISEL
Em entrevista à Folha de S. Paulo, no último domingo, Barreiro declarou que a ordem de matar veio do governo Ernesto Geisel (1974-1979), através do delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), Sérgio Paranhos Fleury.
Baseada no depoimento do ex-agente da inteligência do Uruguai - preso no Rio Grande do Sul por roubo e formação de quadrilha - e nos rastros da Operação Condor, a família de Jango entrou com uma ação na Procuradoria Geral da República para apurar as denúncias de envenenamento do líder trabalhista.
Em conversa com a repórter Simone Iglesias, Barreiro declarou: "Fleury foi quem deu a palavra final. Em uma reunião no Uruguai, disse que Jango era um conspirador e que falaria com Geisel para dar um ponto final no assunto. Depois, em outra reunião no Uruguai, disse (...) que tinha conversado com Geisel dizendo que Jango estava complicando e que ele sabia o que deveria ser feito. E ele Geisel disse: 'Faça e não me diga mais nada sobre Goulart'".
TERRA MAGAZINE ENTREVISTA WALDIR PIRES
Waldir Pires analisa os detalhes narrados pelo uruguaio e relembra seu último encontro com Jango, na Argentina.
- Todos os detalhes são muito plausíveis, num quadro internacional que era mais ou menos grave na época. Eu fiquei muito preocupado com a natureza da denúncia e entendo que ela deve ser investigada profundamente.
LEIA A ÍNTEGRA:
TERRA MAGAZINE - Qual foi a impressão do senhor ao ler o relato do ex-agente uruguaio Mario Barreiro?
WALDIR PIRES - É uma coisa séria. Todos os detalhes são muito plausíveis, num quadro internacional que era mais ou menos grave na época. Eu fiquei muito preocupado com a natureza da denúncia e entendo que ela deve ser investigada profundamente, porque é um desses crimes internacionais que não se deve permitir.
TERRA MAGAZINE - O ex-agente uruguaio fala que a ordem veio do governo brasileiro.
WALDIR PIRES - Pois é, isso é uma coisa que está posta com muitos detalhes nas circunstâncias. E o comando do então dirigente do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), que era o Sérgio Fleury, um homem capaz de tudo. De modo que eu tenho a impressão de que o Ministério Público do Brasil deve aprofundar a investigação. Acho que é uma coisa importantíssima para a natureza mesmo das relações internacionais e para impedir um crime dessa natureza.
TERRA MAGAZINE - O senhor esteve com Jango logo no início do exílio?
WALDIR PIRES - Estive com Jango no início. E eu fui para São Borja (RS) no dia da morte dele. A família tinha comunicado ao João Vicente. Eu tinha estado anteriormente com o presidente no Uruguai, fui lá vê-lo, em Maldonado, em 1976. Fui fazer uma visita, no fim do primeiro semestre. Os filhos, João Vicente e Denise, estavam em Londres, ele tinha se tornado avô nessa ocasião.
TERRA MAGAZINE - Qual era o estado dele?
WALDIR PIRES - Bem, um desejo enorme de vir pro Brasil, enorme. Passei lá mais de 24 horas. Fiquei na fazenda, dormi na fazenda. Conversamos longamente.
TERRA MAGAZINE - Estava displicente com a saúde?
WALDIR PIRES - Isso ele sempre foi, né? (risos) Havia tido outros enfartes, inclusive um grande enfarte logo depois do golpe, em junho ou julho.
TERRA MAGAZINE - No exílio, o senhor teve informações sobre ameaças que chegavam ao ex-presidente?
WALDIR PIRES - Eu saí de lá logo em seguida, em 1965. Nenhum de nós tinha conseguido trabalho lá. Na nossa área, não era possível trabalhar. A única pessoa que tinha conseguido trabalho, em antropologia, foi Darcy (Ribeiro). Todos nós outros, que nos encontrávamos lá, eu, Almino (Affonso), Max da Costa Santos, Neiva Moreira, etc., nenhum de nós encontrou trabalho. Como eu tive cinco filhos (risos), eu me preocupava enormemente, a gente recebia ajuda de amigos, da família, pra sobreviver lá. Em 1965 eu fui pra França. Mas eu tinha com o presidente uma relação pessoal muito forte. Nós nos tornamos amigos no exílio. Anteriormente, ele era um companheiro político.
TERRA MAGAZINE - E o senhor, Consultor-geral da República.
WALDIR PIRES - Eu era consultor-geral da República, mas não tinha assim grande intimidade. Eu me tornei amigo de se ver três vezes por semana, na fase do exílio. Tinha filhos crianças e os filhos dele também eram crianças, e se tornaram amigos. Eles vinham muito pra cá, os meus pra lá.
TERRA MAGAZINE - Ele chegou a temer algum ato contra ele?
WALDIR PIRES - Nessa ocasião, a Operação Condor não tinha sido formada. Ela veio adiante. Tanto que, no Rio, quando eu soube da morte dele, fiquei sabendo que João Vicente estava chegando e nós fomos juntos. Eu e Darcy fomos para São Borja, esperar o corpo do presidente.
Que foram os últimos a sair do Palácio, em 1964.Os últimos a sair...
TERRA MAGAZINE - Com a vela na mão?
WALDIR PIRES - (Risos) Não chegou a isso. Darcy que falava. A vela era da imaginação do Darcy romancista. (Risos) Mas eu creio que é uma coisa que precisa se aprofundar. Porque o quadro era muito complicado. Você tinha visto aqueles episódios do Letelier, no Chile, um processo mesmo de eliminação física. No Uruguai também.
TERRA MAGAZINE - Para o senhor, há coerência no relato de Barreiro?
WALDIR PIRES - Olha, ele (Jango) era um pessoa displicente com a saúde, sem nenhuma dúvida. O médico queria muito que ele não fumasse, ele continuava fumando. Mesmo depois de ter tido um enfarte - o primeiro, no México, ainda como presidente. E teve o segundo no Uruguai, em 1964. Ele já tinha o histórico de cardíaco. Tanto que o que é um pouco indutivo é essa história de remédios, etc. É uma coisa que precisa apurar.
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ATUALIZAÇÃO:
A morte sem fim de Jango
por Flávia Ribeiro e Fabio Varsano
Depois de 31 anos da morte do ex-presidente no exílio, uma nova série de fatos renova as suspeitas de que ele teria sido vítima de uma conspiração militar. Documentos inéditos aos quais História teve acesso mostram como Jango era vigiado durante a ditadura. Além disso, as afirmações de que ele foi envenenado pela Operação Condor, feitas por um ex-agente do serviço secreto uruguaio, reabrem as discussões sobre a causa mortis registrada no atestado de óbito: “enfermedad”.
Aquele abafado domingo, 5 de dezembro de 1976, foi exaustivo para João Belchior Marques Goulart. Ele e a mulher, Maria Thereza, saíram no início da manhã de sua fazenda, a El Rincón, em Tacuarembó, no Uruguai, com destino a outra propriedade da família, a estância La Villa, em Mercedes, na Argentina. A viagem, de 600 quilômetros, começou a bordo do avião Cessna do casal. A primeira parada foi Bella Unión, na fronteira com a Argentina. De lá, eles cruzaram o rio Uruguai até Monte Caseros numa lancha de aluguel. Chegaram à cidade por volta das 10h30 e foram de carro, um Opel alemão, até Paso de los Libres. João dirigia, mas não parecia bem. “Olhei para ele e o achei estranho, como se passasse mal”, diz Maria Thereza. “Perguntei se queria que eu dirigisse um pouco, mas ele disse: ‘Não, minha filha, estou bem’.” Com o casal estavam Roberto Ulrich, que trabalhava para a família, e Alfredo, um adolescente engraxate que Goulart “adotou”. Todos almoçaram no hotel Alejandro I, lá pelas 13h. João Goulart, que havia reduzido o álcool por ordens médicas, bebeu água com gás e comeu carne. Às 16h, finalmente, chegaram a La Villa, sem imaginar que aquele seria o último dia de Jango, ex-presidente do Brasil deposto pelo Golpe de 1964 e que, desde então, vivia no exílio.
Naquela noite, Maria Thereza foi para o quarto mais cedo que o marido. João Goulart preferiu ficar conversando com o capataz Júlio Passos na ampla varanda da casa de quatro quartos e um banheiro, sede de uma fazenda de gado de 900 hectares. João tomou uma sopa, comeu um pouco de churrasco de ovelha e bebeu uma xícara de chá. Como de costume, é provável que tenha tomado seu comprimido para o coração. À 1 da manhã, foi dormir. O sono veio rápido. Maria Thereza, ao contrário, não conseguia adormecer por causa do barulho do vento. Ficou lendo uma revista. Apagou a luz e começou a ouvir um ronco estranho. Levantou, acendeu a luz e viu o marido respirando de maneira esquisita. “Comecei a gritar ‘Jango! Jango!’, mas ele já não respondia”, lembra. Júlio ouviu os gritos e, pensando que alguém havia invadido a casa, entrou no quarto e viu o patrão com as mãos no peito. Às 2h45, aos 57 anos, Jango estava morto.
Ulrich foi buscar em Corrientes, a 15 quilômetros, o médico argentino Ricardo Rafael Ferrari, recomendado por um fazendeiro conhecido da região. O clínico geral examinou o corpo em busca de sinais de violência e secreções na boca e nariz. Perguntou se a vítima tinha problema cardíaco, leu em um vidro a fórmula de um remédio para o coração e assinou o atestado de óbito: “Causa mortis: enfermedad”. Depois, seguiu para a delegacia local e relatou o fato para, segundo ele próprio contou a deputados brasileiros em 2000, evitar “a responsabilidade de ser o único a atestar essa morte”.
Amigos do ex-presidente ligaram de madrugada para o superintendente regional da Polícia Federal, coronel Solon D’Ávila, em Porto Alegre. Pediam autorização para que Jango fosse enterrado em sua cidade natal, São Borja, no Rio Grande do Sul, segundo o livro Segredos à Direita e à Esquerda na Ditadura Militar, do jornalista José Mitchell. O vice-presidente Adalberto Pereira dos Santos autorizou que o cadáver entrasse por terra. O ministro do Exército, Sylvio Frota, porém, determinou que o corpo viesse de avião, com medo de manifestações populares. Anos depois, em seu livro Ideais Traídos, Frota disse que a ordem de proibir a entrada do corpo por terra partira do presidente Ernesto Geisel – embora este tenha dito no livro A Ditadura Encurralada que permitiu “que o corpo entrasse por Uruguaiana”. Ao fim do imbróglio político (que mais tarde ocasionou até mesmo um Inquérito Policial Militar), o corpo de Jango entrou no Brasil por terra. Mais de 30 mil pessoas tiveram que esperar a chegada dos dois filhos do casal, João Vicente e Denize, que vinham de Londres. A filha ainda teve tempo de estender sobre o caixão uma faixa com uma única palavra em vermelho: “Anistia”.
AS SUSPEITAS
Na época, apesar de saber que Jango era encarado como inimigo pelos regimes militares, a família não imaginava outra razão para a morte que não problemas de saúde. Em 1969, ele infartou no Uruguai, foi submetido a um cateterismo e passou a tomar remédios para o coração. Em setembro de 1976, esteve na Europa para conhecer o neto mais velho, Christopher, e se consultara com o professor Fremont (não há registro do nome completo do médico), do Instituto de Cardiologia de Lyon, na França. Tomava diariamente um remédio sublingual – vasodilatadores que variavam entre Isordil ou Carangor, comprados em farmácias comuns – e outro cujo nome ninguém da família se recorda, que era encomendado em farmácias da França e que vinha por correio para Buenos Aires.
Goulart tinha ordens médicas para emagrecer, parar de fumar e de beber. Trocou o uísque quase diário por doses moderadas de vinho e fez uma dieta na qual evitava pão e massa. Mas não ficava livre de outros excessos. “No café-da-manhã, comia um bife com ovo frito todos os dias”, lembra a viúva. “Ele comprou o livro da dieta do Dr. Atkins. Anos depois, eu soube que aquele regime é uma bomba para quem tem colesterol alto”, diz, referindo-se à dieta à base de proteínas e gorduras criada pelo médico americano Robert Atkins. Jango perdeu, segundo ele próprio escreveu para o filho, 11 quilos em três meses, mas não abandonou os dois maços de cigarro por dia. Fumava Nevada no Uruguai, Jockey Club na Argentina e Marlboro na Europa.
O assunto estava sepultado até 1982, quando a Justiça argentina pediu a exumação do corpo após uma denúncia de que Jango teria sido morto. A acusação foi feita por Enrique Foch Díaz, que conhecera o ex-presidente quando vendeu a ele uma fazenda de gado. Díaz, que escreveu depois o livro João Goulart: El Crimen Perfecto, acusava Maria Thereza, o ex-governador de Brasília Ivo Magalhães (antigo sócio de Jango) e o ex-deputado pernambucano Cláudio Braga (que administrava o escritório argentino do ex-presidente) de participação no crime. Para Díaz, os três queriam ficar com os bens de Jango, que teria sido envenenado com sarin, colocado em seus medicamentos.
O juiz responsável pelo caso o arquivou por falta de provas. Díaz foi processado por difamação por Braga e condenado a sete meses de prisão em 2002. Suas teses foram descartadas. Ele não cumpriu a pena porque tinha mais de 80 anos. Seu livro foi retirado das lojas. “As denúncias tinham o único interesse de vender a publicação”, diz João Vicente. Por isso, a família não autorizou a exumação. Segundo o filho, não havia condições políticas: “Entendemos que seria uma aventura fazer uma investigação desse tipo sem termos o apoio necessário dos governos envolvidos”.
De qualquer forma, a denúncia de Díaz (que morreu em 2005) serviu para levantar a lebre. Uma Comissão Externa da Câmara Federal foi aberta em 2000 para apurar os fatos a pedido do deputado Miro Teixeira, do PDT (partido fundado por Leonel Brizola, cunhado de Jango). A família acredita agora que a morte chegou a Jango no formato de um comprimido. “Na época, não pensava em assassinato do meu pai. Agora já não sei, quero saber o que realmente aconteceu”, fala Denize. “Hoje, creio que meu pai foi assassinado por um grupo envolvendo o serviço secreto brasileiro [órgãos de informação como o Serviço Nacional de Inteligência, o SNI, e o Departamento de Ordem Política e Social, o Dops] em coordenação com atividades de inteligência clandestinas uruguaias e argentinas. Eu não tinha provas. Agora temos a prova viva, que é o Neira Barreiro”, acredita João Vicente.
AS EVIDÊNCIAS
Mário Neira Barreiro é um presidiário de 54 anos, detido desde 2003 na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, por assalto a banco e tráfico de armas, crimes cometidos no Brasil. Mas, sob o codinome Tenente Tamuz, pertenceu ao grupo Gama, do serviço de inteligência uruguaio. Ele diz que, de 1973 até o dia da morte de Jango, vigiou o ex-presidente 24 horas por dia. Em depoimento gravado por João Vicente no fim de 2006, Neira disse mais: no meio dos comprimidos do frasco de remédio que vinha da França, foi colocada uma cápsula com um hipertensor que continha, em sua fórmula, potássio e um cloreto desidratado num esterilizador.
“Conseguimos colocar um comprimido naqueles remédios que eram importados, que vinham da França, e estavam com o gerente do hotel Liberty. Ele era amigo de Jango (...) e nós colocamos uma pessoa para trabalhar no hotel, que se chamava Heitor Rodríguez. O Heitor Rodríguez, que chamávamos Heitor Liberty, roubou os remédios de uma caixa que tinha uma trava, uma espécie de cofre forte do hotel. Ele pegou da gerência e deu para nós, e o doutor Carlos Milles fez a colocação de um comprimido em cada êmbolo”, disse. Milles seria um legista uruguaio que já teria outros casos de envenenamento em seu currículo e foi morto, conforme conta Neira Barreiro, como queima de arquivo.
O uruguaio afirma que o assassinato de Jango foi ordenado pelo temido delegado Sérgio Fleury, do Dops de São Paulo, numa reunião em Montevidéu. Este, por sua vez, de acordo com Neira, estaria seguindo uma ordem de Geisel. Não há prova de que Fleury tenha mandado matar Jango. Mas ele participou de reuniões em Montevidéu. “As ligações da repressão brasileira com outros países motivaram Fleury a promover vários contatos, principalmente para saber se havia brasileiros no Uruguai que interessariam aos militares brasileiros e ao Dops”, diz o jornalista Percival de Souza, autor de Autópsia do Medo, biografia de Fleury. Segundo ele, no entanto, a articulação anti-Jango era de âmbito militar.
Neira Barreiro diz ter provas de toda a trama, mas não as exibe. Entrevistado pelos jornalistas Carlos Heitor Cony e Anna Lee para o livro O Beijo da Morte, prometeu entregar gravações de conversas de Goulart, provando que o vigiava, mas forneceu endereços falsos do local onde as fitas estariam. Há contradições em seus depoimentos e entrevistas. À Comissão Externa da Câmara, declarou que o frasco importado da França havia sido trocado. Para João Vicente, disse que uma cápsula foi incluída. Em uma entrevista no fim de janeiro para o jornal Folha de S.Paulo, ele afirmou que vários comprimidos foram misturados a diversos frascos.
Apesar da desconfiança, os detalhes do cotidiano de Jango, descritos por ele, espantam a família. Barreiro, por exemplo, sabia a data da última carta enviada pelo político ao filho, 9 de novembro de 1976, e que no texto o ex-presidente comentava o preço do uísque. “Ele sabia de toda a nossa vida, dos nomes dos empregados, da rotina, de tudo. Isso me deixou com dúvidas sobre como meu marido morreu”, diz Maria Thereza. “Ele também cita os números dos telefones da nossa fazenda em Maldonado e da casa de Montevidéu, sabe de cor. Nem eu lembrava isso. Descreve o encontro do meu pai com os embaixadores da Argentina e da Líbia”, diz João Vicente.
Outro fato, com provas: Jango era realmente vigiado. Fotos que estavam nos arquivos do antigo SNI foram entregues a João Vicente em 2006 pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff – em 2005, o presidente Lula assinou o decreto 5584/05, que autoriza a liberação de documentos contendo informações de investigações feitas entre 1964 e 1985 pelo SNI, pela Comissão Geral de Investigações e pela Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional. As fotos são parte de mais de 7 mil documentos até então secretos e mostram Goulart festejando seus 56 anos, em 1975, com amigos. Todos numerados e identificados, provando que o aparato de inteligência brasileiro o vigiava.
Entre os novos documentos há relatórios detalhados, que reproduzem a rotina e diálogos de Jango. “Até agora, só analisamos cerca de um quinto da documentação entregue. Mas já há indícios que apontam para o assassinato do ex-presidente”, diz o historiador Oswaldo Munteal Filho, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), responsável pela análise e catalogação do arquivo no Instituto João Goulart. “Ainda não posso revelar os documentos porque é preciso analisar tudo antes.”
AS AMEAÇAS
Além de vigiado, Goulart era ameaçado. Seu escritório em Buenos Aires foi invadido numa ação que, acredita-se, visava o seqüestro de Jango. Mas o imóvel estava vazio. A família recebia telefonemas anônimos que anunciavam que ele seria o próximo. “Eu me cansei de atender essas ligações. Uma vez ouvi de um homem: ‘Sai daí porque daqui a pouco nós vamos chegar e levar você e seus filhos. Sabe para onde? Para o fim do mundo!’ Eu não saí, a toda hora recebia ameaça”, lembra Maria Thereza. O clima de terror atingia a todos próximos a Jango. “Fui ao hotel Liberty, onde ele se hospedava em Buenos Aires, e funcionários me contaram que quando ele ia ligar o carro todos se afastavam. Tinham medo de bomba”, diz Silvio Tendler, diretor do documentário Jango, de 1984.
Na época, influentes políticos sofreram atentados, em ações atribuídas hoje à Operação Condor, acordo entre as ditaduras do Cone Sul para a troca de informações sobre inimigos do regime. “Tudo faz crer que ele era também alvo da Condor, embora não conheça nenhum documento que fale no nome dele. Quando estive com Goulart em Buenos Aires e Punta del Este, em 1975, existia o receio de que ele pudesse ser assassinado. Mas, naquele tempo, não se conhecia exatamente o que era essa operação”, diz o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, autor de O Governo João Goulart.
Antes da morte do marido, Maria Thereza foi detida diversas vezes. Em 1973, João Vicente ficou três dias preso num quartel uruguaio, com 32 colegas do Liceu Departamental de Maldonado, todos suspeitos de integrar o movimento estudantil. O cerco parecia se fechar. Um ano antes da morte de Jango, em 1975, um grupo de extrema-direita foi preso em Mar del Plata e descobriu-se um plano para seqüestrar os filhos de Jango, como noticiaram jornais argentinos. O ex-presidente resolveu, então, mandar João Vicente para Londres no fim daquele ano. Denize seguiu em meados de 1976.
O próprio Goulart pensava em se mudar para Paris, enquanto sonhava com a volta ao Brasil. Segundo a família e os documentos do SNI, estava triste e isolado. Mas a hipótese de sua volta era encarada como ameaça pela linha-dura militar. Em 10 de setembro de 1976, ao receber um radiograma no qual se falava da tentativa de Jango regressar ao Brasil, o ministro Sylvio Frota mandou uma ordem ao Departamento Geral de Investigações Especiais da Secretaria de Segurança Pública do Rio, decretando: “João Goulart deverá ser imediatamente preso e conduzido ao quartel da PM, onde ficará em rigorosa incomunicabilidade à disposição da Polícia Federal”. O jornalista José Mitchell relata em seu livro que, apenas seis dias antes de morrer, Jango tentara articular sua volta ao Brasil, na marra. Mas a morte o deteve.
Exilado no Uruguai em 1976, o ex-deputado federal Neiva Moreira relatou à Comissão da Câmara que um diplomata, cujo nome ele não deu, o havia procurado para falar sobre ameaças. “Disse-me: ‘Neiva, a situação se agravou consideravelmente. Agora há listas de matar’”, contou o político. E completou: “O presidente João Goulart estava em quarto lugar”. Neiva disse que avisou Goulart, através de um amigo comum. Na relação, o ex-presidente figurava atrás do general chileno Carlos Prats, do ex-presidente boliviano Juan Torres e do senador argentino Wilson Ferreira Aldunate. Os dois primeiros foram mortos e o terceiro fugiu para o Peru. Isabel Letelier, viúva do ex-chanceler chileno Orlando Letelier, foi outra que contou a Jango que ele estaria marcado para morrer. “Estive com ela em 1982, nos Estados Unidos. Isabel me disse que avisou várias pessoas de uma lista de condenados, inclusive a João Goulart”, lembra Silvio Tendler.
AS PERGUNTAS
Entre as afirmações feitas por Neira Barreiro que intrigam a família Goulart, uma diz respeito à autópsia: segundo o uruguaio, havia uma ordem para que o corpo de Jango não fosse examinado nas primeiras 48 horas após a morte, sob risco de o veneno usado ser descoberto. Até hoje nunca surgiu um documento comprovando essa determinação. Mas, para João Vicente, a ordem explicaria a ausência de autópsia. Na época a família não se deu conta da importância do exame.
O caixão sequer foi aberto, a não ser por breves minutos, já em São Borja, como depôs o ginecologista Odil Rubim Pereira à Câmara dos Deputados. Amigo da família, o médico foi talvez a última pessoa a ter contato com o cadáver, no velório. “Me mostraram o corpo, que, naquele momento, expelia alguns líquidos, fluidos, por meio dos orifícios oral e nasal. Fizemos um tamponamento com gazes e algodão, o que tínhamos no momento”, contou.
A ausência de autópsia também contrariava a lei. Segundo Genival Veloso de França, professor de Medicina Legal da Universidade Federal da Paraíba, uma resolução de 1941 do Conselho Federal de Medicina determina (até hoje) que toda pessoa que morra fora do hospital ou sem acompanhamento médico deve ser autopsiada. Se isso não acontecer, como foi o caso de Jango, um inquérito criminal pode ser aberto. “No Código Internacional de Causa de Morte e Doenças não existe a classificação ‘enfermidade’. Naquela época, o código já existia e essa orientação também. O certo seria, quando o corpo chegasse ao Brasil, devolver o atestado e fazer a necropsia.” Ricardo Ferrari, o médico que assinou o óbito, morreu em 2002. Foi atropelado por uma motocicleta na cidade de Mercedes.
O corpo de Jango, que não foi autopsiado, também não será exumado. Pelo menos por enquanto. “Só vou permitir a exumação quando me garantirem que os venenos podem ser detectados depois de tanto tempo”, diz João Vicente. Em 8 de novembro do ano passado, a família pediu que a Procuradoria-Geral da República investigasse o caso. Em janeiro, o procurador Antonio Fernando Souza determinou que o Ministério Público do Rio Grande do Sul apure as denúncias de Neira Barreiro.
A Comissão Externa da Câmara terminou em outubro de 2001. Sem conclusões. Agora há chance de uma nova comissão ser aberta, diz o deputado Miro Teixeira. “São circunstâncias misteriosas numa época em que houve assassinatos de pessoas relevantes no cenário político latino-americano. Mas tudo deve ser analisado com cuidado, porque esse é o tipo de história que atrai todo tipo de gente”, afirma Miro. “A morte de João Goulart é que nem a de John Kennedy: toda hora aparece um fato que justifica uma nova investigação.”
“Na época não pensava em assassinato. Agora já não sei, quero saber o que aconteceu.”
“Ele sabia de toda nossa vida, da rotina. Isso me deixou com dúvidas sobre como meu marido morreu.”
Maria Thereza, viúva, sobre Neira Barreiro
“Só permito a exumação quando me garantirem que os componentes podem ser detectados.”
João Vicente, filho de João Goulart
“Conseguimos colocar um comprimido nos remédios que eram importados.”
Mário Neira Barreiro, ex-agente secreto uruguaio
“Tudo faz crer que ele era também alvo da Condor, embora não conheça documento que fale no nome dele.”
Trechos da carta*
“Um apertado e afetuoso abraço no herdeiro, nosso Christopher... que continua comendo e engordando... Isso é signal de ânimo e saúde”
“P. del Este, tudo mais caro que Londres... Cigarros, 5 pesos; um almoço, 30-40... um whiski, 12 (faz um mês, desde q cheguei, q não tenho essa despesa, pois estou em rigoroso tratamento por mim mesmo prescrito)”
“De 96 quilos (...), estou agora com 85. Nada de massa, de assucar e de álcool. Por enquanto vou me aguentando, c/ fome, porém espiritualmente melhor”
“Expectativa de grande temporada... Mta. animação... pouco dinheiro... e mais esperanças”
*Foi mantida a grafia original
Por que Jango preocupava?
Mesmo há mais de dez anos no exílio, o ex-presidente era popular
Qual o interesse do governo militar em monitorar os passos de João Goulart no exílio? “Em 1976, ele ainda era tremendamente popular. A população não esquecia sua atuação como ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, em 1953. Além disso, ele sempre seria o homem que foi deposto pela ditadura. Enquanto estivesse vivo, Jango seria um monstro que assombrava o regime”, diz o historiador Luiz Carlos Rodrigues, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O historiador Jorge Ferreira, da Universidade Federal Fluminense, lembra que Jango morreu apenas quatro meses depois de Juscelino Kubitschek. Em maio de 1977, seria a vez de Carlos Lacerda – dez anos antes, os três haviam organizado a Frente Ampla, que lutava pela redemocratização do país. “A primeira reunião da Operação Condor foi em outubro de 1975. Após isso, várias pessoas incômodas ao regime morreram.” Já para Marco Antonio Villa, professor de História da Universidade Federal de São Carlos, Jango era menos importante para o Brasil do que para o regime militar que se instalou no Uruguai em 1973. “Jango foi mais vigiado pela ditadura uruguaia do que pela brasileira. Ao contrário de Brizola, que ainda mantinha atividade política“, diz.
Ação de longo prazo
Um comprimido de cloreto de potássio é pouco para matar
O cloreto de potássio, veneno que supostamente teria matado Jango, não seria detectado se uma exumação fosse feita hoje. “Depois de tanto tempo, apenas uma intoxicação provocada por metais pesados, como arsênio ou chumbo, seria caracterizada”, afirma a professora de Toxicologia Alice Chasin, especialista em Toxicologia Forense. Segundo ela, sob a forma de comprimido, o suposto assassinato só teria ocorrido se Jango ingerisse muitas cápsulas do composto – e não apenas uma. “Via oral, os comprimidos gerariam uma hipertensão em alguém hipertenso. É como se ele tivesse consumido muito sal.” Segundo Alice, o sarin tampouco seria detectado numa exumação. A professora afirma que quase todos os venenos podem ser descobertos em uma autópsia ou exumação – desde que esta seja feita logo após a morte.
Ave de rapina
O que é Operação Condor
Instituída em 1975, a Operação Condor era uma aliança entre órgãos de repressão política do Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil. O objetivo inicial de troca de informações ampliou-se: a Condor passou a prender, torturar e matar os inimigos. Políticos influentes teriam sido mortos por ela. Em dezembro, um juiz italiano condenou à prisão 140 envolvidos, dos quais 13 brasileiros. Entre eles, o ex-presidente João Figueiredo.
Carlos Prats
Aliado do ex-presidente chileno Salvador Allende, Prats foi morto em setembro de 1974, em Buenos Aires. Uma bomba foi deixada em seu carro.
Hector Gutierrez Ruiz e Zelmar Michelini
O senador Michelini e o deputado Gutierrez, uruguaios exilados em Buenos Aires, foram seqüestrados e mortos em maio de 1976.
Juan José Torres
Presidente deposto da Bolívia em 1971, estava exilado na Argentina quando, em junho de 1976, foi morto a tiros a 100 km de Buenos Aires.
Orlando Letelier
Ex-chanceler do presidente chileno de esquerda Salvador Allende, estava exilado em Washington, nos Estados Unidos. Uma bomba explodiu quando estava em seu carro, com a secretária, em setembro de 1976.
Indenização americana
Família culpa CIA por financiar opositores de Jango e ajudar sua deposição
Além do pedido de abertura de investigação da morte de Jango, sua família trava outra batalha nos tribunais: querem responsabilizar o governo dos Estados Unidos por prejuízos causados a eles pelo golpe militar de 1964 e pelos anos de exílio. O valor da indenização pretendida é de 3 bilhões de reais por danos morais e de imagem mais 496 milhões de reais por perdas materiais. A decisão de entrar com a ação surgiu em 2002, após Lincoln Gordon, embaixador americano durante o período do governo Goulart, admitir em entrevistas que a CIA, a agência de inteligência americana, havia repassado clandestinamente 5 milhões de dólares a opositores de Jango nas eleições parlamentares de 1962. A família sustenta que o apoio dos Estados Unidos foi fundamental para a deposição de Jango. O caso está agora no Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Caso a Justiça brasileira nos negue o direito de citar o governo americano, vamos ao Tribunal de Haia”, afirma João Vicente, referindo-se à Corte Internacional de Justiça.
Saiba mais
Livro
Dossiê Brasil – As Histórias por Trás da História do Brasil, Geneton Moraes Neto, Objetiva, 1997
Traz revelações, baseadas em entrevistas e relatos confidenciais, sobre a deposição e o exílio de João Goulart.CÂMARA VAI INVESTIGAR MORTE DE JOÃO GOULART – por mário coelho18
ago
Comissão de Direitos Humanos decide requisitar documentos dos serviços secretos das ditaduras do Brasil, da Argentina, do Chile e do Uruguai. Ex-agente uruguaio confirma denúncia de que ex-presidente foi assassinado a mando de generais brasileiros
Ex-presidente João Goulart morreu em 6 de dezembro de 1976
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara vai requisitar documentos dos serviços secretos do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Chile sobre a Operação Condor. A intenção dos deputados é descobrir detalhes que joguem luz sobre a morte do ex-presidente João Goulart em 6 de dezembro de 1976. O motivo do requerimento foi o depoimento prestado na última sexta-feira (7) a integrantes do colegiado pelo ex-agente do serviço secreto uruguaio Mario Neiva Barreto, que reafirmou que Jango foi assassinado a mando dos generais brasileiros.
O presidente da comissão, Luiz Couto (PT-PB), e os deputados Pompeo de Mattos (PDT-RS) e Domingos Dutra (PT-MA) estiveram no Rio Grande do Sul para colher o depoimento de Barreto. Por aproximadamente três horas, eles ouviram do ex-agente um extenso relato sobre as circunstâncias da morte do ex-presidente. “Foi uma conversa longa. O tema é muito complexo e envolve uma série de ações daqui pra frente”, avaliou Domingos Dutra.
De acordo com o ex-agente, aproximadamente 20 dias antes da morte de Jango houve uma reunião com a presença de integrantes dos serviços secretos dos quatro países, além de um representante norte-americano e do então chefe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo, Sérgio Paranhos Fleury. Nesse encontro, ainda segundo relato do uruguaio, ficou decidido como seria o assassinato de Jango: por meio de uma overdose de medicamentos.
Os deputados que ouviram o ex-agente acreditam que é necessário buscar provas físicas para comprovar as declarações de Barreto. Oficialmente, Jango morreu vítima de um ataque cardíaco no município argentino de Mercedes. Por conta da ditadura militar da época, não houve necropsia no corpo do ex-presidente. Somente foi emitido um laudo médico.
Ao viajar para Charqueadas, na região metropolitana de Porto Alegre, os deputados queriam de Barreto a confirmação das declarações dadas por ele ao jornal Folha de S. Paulo em 27 de janeiro de 2008. Na época, ele disse que João Goulart foi envenenado por ordem de Sérgio Fleury, com autorização do presidente da época, Ernesto Geisel (1908-1996). Com a confirmação da acusação e os detalhes fornecidos, a comissão pretende montar, a partir desta semana, um plano de trabalho para continuar as investigações.
Junto com o pedido de documentos que estejam disponíveis e não tenham sido destruídos, os deputados querem apoio da Câmara na continuidade das investigações. “Precisamos que a Câmara nos dê condições de investigar”, antecipou Dutra. O petista diz que, se o Parlamento der suporte à Comissão de Direitos Humanos, a apuração pode ser aprofundada.
Provas físicas
A principal preocupação dos deputados é com a falta de provas físicas. De acordo com Barreto, o medicamento que teria causado a morte de Jango não deixaria vestígio por muitos anos no sistema sanguíneo. Mesmo assim, Dutra não descarta a possibilidade de a comissão pedir uma exumação do corpo do ex-presidente. “Apesar das declarações, sem uma prova técnica fica meio complicado fazer uma acusação”, disse o maranhense.
“Por isso, a necessidade dos documentos”, reforçou Pompeo de Mattos. Entre os primeiros arquivos a serem vasculhados pela comissão estão os papeis do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), entidade criada pelo governo brasileiro em 1969 para coordenar e integrar as ações dos órgãos de combate às organizações armadas de esquerda. “Segundo Barreto, o Dops e o DOI-CODI eram constantemente informados de todos os detalhes da operação”, relatou o deputado gaúcho.
Golpe
Com o golpe militar de 31 de março de 1964, Jango exilou-se no Uruguai e mais tarde na Argentina. No dia 2 de abril, o Congresso Nacional declarou a vacância de João Goulart no cargo de presidente, entregando o cargo de chefe da nação ao então presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli. Dez dias após o golpe, João Goulart teve seus direitos políticos cassados por dez anos, com a publicação do Ato Institucional Número Um (AI-1).
A morte de Jango, assim como a do ex-presidente Juscelino Kubitschek, vive cercada de dúvidas até hoje. Tanto que, em julho de 2008, uma comissão especial da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul divulgou um relatório afirmando que “são fortes os indícios de que Jango foi assassinado de forma premeditada, com o conhecimento do governo Geisel”.
Entre as sugestões dadas pelos deputados estaduais gaúchos, estava a requisição de informações do médico brasileiro que, segundo o ex-agente uruguaio, participou de reuniões de trabalho com um colega uruguaio para a preparação do composto químico que, na versão dele, matou o ex-presidente Goulart. A comissão da Assembleia do Rio Grande do Sul também recomendou que fosse ouvido o hoje senador Romeu Tuma (PTB-SP), ex-integrante do Dops que, segundo os deputados estaduais, seguiu os passos de Jango no exílio na França. “Algumas pessoas citadas por Barreto ainda estão vivas. Vamos atrás delas para solicitar informações”, antecipou Mattos.
A Operação Condor, da qual a Comissão de Direitos Humanos pretende buscar documentos, consistiu numa aliança político-militar entre os regimes militares do Brasil, da Argentina, do Chile, da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai para coordenar a repressão a opositores dessas ditaduras na América do Sul. Uma das ações do movimento foi o sequestro de filhos de presos e perseguidos políticos nas décadas de 1970 e 1980.
Fonte: http://www.institutojoaogoulart.org.br/
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ATUALIZAÇÃO II
A Igreja Católica figurou entre os mais ferrenhos inimigos do Presidente Goulart, que ajudou a depor e pode perfeitamente ter se envolvido numa trama para eventual envenenamento. A hidra papista (como a denominava Calvino) já demonstrou falta de escrúpulos em incontáveis momentos da história da humanidade e, grande proprietária de terras no Brasil e em outros países da América do Sul, tinha interesse em derrubar e eliminar um político que pregava reformas sociais. Vejam o artigo abaixo:
Igreja Católica: peça fundamental na queda de Jango
Adriano Couto
Pe. Peyton
O clero conservador acreditava que as reformas levariam o Brasil ao comunismo. Naquele tempo, o fantasma do “comunismo ateu” espantava a sociedade brasileira, e claro, já era esperado este posicionamento da igreja, pois esta sempre manteve uma aliança tradicional com as classes dominantes.
A Igreja Católica colaborou ativamente com o governo norte-americano na execução da Operação Condor que assolou a América Latina nos anos 60, derrubando governos legítimos eleitos pelo povo, instaurando um período de horror em nossa história, no qual morreram milhares de inocentes, consolidando as pretensões norte-americanas no continente, tudo em nome da “moral e dos bons costumes” que seriam destruídos pelo “demônio do comunismo”
A campanha religiosa contra o governo foi desencadeada pelo Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara. Na sua cruzada anticomunista, ele trouxe das Filipinas, o Pe. Patrick Peyton, que, sabe-se hoje, ERA AGENTE DA CIA, um especialista em “levantar” as massas católicas contra o “comunismo ateu”, em nome da Virgem Maria.
Antes de ser desmascarado, o padre da CIA promoveu grandes concentrações. Ao ser desmoralizado, já tinha completado o seu trabalho e lançado a estrutura da célebre Marcha da Família com Deus pela Liberdade que contou com a participação de 500 mil pessoas com terços empunhados nas mãos, onde “faziam uma marcha de desagravo ao Santo Rosário pelas ofensas que tinham constituído as palavras de Goulart, na Guanabara.”
Alguns dias depois da realização desta marcha e de outras concentrações não menos numerosas em outras cidades do país, o governo caiu. “Em uma destas marchas, por exemplo, promovida pela Cruzada pelo Rosário em Família, estava o governador de São Paulo Ademar de Barros com um terço nas mãos, onde rezava em desagravo à Virgem, maculado pelo “comunismo ateu” dos reformistas” (além de idolatria, quanta alienação... misericórdia).
O tom religioso da manifestação política ficava assegurado pela presença de representantes da Cruzada pelo Rosário em Família, da Confederação Católica do Arcebispado do Rio de Janeiro, da Associação dos Antigos Alunos do Sagrado Coração de Jesus e do Grupo de Reabilitação do Rosário.
Logo após o golpe, difundiram-se os chamados “Cursilhos da Cristandade”. Abusando da boa-fé de uns e do cinismo de outros, em nome do “Chefão” (apelido que deram a Jesus Cristo), os cursilhos – encontros com origem na Espanha, em 1948, destinado a orientar católicos adultos leigos acerca dos fatos da fé cristã – cumpriram um papel de aglutinação ideológica com um toque de lavagem cerebral. Agregavam pessoas com liderança na sociedade, principalmente na classe média alta. Difundiam uma postura dita cristã, de respeito à ordem e de solidariedade aos seus iguais, ou seja, os que estavam no poder ditatorial.
Os Cursilhos receberam financiamentos do Opus Dei, organização religiosa fascista com sede na Espanha. Manipulados pelos Cursilhos, uma parte da Igreja, clero e leigos tornaram-se inocentes úteis ou usaram a inocência de muitos, reduzindo a religião a uma alavanca política do poder.
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Pe. Peyton
O clero conservador acreditava que as reformas levariam o Brasil ao comunismo. Naquele tempo, o fantasma do “comunismo ateu” espantava a sociedade brasileira, e claro, já era esperado este posicionamento da igreja, pois esta sempre manteve uma aliança tradicional com as classes dominantes.
A Igreja Católica colaborou ativamente com o governo norte-americano na execução da Operação Condor que assolou a América Latina nos anos 60, derrubando governos legítimos eleitos pelo povo, instaurando um período de horror em nossa história, no qual morreram milhares de inocentes, consolidando as pretensões norte-americanas no continente, tudo em nome da “moral e dos bons costumes” que seriam destruídos pelo “demônio do comunismo”
A campanha religiosa contra o governo foi desencadeada pelo Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara. Na sua cruzada anticomunista, ele trouxe das Filipinas, o Pe. Patrick Peyton, que, sabe-se hoje, ERA AGENTE DA CIA, um especialista em “levantar” as massas católicas contra o “comunismo ateu”, em nome da Virgem Maria.
Antes de ser desmascarado, o padre da CIA promoveu grandes concentrações. Ao ser desmoralizado, já tinha completado o seu trabalho e lançado a estrutura da célebre Marcha da Família com Deus pela Liberdade que contou com a participação de 500 mil pessoas com terços empunhados nas mãos, onde “faziam uma marcha de desagravo ao Santo Rosário pelas ofensas que tinham constituído as palavras de Goulart, na Guanabara.”
Alguns dias depois da realização desta marcha e de outras concentrações não menos numerosas em outras cidades do país, o governo caiu. “Em uma destas marchas, por exemplo, promovida pela Cruzada pelo Rosário em Família, estava o governador de São Paulo Ademar de Barros com um terço nas mãos, onde rezava em desagravo à Virgem, maculado pelo “comunismo ateu” dos reformistas” (além de idolatria, quanta alienação... misericórdia).
O tom religioso da manifestação política ficava assegurado pela presença de representantes da Cruzada pelo Rosário em Família, da Confederação Católica do Arcebispado do Rio de Janeiro, da Associação dos Antigos Alunos do Sagrado Coração de Jesus e do Grupo de Reabilitação do Rosário.
Logo após o golpe, difundiram-se os chamados “Cursilhos da Cristandade”. Abusando da boa-fé de uns e do cinismo de outros, em nome do “Chefão” (apelido que deram a Jesus Cristo), os cursilhos – encontros com origem na Espanha, em 1948, destinado a orientar católicos adultos leigos acerca dos fatos da fé cristã – cumpriram um papel de aglutinação ideológica com um toque de lavagem cerebral. Agregavam pessoas com liderança na sociedade, principalmente na classe média alta. Difundiam uma postura dita cristã, de respeito à ordem e de solidariedade aos seus iguais, ou seja, os que estavam no poder ditatorial.
Os Cursilhos receberam financiamentos do Opus Dei, organização religiosa fascista com sede na Espanha. Manipulados pelos Cursilhos, uma parte da Igreja, clero e leigos tornaram-se inocentes úteis ou usaram a inocência de muitos, reduzindo a religião a uma alavanca política do poder.
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