Vida e Cidadania
Sábado, 05/11/2011História
Fotos: Nigel Dickinson/The New York Times
Os quatro sinos localizados nas torres norte da Catedral de Notre-Dame, em Paris, tocam a cada 15 minutos todos os dias: artefatos soaram em momentos históricos, como o fim da 1ª Guerra Mundial Peças do século 19 instaladas em catedral francesa centenária serão derretidas e substituídas por artefatos novos
Publicado em 05/11/2011 | The New York Times Desde 1856, os quatro sinos principais localizados nas torres do norte da Catedral de Notre-Dame tocam a cada 15 minutos, sem falhas. Eles soaram pelo fim da Primeira Guerra Mundial e pela libertação de Paris em 1944. Mais recentemente, tocaram em honra às vítimas do atentado de 11/9. Eles têm até nomes, tirados de diversos santos franceses: Angelique-Françoise, Antoinette-Charlotte, Hyacinthe-Jeanne e Denise-David.
Mesmo assim, em 2012 eles serão derretidos e substituídos por nove novos sinos, com a intenção de recriar o som original dos sinos do século 17 da Notre Dame.
A substituição das peças, mencionada sem fanfarra em uma placa dentro da igreja, tem causado um pequeno, mas muito “parisiense” tumulto. Alguns consideram os sinos do século 19 testemunhas sem igual da história francesa, tornados famosos pelo corcunda do livro Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo, e parte indestrutível da herança francesa.
Desaparecimento
Revolução Francesa destruiu 80% dos sinos da catedralAntes da revolução, Notre-Dame tinha 20 sinos famosos que adornavam as torres sul e norte do edifício. Mas depois da revolução em 1789, todos os sinos – exceto um – foram derretidos para a fabricação de canhões, já que os revolucionários destruíram todos os símbolos religiosos, tendo até mesmo conduzido reuniões de propaganda na catedral. Calcula-se que 80 porcento dos sinos da França desapareceram após a Revolução Francesa. “Até 1856, o sino remanescente serviu apenas como um alarme”, diz Jacquin. “A igreja o tocava apenas para alertar as pessoas, incluindo sobre epidemias”.
Os revolucionários confiscaram o sino Emmanuel, mas nunca o destruíram. Ele foi devolvido às torres sul por ordem de Napoleão, em 1802.
Em 1856, Napoleão III ofereceu quatro sinos à Notre-Dame – os que lá estão atualmente – para celebrar o batizado de seu filho e para substituir aqueles perdidos na revolução.
Os sinos, feitos de uma liga de bronze, podem parecer indestrutíveis, mas não duram para sempre. Eles podem se gastar e perder o tom, que é o que alguns “campanologistas”, ou especialistas em sinos, dizem ter acontecido aos sinos da Notre-Dame. Sinos não duram para sempre. “Esse é um dos conjuntos de sinos em pior estado na França”, diz o especialista Herve Gouriou. “Eles estão danificados e desafinados”.
Mas, para alguns ardentes defensores do patrimônio francês como Xavier Gilibert, 37 anos, diretor de uma organização não governamental, os sinos não são apenas um símbolo de Paris, mas também um patrimônio mundial. “Eles tocaram em momentos fundamentais de nossa história”, diz Gilibert. “Eles vão desaparecer e ninguém vai ficar sabendo”.
A substituição dos sinos – um projeto de US$ 3,5 milhões –, faz parte de um banho de loja em preparação à comemoração do aniversário de 850 anos da catedral, no ano que vem, que inclui a renovação do obsoleto sistema de iluminação, que consome muita eletricidade, e do famoso órgão.
Diferentes
Nem todos os sinos serão substituídos. O grande sino Bourdon Emmanuel de 1681, que soa na torre sul e é considerado um dos mais lindos da Europa, será preservado. Ele toca nas principais celebrações religiosas, visitas do papa, comemorações e funerais presidenciais. Quando o papa João Paulo II morreu em 2005, com 84 anos, o Bourdon Emmanuel tocou 84 vezes.
Apesar das preocupações daqueles que pensam como Gilibert, apenas o Bourdon Emmanuel é considerado pelos especialistas como tendo significativa importância histórica. Os sinos menores foram moldados no século 19, que muitos historiadores franceses consideram como história recente: o metal deles é de má qualidade e eles produzem um som desarmônico, dizem os especialistas.
Substituição busca harmonia do passado
A esperança do reverendo Patrick Jacquin é recriar a disposição original dos sinos do século 17, e “recuperar a harmonia e os harmônicos dos sinos que existiram antes de 1789”, diz ele. Ele está trabalhando com base em um arquivo deixado por Eugene Viollet-Le-Duc, famoso arquiteto do século 19.
Viollet-Le-Duc, que restaurou a catedral entre 1845 e 1856, também queria recriar as antigas harmonias da igreja. Ele reconstruiu os campanários, fazendo buracos nas paredes da igreja e construindo vigas para apoiar os novos sinos. Mas o projeto foi abandonado.
Os novos sinos, diz Jacquin, terão o mesmo peso e diâmetro dos antigos modelos e foram projetados para produzirem as mesmas notas. Eles vão soar como soaram durante o antigo regime, com ressonância mais profunda e tons mais graves do que os atuais. Uma amostra do novo som está disponível no site www.notredamedeparis.fr. Jacquin logo irá pedir cotações dos quatro fabricantes de sinos remanescentes na França. Em setembro, ele viajou para os Estados Unidos, onde segundo ele “as pessoas se interessam por sinos’’, para encontrar patrocinadores para a renovação, que também está exigindo verbas do governo.
Brasileiro critica
Para Fernando Gabrielli, de 48 anos, um crítico franco do projeto de sinos de Jacquin, a destruição dos sinos icônicos é um crime. “Eles são a música do mundo”, disse ele em uma entrevista. Gabrielli, cantor brasileiro de jazz que se estabeleceu em Paris 11 anos atrás, tem conduzido uma cruzada on-line para alertar sobre a destruição dos sinos atuais em músicas e vídeos que posta no YouTube. Ele até mesmo escreveu uma mensagem ao papa, em seu perfil do Facebook.
Fonte: GAZETA DO POVO
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