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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Lutadores de Ratones e o Ministério Público

Leio hoje, no DC eletrônico, que o Promotor da Infância e Juventude, Dr. Thiago Carriço, postula medidas no afã de orientar os jovens (sócio-educativas) e seus pais, entre elas a visitação a abrigos para menores, compelindo-os, ainda, a elaborar um vídeo que demonstre o acompanhamento deles naquelas instituições.
O que verão os moços lutadores naqueles locais? Desorganização, ineficácia, descaso, ineficiência do Estado, em relação aos "educandos", porque são depósitos que não recuperam ninguém, assim como as nossas cadeias.
Se a intenção do jovem e atuante membro do Ministério Público é amedrontar os lutadores, certamente conseguirá dar-lhes um susto, mas duvido, sinceramente, que consiga sensibilizá-los na direção de que o Estado é um modelo de eficiência, um exemplo de não violência e de instituição capaz de gerir os problemas sociais que se avolumam.
Nos abrigos para menores, assim como nas cadeias, as pessoas são simplesmente segregadas, ou melhor, amontoadas, torturadas de vez em quando e a chamada "ressocialização" é uma falácia. O próprio ministro Gilmar Mendes, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, ainda recentemente, comentou o assunto e admitiu a falência das políticas públicas aplicadas ao sistema penitenciário.
Acho que a medida postulada pelo Promotor, se implementada pela Justiça, irá mesmo servir aos moços lutadores, abrindo-lhes os olhos para a incapacidade estatal de lidar com um problema social grave, o da marginalização, que resulta na criminalidade e no encarceramento, puro e simples, não havendo como se cogitar, seriamente, de ressocialização, considerando-se a forma como o País trata seus presos.
Ensinar a "não violência" levando os moços a lugares onde o que mais impera é ela e, o pior, praticada por prepostos do Estado, certamente é uma medida bastante questionável. Se os lutadores de Ratones conversarem com os meninos e moços internados naquelas pocilgas mantidas pelo Estado, certamente sairão de lá bastante conscientes de boa parte da miséria humana. Talvez, é verdade, direcionem suas forças para lutar por causas mais urgentes e relevantes. Se é isto que o Promotor deseja, pode ser que consiga realizar seu desiderato.
Para finalizar, lanço algumas indagações:
- Quem, mais do que policiais e agentes penitenciários, em nosso país, dão mais exemplos de violência, matando e torturando de forma irresponsável e descontrolada?
- Será mesmo que garotos, que mal podem com as luvas de boxe, teriam condições de disseminar a violência ou de machucar seriamente outro competidor, pelo simples fato de se exercitarem na casa de algum particular?

- Por que não se questiona o potencial lesivo do futebol? Será porque dele a mídia aufere lucros com publicidade, ou porque o governo consegue utilizá-lo para ocupar as cabeças das pessoas e desviá-las da luta política?
Ainda: se me citarem um só caso de lesão física grave de algum garoto dentre os lutadores de Ratones, capaz de competir com os milhões de lesões resultantes do futebol, do skate, do surf, por este país afora, certamente mudarei de opinião. Por enquanto ...

E, por haver falado em futebol, acho uma grande omissão do Ministério Público permitir que pais levem crianças de tenra idade (algumas até de colo) a estádios, onde grandes confrontos entre torcedores (massas burras, encharcadas de álcool, maconha e sabe-se mais o que), com resultados nefastos costumam acontecer. Será que só adotarão medidas preventivas, no sentido de obstar a presença de crianças e mulheres grávidas em estádios de futebol quando alguma grande desgraça acontecer?
O futebol ensina às crianças que é importante lutar, competir, mas, principalmente, como ser desleal com o colega de profissão, como tentar quebrar-lhe as pernas, como xingar a autoridade (o árbitro), cantar canções obscenas. Serão estas últimas lições proveitosas, sócio-educativas?

Arrematando: quem mais que a televisão, inclusive certos desenhos ditos próprios para a infância (o Pica-pau, por exemplo) instiga a violência? E o que faz o Ministério Público no sentido de coibir a veiculação dos mesmos? Nadica de nada, porque não tem coragem de afrontar os interesses das grandes empresas de comunicação.

Um comentário:

juliribe disse...

A intenção do Ministério Público é mostrar aos jovens lutadores para aonde poderão ir caso continuem a praticar tal violência.
Por outro lado, despertar neles o valor pela vida que têm, o que não acontece com aqueles que estão nos abrigos. É choque de realidade para alienados que acham que violência é tudo.