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sábado, 8 de maio de 2010

Sobre Padre Odílio Lopes de Melo Galvão

Monday, October 23, 2006

Talvez tenha sido o político de maior influência de todo o Sertão Central à sua época. Carregou a bandeira da União Democrática Nacional (UDN) contra o Partido Social Democrático (PSD) com a flegma dos grandes líderes. Para eleger um deputado estadual, bastavam os seus sermões aos domingos nas missas. Receitava remédios e os dava grátis. Também distribuía com os pobres, leite em massa, conhecido como ‘leite do padre’. Hipnotizava as crianças e os tolos. Além do mais era padre.
Tinha um serviço de som, estilo alto falante, que funcionava como rádio. Tanto era utilizado para dar notícias religiosas, como expressava diretamente o pensamento político do padre. E assim sua fama corria o mundo afora naquele sertão. Ganhou a campanha para Prefeito da cidade de Senador Pompeu, no ano de 1962, com uma maioria esmagadora. Decidido a candidatar-se faltando poucos dias para o encerramento das inscrições partidárias, padre Odílio chegara de Roma, com escala em Fortaleza, onde tinha ido visitar sua Santidade o Papa Paulo VI, num avião denominado de teco-teco. A multidão que o esperava no campo de aviação logo se transformou em passeata rumo à cidade. O padre em pé num jipe modelo 52 acenava para todo o povo. A passeata, depois de percorrer as principais ruas da cidade, terminou como um dos maiores comícios políticos na praça da matriz. Ninguém tinha mais dúvidas da vitória do padre, as apostas acabaram.
É importante lembrar que o padre, antes de ser Prefeito, fez o hospital, trouxe escolas, construiu os prédios do ginásio Cristo Redentor e Nossa Senhora das Dores, enfim, quase todos os pleitos reivindicados por ele eram atendidos pelo Governador do Estado, Coronel Virgílio Távora. Senador Pompeu vivia sua maior safra de algodão. Tínhamos as seguintes fábricas de beneficiamento do ouro branco: usina São Geraldo; Sical; Casa Machado; União Algodoeira Exportadora Jucá; Algobol – Algodoeira Borges Ltda – etc. Existiam bons invernos com alta produção de milho, feijão e o leite da vaca preta. Era uma época de fartura, muita chuva e frutas, e o melhor é que não se falava em inflação. A região parecia caminhar rumo ao progresso.
No entanto, quando o padre Odílio assumiu a direção do executivo municipal, algo estranho e nebuloso passou a atormentar a vida política e cotidiana daquela pacata cidade. Primeiro seqüestrou o Presidente da Câmara, Dr. Rogério, seu opositor. Não satisfeito com a desenvoltura e competência do Dr. Rogério, na tarde de um dia de agosto de 1965, acompanhado de dois capangas, o padre aplicou-lhe um murro de manopla na face de seu oponente, causando-lhe sérios danos físicos, somente sendo corrigidos através de plástica e platina. Detalhe: o padre não conseguiu reeleger nenhum correligionário. Dr. Rogério, logo depois, foi eleito Prefeito de São João de Jaguaribe, mostrando sua popularidade e credibilidade por onde passava.
Por volta das seis horas de uma manhã de domingo, durante a missa celebrada por padre Salmito, foi ouvido um estampido de um tiro de revólver. Logo em seguida, soube-se que o Geraldo, misto de motorista e capanga do padre, havia matado o vereador Raimundo do Fumo, depois de persegui-lo e executá-lo dentro do café de dona Gervina. A lógica dos boatos na cidade era que o Geraldo não tinha nenhum motivo para matar o vereador, mas como o vereador Raimundo do Fumo fazia cerrada oposição ao prefeito...
A cidade estava em polvorosa. Mulheres apaixonadas pelo padre brigavam no meio da rua, os capangas se digladiavam uns com os outros trocando balas em plena praça pública; o padre sofria um atentado a bala por uma de suas apaixonadas; comentava-se o rápido enriquecimento do padre; a prefeitura estava em bancarrota administrativa; a questão moral e ética implicava diretamente na questão religiosa em estado de descrença; o padre conseguiu virar sua personalidade junto com a cidade de cabeça para baixo.
O padre Odílio estava para o Sertão Central (Senador Pompeu) assim como o padre Cícero esteve para a região sul do Estado (O Cariri). Sua pregação era pura profecia, sua opinião virava preceito de fé, sua popularidade fora unânime, pena que tudo isso não passou de fogo fátuo. Desmoronou-se o mito do padre não se deu bem com o poder, a exemplo de tantos outros que não se dão bem com o dinheiro e com a felicidade. Morreu com certeza angustiado, morreu do coração.
Odílio como o gelo em contacto com os primeiros raios do sol. O candidato indicado por ele, para sucedê-lo na prefeitura, foi um completo fiasco eleitoral. Estava selado o seu destino político: a indiferença e a solidão.

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Como se depreende da história contada acima: tudo é muito relativo!

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