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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Os assassinos econômicos estão à solta


Por Aurélio Munhoz


Emprestamos o título acima de um vídeo que recebemos de um amigo, Juca Zokner, a quem agradecemos por inspirar este novo artigo. Disponível no Youtube (VEJA AQUI), o vídeo reproduz trecho do documentário “Let´s Make Money” (“Vamos Fazer Dinheiro”), produzido na Alemanha em 2008, com a direção do austríaco Erwin Wagenhofer.


'Quem será o próximo governante a perder o seu posto, premido pela mesma lógica que tem derrubado ditadores nos últimos tempos?'. Foto: Cris Bouroncle/AFP

Contém o impressionante depoimento de John Perkins, cidadão nascido e criado nos EUA, que se apresenta como um “antigo assassino econômico”. A expressão define as manobras odiosas e imorais executadas por Perkins a partir dos anos 70 – com o auxílio de uma numerosa quadrilha espalhada por todos os continentes – para enriquecer grandes corporações econômico-financeiras norte-americanas, bem como um privilegiado grupo de eminências pardas.
Entre estas manobras, estavam o desvio de fortunas resultantes do endividamento dos países subdesenvolvidos ou emergentes dotados de grandes fontes de riquezas que contraíram empréstimos junto ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Banco Mundial. O pretexto usado para a realização desta vigarice foi a necessidade de se implantar grandes projetos de infraestrutura supostamente destinados às suas populações.
Tudo balela, claro. Desviado em quantidades monumentais, por força de uma poderosa rede de corrupção instalada no Terceiro Mundo, boa parte do dinheiro destinado às obras ia parar mesmo em numerosas contas bancárias abertas em paraísos fiscais europeus. O resultado deste vampirismo econômico era óbvio: o empobrecimento gradual das nações. Daí a origem da expressão que intitula este artigo.
Perkins dedica boa parte do vídeo a explicar as sucessivas tentativas de golpe de Estado e, mais tarde, de assassinato contra Saddam Hussein na intenção de tirar de suas mãos o governo do Iraque. O motivo foi a resistência do ex-presidente em aceitar o dólar como moeda nas operações de venda do petróleo existente no país.
Deu no que deu. Saddam não foi assassinado no exercício do poder pelos chamados “chacais” (denominação dada por Perkins aos mercenários contratados para executar chefes de Estado), mas não resistiu às violentíssimas pressões políticas e econômicas que, no último capítulo da sua história, conduziram-no à forca em Bagdá, em 2006.
Achamos conveniente resgatar o documentário “Let´s Make Money” porque, embora não seja uma novidade e já tenha sido objeto de acirrada polêmica quando foi lançado, traz à tona um tema que ganhou frescor neste ano, por força da execução sumária de ditadores como o líbio Muammar Kaddafi ou, mais recentemente, da derrocada de governantes de direita como o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi.
O que o documentário nos ensina é que a derrocada de um ditador ou de um primeiro-ministro impopular não é suficiente para garantir a instituição da democracia social, política e econômica em uma Nação. Para que isto ocorra, sem demérito das lutas políticas empreendidas pelos movimentos sociais, como as que ocorreram no Iraque e na Líbia, é preciso também combater duramente a corrupção. E, mais do que isto, é absolutamente fundamental quebrar os grilhões que subjugam economicamente um país às ordens dos impérios financeiros internacionais.
Só assim é possível criar as condições essenciais para que, por meio da instituição de um governo efetivamente democrático, popular e honesto, seja possível estabelecer as bases para a criação de um cenário de justiça política, social e econômica. Trata-se, portanto, de um processo longo e penoso, que exige uma ruptura com uma cultura organizacional ineficiente e corrupta firmemente estabelecida na administração pública.
Por não ter feito seu dever de casa, mesmo passados cinco anos após a morte de Saddam, o Iraque continua ocupado militarmente e trava cruentas guerras civis. E se mantém empobrecido. A Líbia da era pós-Kaddafi mantém-se dividida entre os que querem mudanças profundas e as tribos partidárias do ex-ditador. Mas não alterou seu cenário de desigualdade econômica. A Itália pós-Berlusconi está sob o comando de um governo de transição, de direita. No entanto, encara o desafio de superar uma dívida de 1,9 bilhões de euros e a provável supervisão ao FMI, que está sendo imposta pela União Européia.
“Let´s Make Money” não é um arrazoado em favor da xenofobia contra os EUA ou as multinacionais. É, antes, um sinal de alerta aos ingênuos que supõem ser possível extirpar a miséria pela eliminação de um único homem, sob os holofotes da mídia. Pedagógico, o documentário nos revela tão somente a verdade suprema das nações contemporâneas, sem retoques.
Por fim, também lança uma preciosa pergunta no ar: quem será o próximo governante a perder o seu posto, premido pela mesma lógica que tem derrubado ditadores nos últimos tempos? Senhor da razão, o tempo dará a resposta certa a esta pergunta, no momento adequado. Só não dirá se, a despeito dos eventuais avanços políticos que poderão decorrer da derrocada dos que tiverem destino semelhante ao de Saddam e Kaddafi, será possível também garantir que estes países rompam com o cenário de desigualdade que ainda os subjuga aos desvarios da corrupção e do capital.

Aurélio Munhoz no Twitter: http://twitter.com/aureliomunhoz, Via CARTA CAPITAL

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