18/06/2010 08h21 - Atualizado em 18/06/2010 08h21
Jornalista faz mea-culpa e critica profissão em 'Abraço corporativo'
Papel da imprensa na era da superinformação é tema de documentário.
Para provar sua tese, diretor criou personagem que enganou a mídia nacional.
Ary Itnem é um homem de meia-idade, que se diz porta-voz da Confraria Britânica do Abraço Corporativo (Cbac), uma organização que existe há 10 anos na Europa. Para anunciar sua chegada ao Brasil, ele caminha pela Avenida Paulista e pede um abraço aos pedestres.
Toda essa experiência é documentada no YouTube e o vídeo logo registra mais de 600 mil acessos. A história é vendida a jornais, sites e revistas, que compram a ideia e, rapidamente, Ary é entrevistado pela mídia nacional. Três anos depois, descobre-se que tudo era mentira e parte de um documentário brasileiro: “Abraço corporativo”, do diretor estreante Ricardo Kauffman.
O filme, que estreia nesta sexta-feira (18) apenas no Cine Belas Artes, em São Paulo, é uma crítica ao jornalismo em tempos de Twitter e iPhone, em que a informação precisa ser divulgada e consumida em tempo recorde.
“A discussão central é observar como certos discursos clichês são vendidos pela mídia como notícia e ganham dimensões gigantes uma vez que são divulgadas pela imprensa”, explica Kauffman, que, adivinhem, é jornalista.
“O filme nasceu de um sentimento meu e de muitos amigos, o de correr atrás de uma pauta às vezes apenas por uma aspa de efeito ou de imagem”, diz.
Kauffman explica que o personagem, interpretado por Leonardo Camillo, nunca revelava quem eram os seus clientes. Ele também explica que, caso alguém fosse procurar no Google pela Cbac, não conseguiria acharia nenhuma informação do passado da instituição.
“Não quero abordar a falta de capacidade dos jornalistas, nem nada disso. Teve gente, claro, que não comprou a ideia. O problema é a mecânica, o sistema de produção de notícias de hoje”, ressalta.
O diretor afirma que o documentário é independente e levou cinco anos de produção. Além da repercussão de Ary Itnem (anagrama de “mentira”) na mídia brasileira, o filme exibe entrevistas realizadas com jornalistas, políticos e analistas, como Juca Kfouri, Eugênio Bucci, Claudio Lembo e Contardo Calligaris.
Fonte: G1
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