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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Em busca de respeito: mesmo com expressiva presença no Estado, religiões de origem africana vivem sob preconceito





Natasha Pitts, no Adital Jovem




Em 25 de março de 1884, a cidade de Redenção, no estado do Ceará (Nordeste do Brasil), saiu na frente de todas as outras e, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, aboliu a escravidão. Apesar disso, 128 anos ainda não foram suficientes para acabar com todo preconceito que circunda a cultura da população afrobrasileira. O tratamento dado às religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda, é uma prova do quanto ainda é preciso evoluir para se superar o convencionalismo e a discriminação.




O preconceito histórico com as religiões de matriz africana anda de mãos dadas com o preconceito racial que persiste até hoje. O professor Henrique Cunha Júnior, do Núcleo de Africanidades (Nace) da Universidade Federal do Ceará (UFC) explica que o racismo relacionado a estas religiões é chamado de racismo antinegro.




 
“O racismo não é algo que passa simplesmente pelo preconceito, é uma forma de intolerância que prejudica a imagem, prejudica a vida, e que impede a realização de uma série de coisas”, assinala.




“Existe no imaginário popular um arquivo morto dessas religiões, consequência de uma política pública do Brasil no início da República, quando se tentou estigmatizar todas as ações culturais da população negra. Tentou-se desafricanizar o Brasil, houve uma condenação das religiões de matriz africana e isso ficou até hoje. Na República Velha, os seguidores das religiões [de matriz afro] eram presos e internados em manicômios, pois eram tidos como dementes. E isso acontecia em todos os Estados da Federação”, explica.




Este tipo de situação não foi registrado apenas no Brasil. A história conta que as religiões de matriz afro começaram a ser demonizadas, deturpadas e criticadas a partir da chegada de missionários europeus ao continente africano, que ao tomarem conhecimento do culto aos orixás – e não aos santos-; das danças e batidas dos tambores passaram a propagar que os negros adoravam o demônio.

Outra explicação complementar também seria a de que missionários se depararam com uma escultura do orixá “Exu” – montículo de terra com um pênis de barro e um par de cifres – e logo associaram ao demônio conhecido nas religiões cristãs, mesmo esta sendo uma figura inexistente para as religiões de terreiro.

A historiadora Silvia Maria Vieira explica. “O preconceito à cultura afrodescendente (as religiões de matriz africana estão nesse hall) se construiu a partir da ideia de que tudo que estava fora do padrão eurodescendente não se configurava como algo importante, científico e valorizável. As religiões ocidentais têm como fundamento o dualismo, a ideia de que o bem deve vencer o mal. Dentro das religiões de matriz africana o bem e o mal devem estar em equilíbrio, afinal todos temos o bem e mal dentro de nós. Por que um deve ser anulado em função do outro?”, questiona.




A partir da falsa afirmação de culto ao demônio, toma-se como verdade a ideia de que as religiões de matriz africana são usadas exclusivamente para se praticar o mal. Esse pensamento segue no imaginário popular até hoje e por este motivo, entre outros, ‘macumbeiro’ se tornou um xingamento.


Em Fortaleza, capital cearense, a situação não é muito diferente. O Candomblé chegou aqui por volta da década de 1950 e ganhou notoriedade com a apresentação do espetáculo “Uma noite na Bahia”, estrelado no Teatro José de Alencar em 7 de fevereiro de 1955, pelo capoeirista Mestre Bimba e seus alunos.


Depois deste contato com a cultura africana o Candomblé começou a se popularizar na cidade, mas como era de se imaginar, seu exercício na “Terra da Luz” foi cercado de discriminação. Para que as primeiras casas começassem a funcionar foi preciso ajuda de pais, mães e filhos de Santo do Estado da Bahia, onde a religião era praticada e conhecida há mais tempo.




Ainda hoje, mesmo com a presença de 5 mil terreiros em Fortaleza e região metropolitana e uma média de 14 mil no estado cearense – segundo dados da União Espírita Cearense de Umbanda – a população do Estado tem dificuldades em aceitar as religiões de matriz africana, a presença de pais e mães de Santo com suas vestimentas características e o batuque dos tambores nos terreiros.


O pesquisador de folguedos populares e da cultura Afro-brasileira no Ceará, iniciado no Candomblé e presidente da Associação Afro Brasileira de Cultura ALÀGBA, Leno Farias, testemunha que por conta da discriminação com as religiões de matriz africana não é difícil a polícia entrar em terreiros para apreender os instrumentos justificando estar cumprindo a Lei do Silêncio

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