Está cada vez mais claro que o objetivo da guerra desatada contra Líbia não é outro que reconquistar a África e estabelecer um novo sistema colonial
Repsol e outras petroleiras da Europa voltam a atuar intensamente na Líbia após o assassinato sumário de Kadafi |
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A brutalidade exercida contra o assassinado dirigente é outro indício do que pode se impôr a um país no qual os integrantes do chamado Conselho Nacional de Transição declararam que a Líbia será um Estado islâmico, sem que ninguém tenha explicado exatamente como funcionará.
Aos Estados Unidos e aos países europeus da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) não lhes parecia incomodar muito, talvez porque sabem que esse governo não pode chegar a nada sem seu apoio.
Afinal de contas, a guerra fizeram-na eles e o Conselho Nacional de Transição pôs as improvisadas milícias para dar a imagem de uma guerra popular a grande escala.
A RECONQUISTA
O objetivo da guerra desatada contra Líbia não é outro que reconquistar a África e estabelecer um novo sistema colonial, modificando um pouco o que durante tantos anos mantiveram os países europeus que agora estão na quebra total e precisam de livre acesso às enormes riquezas perdidas.
É mais, os governos existentes em alguns países dessa região, ainda aliados dos europeus, enfrentam rebeliões populares que até agora têm sido manipuladas mediante mudanças cosméticas e o envio de tropas de nações amigas da área.
Isso não lhes garante estabilidade no futuro. Na Líbia não puderam fazer o mesmo; o regime de Kadafi era mais forte e por isso começaram a miná-lo desde dentro, estimulando deserções de servidores públicos do governo que se converteram em assessores do projeto intervencionista.
Os incipientes protestos foram apresentados como um importante movimento objeto de uma feroz repressão que tinha incluído, se disse, o envio de aviões e helicópteros, os quais atacaram manifestantes no que foi qualificado como um banho de sangue e deu pé à resolução adotada nas Nações Unidas.
Guillaume de Rouville entrega uma versão diferente em um artigo publicado em www.aporrea.org em 6 de setembro passado. Sustenta que à diferença do que se viu na Tunísia e Egito, na Líbia se registravam manifestações menores em Bengasi e Derma, convocadas desde a França pelo ex-ministro líbio de protocolo, quem tinha desertado.
Assinala que a televisora Al-Jazeera, pertencente ao emir do Qatar, a quem define como "valioso aliado" dos Estados Unidos, mostrou a "alguns rebeldes de Bengasi com armas pesadas ou conduzindo tanques" e depois sustentou, no passado 21 de fevereiro, que aviões e helicópteros de Kadafi tinham bombardeado os manifestantes "mas não pôde mostrar nem uma só imagem".
GUERRA E PARTILHA
A guerra desatada pelos países membros da OTAN superou os marcos fixados na resolução da ONU, que só os autorizava a criar uma zona de exclusão aérea na Líbia, partindo do suposto de que Kadafi tinha bombardeado as manifestações de protesto.
E essa foi a armadilha. Como o disse um general estadunidense, não se pode criar essa zona de exclusão sem desatar uma guerra, como ocorreu. Supostamente os militares da OTAN não estiveram em solo líbio, o que não é efetivo.
Estados Unidos não mandou tropas, não porque não quisesse, senão porque isso prejudicaria as aspirações à reeleição do presidente Barack Obama, mas pôs a disposição seus aviões não tripulados. Os alemães foram os mais discretos e seus serviços de inteligência descobriram onde estava Kadafi, facilitando assim sua captura.
Marrocos, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Jordânia e Iraque respaldaram em Paris a constituição da coalizão encabeçada pela França e o Reino Unido. Os reis de Marrocos e Jordânia também enfrentam demandas de seus povos, os quais até agora têm conseguido controlar.
A guerra contra Kadafi foi feroz por várias razões. Primeiro, porque à diferença de outros governantes da região, podia conter os protestos. Contê-los implicava também que nem europeus nem estadunidenses conseguiriam ter acesso às duas riquezas fundamentais de seu país: petróleo e água doce.
Reino Unido e França, que em diferentes épocas colonizaram a Líbia ou a governaram mediante protetorados, tinham comprovado que Kadafi podia facilitar-lhes algum negócio, como sucedeu com Tony Blair, ou contribuir a alguma campanha eleitoral, como a de Sarkozy, mas não lhes permitiria apoderar-se do petróleo.
Em um mundo com uma crise como a atual, quando a Europa está a ponto da quebra financeira e do colapso de suas organizações comunitárias, enquanto os Estados Unidos não está muito melhor, também se vislumbran as dificuldades entre ambos conglomerados.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, León Panetta, não quis comentar se seu país terá uma relação militar com Líbia, assinalando que "o que faria neste momento é deixar a decisão em mãos de uma futura participação através da OTAN".
Também disse que os recortes orçamentários no seu país afetarão sua capacidade para compensar o déficit deixado à OTAN pelos operativos na Líbia. Não ficou claro se isso revive as críticas de seu antecessor à entidade, quando questionou sua viabilidade dizendo que enfrentava "um fraco, se não é que negro futuro".
Joseph Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, comentou sobre a participação norte-americana nos ataques à Líbia, que seu país "gastou dois mil milhões de dólares e não perdeu nenhuma vida. Esta é uma boa receita sobre como tratar com o mundo para avançar com mais rapidez do que o fizemos no passado".
Aos Estados Unidos e aos países europeus da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) não lhes parecia incomodar muito, talvez porque sabem que esse governo não pode chegar a nada sem seu apoio.
Afinal de contas, a guerra fizeram-na eles e o Conselho Nacional de Transição pôs as improvisadas milícias para dar a imagem de uma guerra popular a grande escala.
A RECONQUISTA
O objetivo da guerra desatada contra Líbia não é outro que reconquistar a África e estabelecer um novo sistema colonial, modificando um pouco o que durante tantos anos mantiveram os países europeus que agora estão na quebra total e precisam de livre acesso às enormes riquezas perdidas.
É mais, os governos existentes em alguns países dessa região, ainda aliados dos europeus, enfrentam rebeliões populares que até agora têm sido manipuladas mediante mudanças cosméticas e o envio de tropas de nações amigas da área.
Isso não lhes garante estabilidade no futuro. Na Líbia não puderam fazer o mesmo; o regime de Kadafi era mais forte e por isso começaram a miná-lo desde dentro, estimulando deserções de servidores públicos do governo que se converteram em assessores do projeto intervencionista.
Os incipientes protestos foram apresentados como um importante movimento objeto de uma feroz repressão que tinha incluído, se disse, o envio de aviões e helicópteros, os quais atacaram manifestantes no que foi qualificado como um banho de sangue e deu pé à resolução adotada nas Nações Unidas.
Guillaume de Rouville entrega uma versão diferente em um artigo publicado em www.aporrea.org em 6 de setembro passado. Sustenta que à diferença do que se viu na Tunísia e Egito, na Líbia se registravam manifestações menores em Bengasi e Derma, convocadas desde a França pelo ex-ministro líbio de protocolo, quem tinha desertado.
Assinala que a televisora Al-Jazeera, pertencente ao emir do Qatar, a quem define como "valioso aliado" dos Estados Unidos, mostrou a "alguns rebeldes de Bengasi com armas pesadas ou conduzindo tanques" e depois sustentou, no passado 21 de fevereiro, que aviões e helicópteros de Kadafi tinham bombardeado os manifestantes "mas não pôde mostrar nem uma só imagem".
GUERRA E PARTILHA
A guerra desatada pelos países membros da OTAN superou os marcos fixados na resolução da ONU, que só os autorizava a criar uma zona de exclusão aérea na Líbia, partindo do suposto de que Kadafi tinha bombardeado as manifestações de protesto.
E essa foi a armadilha. Como o disse um general estadunidense, não se pode criar essa zona de exclusão sem desatar uma guerra, como ocorreu. Supostamente os militares da OTAN não estiveram em solo líbio, o que não é efetivo.
Estados Unidos não mandou tropas, não porque não quisesse, senão porque isso prejudicaria as aspirações à reeleição do presidente Barack Obama, mas pôs a disposição seus aviões não tripulados. Os alemães foram os mais discretos e seus serviços de inteligência descobriram onde estava Kadafi, facilitando assim sua captura.
Marrocos, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Jordânia e Iraque respaldaram em Paris a constituição da coalizão encabeçada pela França e o Reino Unido. Os reis de Marrocos e Jordânia também enfrentam demandas de seus povos, os quais até agora têm conseguido controlar.
A guerra contra Kadafi foi feroz por várias razões. Primeiro, porque à diferença de outros governantes da região, podia conter os protestos. Contê-los implicava também que nem europeus nem estadunidenses conseguiriam ter acesso às duas riquezas fundamentais de seu país: petróleo e água doce.
Reino Unido e França, que em diferentes épocas colonizaram a Líbia ou a governaram mediante protetorados, tinham comprovado que Kadafi podia facilitar-lhes algum negócio, como sucedeu com Tony Blair, ou contribuir a alguma campanha eleitoral, como a de Sarkozy, mas não lhes permitiria apoderar-se do petróleo.
Em um mundo com uma crise como a atual, quando a Europa está a ponto da quebra financeira e do colapso de suas organizações comunitárias, enquanto os Estados Unidos não está muito melhor, também se vislumbran as dificuldades entre ambos conglomerados.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, León Panetta, não quis comentar se seu país terá uma relação militar com Líbia, assinalando que "o que faria neste momento é deixar a decisão em mãos de uma futura participação através da OTAN".
Também disse que os recortes orçamentários no seu país afetarão sua capacidade para compensar o déficit deixado à OTAN pelos operativos na Líbia. Não ficou claro se isso revive as críticas de seu antecessor à entidade, quando questionou sua viabilidade dizendo que enfrentava "um fraco, se não é que negro futuro".
Joseph Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, comentou sobre a participação norte-americana nos ataques à Líbia, que seu país "gastou dois mil milhões de dólares e não perdeu nenhuma vida. Esta é uma boa receita sobre como tratar com o mundo para avançar com mais rapidez do que o fizemos no passado".
Se a isto agregamos que os britânicos estão revisando sua participação nos organismos da comunidade europeia e há um forte setor partidário de se retirar deles, o dito por Panetta adquire outro sentido. Os estadunidenses dispõem já de um armamento que lhes permite prescindir de seus atuais aliados.
Mas o que fica pendente é saber quem controlará o petróleo líbio, um dos melhores se é que não o melhor do mundo. A partilha que implicava esta guerra ainda está em veremos.
Fonte: PRAGMATISMO POLÍTICO
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