Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Luciana e Thiago não podem usar os presentes de casamento porque o apartamento não ficou pronto; o atraso supera um ano
Habitação
Burocracia e lentidão nas obras fazem dono de imóvel bancar reajuste do preço final, inclusive no Minha Casa, Minha Vida
João Pedro Schonarth
MRV alega nova exigência de documento
Tanto Michel Prado quanto Sabrine Silva e Lucas Banzato procuraram a MRV para cobrar explicações sobre o atraso.
A construtora informou a eles que a demora ocorreu por trâmites burocráticos da Caixa. Entretanto, segundo a assessoria de imprensa da Caixa, os consumidores ainda não foram chamados para realizar a assinatura do contrato de financiamento porque faltava à construtora entregar dois documentos necessários para dar prosseguimento ao processo.
A assessoria informou ainda que 100% da documentação sobre o empreendimento precisa estar em poder do banco para que os compradores assinem o financiamento. O banco ressalta também que, no modelo de crédito associativo, no qual se enquadra o empreendimento, a Caixa exige como condição para a assinatura do contrato de financiamento que pelo menos 20% das unidades sejam comercializadas, quando o recurso que vai financiar a obra é oriundo do FGTS – caso do programa Minha Casa, Minha Vida. Quando o dinheiro vem da poupança, a exigência é de 30%.
A assessoria de imprensa da MRV informou, por meio de nota, que todos os documentos tinham sido apresentados à Caixa, mas admitiu que, após a avaliação, o banco apontou a necessidade de obter mais um documento. Segundo a construtora, toda a documentação foi protocolada na prefeitura, e a MRV aguarda a liberação nas próximas semanas para entrega à Caixa. “O processo de assinatura dos contratos de financiamento no Spazio Celtic terá início assim que ocorrer a liberação por parte da Caixa”, afirmou a empresa, em nota.
Apesar de reconhecer que houve a necessidade de entregar novos documentos ao banco, a MRV informou que o saldo devedor dos compradores continuará a ser reajustado, por estar previsto no contrato de promessa de compra e venda, e que os compradores terão de pagar a conta. “O saldo devedor será corrigido por este índice até que ocorra a assinatura junto ao agente financeiro e a quitação total do contrato”, completa a nota. (JPS)
Quem causou o atraso paga por ele, diz Procon
Os órgãos de defesa do consumidor ressaltam que, mesmo a empresa afirmando que o reajuste está previsto em contrato, o consumidor não pode ser onerado sem ter responsabilidade sobre eventuais atrasos. “Quem causou o atraso precisa se responsabilizar por ele. Se a empresa não apresentou de maneira correta a documentação ao agente financiador e por essa razão houve demora na assinatura do financiamento imobiliário, ela vai ter de arcar com esse custo”, explica a coordenadora do Procon-PR, Claudia Silvano.
Enquanto chave não chega, casal gasta com juros
Outro tipo de atraso frequente acontece no prazo de entrega das chaves ao comprador. A técnica previdenciária Luciana de Oliveira Félix Borges e seu marido, Thiago Raulino Borges, também compraram um apartamento da MRV na planta, em 2009, no bairro Portão, em Curitiba. O contrato previa que o apartamento seria entregue em junho de 2010.
O empresário Michel Oliveira do Prado comprou no ano passado um apartamento na planta no Spazio Celtic, da MRV, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Ele assinou o contrato de compra e venda com a construtora em dezembro do ano passado, com a promessa de que assinaria o financiamento imobiliário com a Caixa em quatro meses. O apartamento, de dois quartos, foi vendido a ele por R$ 101.021. De acordo com a avaliação de crédito feita pela construtora, Prado teria condições de financiar R$ 90.235 e a diferença seria paga em 22 parcelas mensais de R$ 490 – entretanto, devido à correção pelo INCC, hoje a parcela já chega a R$ 520.
O martírio do empresário começou quando o prazo prometido acabou e ele não foi chamado pela Caixa para assinar o financiamento. Sete meses após a compra, ainda não há previsão de contratar o financiamento. Além da dor de cabeça, Prado viu o saldo devedor aumentar em R$ 6.037: o valor inicial que o empresário vai financiar passou para R$ 96.272, por causa da correção pelo INCC. A diferença, que ainda não parou de crescer, corresponde a quase 6% do preço do imóvel. “Consta em contrato esse reajuste, mas em nenhum momento foi deixado claro pelo vendedor que o valor previsto no contrato seria maior. O pior é saber que entreguei toda a minha documentação em dia, paguei R$ 500 para o despachante da empresa fazer a análise, e, por razões que fogem da minha responsabilidade eu ainda não assinei com o banco”, afirma. “Não sei se na hora de assinar com a Caixa eu vou conseguir cobrir todo esse reajuste”, salienta.
A laboratorista Sabrine Nascimento da Silva e seu noivo, Lucas Banzato, vivem a mesma situação. Eles também compraram um apartamento no Spazio Celtic com a promessa de assinatura com a Caixa em no máximo quatro meses após o contrato de compra e venda, em novembro de 2010. Eles pretendem se casar quando o apartamento ficar pronto e, para realizar esse sonho, investiram R$ 100.180 – desse total, serão financiados R$ 88.259. Até agora, viram o saldo devedor aumentar R$ 5.905. “Eu tenho medo de não conseguir pegar um financiamento que cubra esse aumento. Segundo a MRV, com os nossos documentos conseguimos um financiamento de R$ 88.259. Se o valor que será financiado não aumentar, não sei o que vamos fazer. O que não acho justo é ter de pagar a diferença por um atraso que eu não provoquei”, desabafa Sabrine.
Fonte: GAZETA DO POVO (CURITIBA)
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