Uma das favoritas ao título da Copa do Mundo, a Espanha vai à África do Sul nem nenhum estrangeiro, mas com quase um time inteiro de jogadores que não se importariam em defender outra seleção.

O técnico Vicente del Bosque deixou fora da lista final o brasileiro Marcos Senna, único "gringo" convocável, mas relacionou sete jogadores da Catalunha e três que possuem ligações estreitas com o País Basco.

As duas regiões são focos de forte sentimento nacionalista e contam com grupos que reivindicam a separação da Espanha. Ambas possuem seleções próprias, não filiadas à Fifa, mas liberadas para disputar amistosos.

"A Constituição espanhola de 1978 dá um bom grau de autonomia para as várias regiões espanholas. Isso conteve um pouco o forte sentimento nacionalista existente em algumas delas. Os grupos políticos que defendem a independência da Catalunha são minoritários comparando ao que eram nos anos 1960. No País Basco, embora o nacionalismo mais radical tenha diminuído, ainda há grupos radicais mais ativos", disse o professor de relações internacionais da UFF (Universidade Federal Fluminense) Adriano Freixo.


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Javi Martinez em ação pelo Athletic Bilbao, quase uma seleção basca; Fernando Llorente jogando pela Espanha
Javi Martinez em ação pelo Athletic Bilbao, a "seleção" basca; Llorente jogando pela Espanha

O Athletic Bilbao tem dois jogadores na seleção espanhola: o volante Javi Martínez e o atacante Fernando Llorente. O time é uma bandeira basca e não aceita atletas sem vínculo nenhum com a região.

O volante Xabi Alonso, atualmente no Real Madrid, nasceu na comunidade autônoma e completa a participação deste "país" na "Fúria".

"Embora o nacionalismo mais radical tenha diminuído no País Basco, ainda há grupos radicais mais ativos. O mais conhecido é o ETA [grupo terrorista]. Mas não acho que essa questão vá entrar em campo", afirmou o professor.

Assim como o Athletic, o Barcelona também é um símbolo regional. O atual bicampeão espanhol ganhou força como foco de resistência catalã durante o governo ditatorial do general Franco, que impôs um modelo centralizado, proibindo manifestações das nações regionais.

A braçadeira de capitão utilizada pelo time leva as cores da Catalunha, assim como seu slogan é escrito na língua regional: "més que un club" (mais que um clube, em tradução para a língua portuguesa).

"Hoje existe um movimento que defende a integração à Espanha e trabalha em cima da defesa da cultura e da língua catalã. Eles se assumem como catalães, mas não têm mais uma perspectiva de separação. Esse nacionalismo está muito mais presente no ponto de vista simbólico do que como ponto político", explicou Freixo.

Dos sete jogadores catalães do elenco espanhol, cinco defendem o Barcelona. Os outros dois, Joan Capdevila e Cesc Fàbregas, atuam por Villarreal (Espanha) e Arsenal (Inglaterra), respectivamente.

Fonte: FOLHA DE SP