Em vez de operação de peito aberto, mais arriscada, um implante é feito por uma incisão de 5 cm para corrigir desgaste em válvula
José Maria Tomazela - O Estado de S.Paulo
Implante desenvolvido por pesquisadores da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com a Braile Biomédica, de
São José do Rio Preto, promete corrigir desgastes na válvula do coração
sem precisar abrir o peito do paciente, num procedimento mais simples e
rápido que o realizado atualmente pelos médicos.
O grupo criou uma válvula artificial, feita com pericárdio bovino (a
pele que reveste o coração do boi), que pode ser implantada no paciente
com a ajuda de um cateter, inserido por meio de um corte pequeno.
O implante é indicado para uma doença chamada estenose aórtica grave -
um desgaste ou calcificação da válvula que regula o fluxo sanguíneo do
coração para a aorta. A maioria dos pacientes com o problema é idosa, o
que torna a cirurgia tradicional, feita com o peito aberto, de altíssimo
risco.
Pela nova proposta, o tempo da cirurgia cai de 2 horas para 40
minutos e a recuperação, que leva de dois a três meses, ocorre em cerca
de 15 dias. O corte, que na cirurgia convencional chega a 30 cm,
resume-se a uma incisão de 5 cm.
O aparelho, com diâmetro médio de 24 cm, é prensado, introduzido no
coração com um cateter e inflado com a ajuda de um minibalão, fixando-se
na parede do coração. O processo todo é acompanhado em monitores com
imagens de raio X.
Ainda em fase experimental, o implante já foi testado em 128
pacientes. Desses, pelo menos 20 estavam internados sem condições de
alta e, depois de operados, deixaram o hospital.
Batizada de Inovare, a válvula aguarda aprovação Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser produzida comercialmente.
"Um estudo mostrou que 31,8% dos pacientes com estenose aórtica não
podiam ser operados pelo método tradicional, por isso tivemos o impulso
de fazer uma coisa menos invasiva", explica o cirurgião Domingo Braile,
fundador da Biomédica. "Investimos R$ 3 milhões para desenvolver o
projeto", conta.
A empresa estima que, assim que receber autorização para
comercializar a válvula no País, receberá uma demanda de dez unidades
por mês. Ela também pretende exportar o produto.
Inovação. Pioneira em válvulas cardíacas de pericárdio de boi - a
primeira foi feita em 1973 e hoje são 70 mil fabricadas -, a Braile está
envolvida em outro projeto inovador. Em cooperação científica com
outras instituições, vai lançar próteses para substituir porções do
aparelho digestivo suprimidas em razão do câncer.
Entre os produtos, uma prótese permite ao paciente submetido à retirada do esôfago voltar a se alimentar pela boca.
Fonte: ESTADO DE SP
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