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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Vem aí uma lista de bancos brasileiros que podem quebrar

André Siqueira

Crise

Para Alberto Borges Matias, estudioso do setor bancário, ao menos três das nossas instituições seriam classificáveis como “grandes demais para quebrar”: Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco. Foto: Reprodução

O Brasil terá sua própria lista de bancos grandes demais para quebrar, a exemplo da relação divulgada pela cúpula do G20 em 7 de novembro. O grupo das maiores economias do mundo tornou públicos os nomes de 29 instituições estrangeiras capazes de arrastar consigo todo o sistema financeiro internacional caso se tornem insolventes. Esses bancos serão obrigados a exibir maior solidez, o que equivale a manter um colchão de reservas extras.
Tão logo seja definido o conjunto de exigências a ser feito a quem oferece ameaça em escala global, o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) deverá criar os critérios para a formação de listas nacionais, com foco nos mercados emergentes. E é aí que deve entrar a lista brasileira.

Na avaliação do professor da FEA-USP Alberto Borges Matias, estudioso do setor bancário, ao menos três das nossas instituições seriam classificáveis como “grandes demais para quebrar”: Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco. O trio concentra cerca de 47% dos ativos do sistema financeiro nacional. Embora não creia que a capitalização, por si só, seja uma garantia de solvência em momentos de crise aguda, o economista avalia que os bancos brasileiros não terão dificuldades em se enquadrar às normas internacionais, conforme explica na entrevista abaixo:
CartaCapital: O Brasil tem bancos que podem ser considerados grandes demais para quebrar?
Alberto Borges Matias:
O Banco do Brasil está próximo de deter 1 trilhão de reais em ativos. Os dois que o seguem na lista, Itaú Unibanco e Bradesco, seguem neste mesmo caminho. São valores altos não só para os padrões brasileiros.
 CC: Isso os tornaria uma ameaça em escala mundial?
ABM:
O sistema bancário brasileiro não tem um grande relacionamento internacional. E mesmo as operações dos bancos estrangeiros aqui, fora do varejo, são pequenas. É um sistema meio isolado. Mesmo que houvesse um problema sistêmico aqui dentro, dificilmente ele se espalharia para o resto do mundo. Nós é que temos de nos preocupar com a situação não só na Europa, mas também nos Estados Unidos, onde há perdas sofridas pelos fundos de pensão, que terão problemas quando as pessoas começarem a se aposentar.
CC: Mas tivemos, no Brasil, o exemplo do Panamericano. Embora se trate de um banco médio, e que foi saneado após a constatação de irregularidades contábeis, as condições de financiamento das instituições de igual ou menor porte ficaram mais difíceis depois desse caso.
ABM:
Havia uma falha no registro dos créditos concedidos, até porque nunca se imaginou que alguém iria praticar uma contabilidade arrojada como a do Panamericano. Uma vez constatado o problema, a Cetip (Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos) criou um sistema para registrar esses créditos. Isso elimina o risco de ocorrerem casos parecidos. É assim que o sistema é aperfeiçoado. Há alguns anos, a Logicred era maior financiadora do Brasil. Detinha muitos recursos e fez uma aplicação financeira no Sudameris. Na hora de resgatar os títulos, foi informada de que os papeis eram falsos. Foi então que se criou o sistema de registro de títulos.
CC: Mesmo assim, bancos pequenos têm enfrentado problemas para se financiar.
ABM:
Quem tem financiado esses bancos é o próprio Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que detém muitos recursos, com a vantagem de não ser dinheiro público, ainda que os clientes o financiem indiretamente. Não é um modelo ruim, neste momento funciona bem. No fim, como quem está por trás do FGC é Banco do Brasil, Itaú e Bradesco, são os grandes a financiar os pequenos.
CC: É o bastante para manter em segurança o sistema financeiro nacional?
ABM:
Um problema sistêmico, sem dúvida não teremos. Os menores, na verdade, são muito pequenos, de forma que os grandes, muitas vezes, preferem mantê-los como representantes em determinados nichos de mercado que não conseguem alcançar.
CC: A criação de listas de bancos grandes demais para quebrar não traria uma segurança ainda maior?
ABM: Não há nenhum modelo, entre os que testamos aqui na USP, que aponte a maior ou menor capitalização dos bancos como um fator diretamente relacionado aos casos de insolvência ocorridos no Brasil ou no mundo. Basta ver os grandes bancos americanos, como o JP Morgan, o Chase, o BankBoston ou o Citi. A distância entre a aplicação de recursos de terceiros e de recursos próprios é muito grande, e mesmo assim eles sobrevivem. Não é a capitalização que vai tornar o banco mais sólido. Antes disso, é a gestão dos riscos financeiros e das despesas estruturais, de pessoal e administrativa. Um banco pode apresentar uma alavancagem muito baixa, mas com uma carteira de créditos ruim ou uma estrutura de custos elevada demais ele pode se tornar insolvente com facilidade.
CC: Então os bancos centrais têm olhado para os parâmetros errados?
ABM: É o alerta que temos feito em nossos trabalhos. Até porque muitas vezes a exigência de mais capital pode inviabilizar a operação de bancos menores. A obrigação de aumentar a capitalização pode levar um banco a atrair clientes com pior perfil de risco, portanto dispostos a pagar mais pelo serviço. É o cachorro que persegue o próprio rabo.
CC: As discussões em torno do terceiro acordo de Basileia (cidade suíça onde são definidas as regras globais da atividade bancária) podem aperfeiçoar os mecanismos de fiscalização?
ABM: Basileia 3 cria um conceito cíclico, que vai forçar o banco a se capitalizar mais nos períodos de expansão, quando o mercado está, digamos, mais agradável à atividade bancária. Como o Brasil está fora da crise, neste momento, estaria sujeito a regras mais restritivas.
CC: Isso pode ser um problema para os bancos brasileiros, nesse momento de ampliação da oferta de crédito?
ABM: Seria preciso fazer o cálculo, tendo por base as mudanças que se pretende aprovar. Nesse momento de mudanças cíclicas, a partir da crise europeia, outros aspectos devem entrar em discussão. As regras vão exigir desses bancos, além de mais capitalização, uma melhor organização interna. Nossos bancos grandes estão acima não só das solicitações internacionais, mas das exigências do nosso Banco Central, que são mais elevadas. Como estão acostumados a trabalhar desta forma, não creio que haverá reclamações sobre as novas exigências.

Fonte: CARTACAPITAL

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