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domingo, 27 de março de 2011

Grupo dos Alcoólicos Anônimos tem a sua eficácia contestada



MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

Em uma entrevista desvairada, o ator americano Charlie Sheen atacou os Alcoólicos Anônimos, dizendo ter sido "acorrentado e oprimido" nesse "culto" por 22 anos.

Sheen não é lá um modelo de paciente. Mas deu voz a um silencioso grupo de alcoólatras que não se acham no grupo de ajuda mútua criado há 71 anos nos EUA, e replicado mundo afora.

Aqui, pesquisa da Unifesp mostrou que menos da metade dos frequentadores permanece no AA após três meses, e que a técnica é a menos eficaz contra alcoolismo (a íntegra da reportagem está disponível para assinantes do jornal e do UOL).
SXC
Pesquisa da Unifesp mostra que menos da metade dos frequentadores permanece no AA após três meses

Isso, apesar da crença geral de que o AA tem sucesso em recuperar dependentes.

Os resultados do estudo afirmam que, depois de seis meses, a taxa de abstinência de seus frequentadores é de 9%, em comparação com taxa de 10% entre os que não fazem tratamento e de até 36% dos que combinam remédios e terapia.

O motivo mais alegado pelos que não se adaptaram é a falta de identificação com a filosofia do AA. Outras razões são o clima pesado e a falta de credibilidade ("parece um teatro, os frequentadores não parecem estar sóbrios e há muita demagogia", disseram voluntários da pesquisa).

CRÍTICAS INCOMUNS

"O AA se diz o melhor tratamento, mas, do ponto de vista científico, só é muito bom para uma minoria", diz Dartiu Xavier, psiquiatra e um dos autores do estudo.

Segundo o antropólogo e professor da USP Edemilson Antunes de Campos, que fez tese de doutorado sobre o AA após frequentar reuniões por um ano, críticas ao grupo não são comuns no Brasil.

Aqui, o grupo tem grande aceitação: o Brasil é o terceiro país com mais membros, atrás dos EUA e do México.

"Na França, o AA é visto como seita que contraria valores laicos. Aqui, não."

OUTRO LADO

Coordenadores de divulgação do AA, Hugo e Silvio dizem que o método não tem a pretensão da onipotência. "Se alguém pode ser internado, ir ao AA e fazer terapia, estará mais coberto. Não há concorrência, não somos exclusivistas", disse Hugo.

Para ele, os motivos que levam à desistência do tratamento são as características da própria doença.

Sobre o fato de muitos dos frequentadores terem outras doenças, Hugo diz: "Não somos profissionais da saúde para diagnosticar. Hoje o AA aceita que a pessoa tome antidepressivo. Há bebedores com outras doenças psiquiátricas. Se não pudermos resolver, passamos a bola."

De acordo com Hugo, não é preciso retorno para as falas. A pessoa é apoiada pelo grupo e se identifica com ele.

Em relação à crítica ao cunho religioso, Hugo diz: "Nossa experiência é comprovada e vem de correntes psicológicas, médicas e religiosas, sim, mas também há ateus, espíritas e umbandistas que frequentam o AA."

Um dos 12 passos fala de um ser superior, mas, segundo Hugo, cada um o interpreta como quiser. Para alguns, esse ser é o próprio AA.



Silvio afirma que o AA não é rígido. "Tentamos prevenir a recaída. Mas ela não nos surpreende. Ninguém é estigmatizado por isso."

À afirmação de Charlie Sheen, que disse que o AA é um culto, Hugo responde: "Há, sim, frequentadores fanáticos. Mas essa não é uma característica da entidade."

Leia a reportagem integral na Folha deste domingo, que já está nas bancas.


Fonte: FOLHA DE SP

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