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quinta-feira, 3 de junho de 2010

O blá blá da burca

por Serge Halimi

É verosímil que o número de franceses que sabem quantos minaretes existem na Suíça (quatro) e quantas burqas existem em França (trezentas e sessenta e sete) [1] seja superior ao número dos que sabem que o Tesouro público francês perdeu 20 mil milhões de euros na sequência de uma decisão «técnica» do executivo.

Há dezoito meses, o governo francês, em vez de subordinar o salvamento dos bancos em perigo a uma entrada na participação do seu capital, que em seguida poderia ter sido revendida com um belo lucro, preferiu conceder crédito a esses bancos em condições de que as próprias instituições não esperavam beneficiar. Os ganhos dos accionistas foram de 20 mil milhões de euros, quase tanto quanto o défice da Segurança Social francesa no ano passado (22 mil milhões de euros), e quarenta vezes o montante da poupança feita pelo Estado quando substitui por apenas um funcionário público cada dois que se aposentam.

A recuperação eleitoral da Frente Nacional em França, e em geral da extrema direita na Europa, não é totalmente alheia a esta divisão da atenção pública entre as adensadas e inflamadas polémicas secundárias e, por outro lado, a quase invisibilidade dos temas prioritários, pretensamente demasiado complicados para o comum dos mortais. Passado o fiasco das eleições regionais, Nicolas Sarkozy vai atirar se à «reforma das aposentações». Uma vez que as implicações sociais e financeiras são consideráveis, já se sabe que o governo francês vai procurar distrair a plateia relançando o «debate sobre a burqa».

Responder a esta manobra não obriga seguramente a que se mergulhe no seu terreno pantanoso, dando a impressão de defender um símbolo obscurantista, e menos ainda a que se acuse de racismo os homens e as mulheres feministas que legitimamente reprovam esse símbolo. Mas não deixa de ser curioso que uma direita que, em quase todo o lado, associou o seu destino ao das igrejas, do patriarcado e da ordem moral surja, de repente, misturada com laicidade, feminismo e livre pensamento. Também neste caso, o islão faz milagres!

Em 1988, George H.W. Bush sucedeu a Ronald Reagan após uma campanha marcada por uma demagogia insigne, durante a qual exigiu a criminalização do acto − praticado entre uma e sete vezes por ano − de queimar a bandeira estrelada. Com a coragem que podemos imaginar, mais de 90 por cento dos eleitos americanos adoptaram uma disposição repressiva neste sentido − que foi a seguir anulada pelo Supremo Tribunal. Na mesma altura rebentou um dos maiores escândalos da história económica dos Estados Unidos, o das caixas de poupança desregulamentadas pelo Congresso, cuja pilhagem por parte de vigaristas foi encorajada por senadores cujas campanhas eles tinham financiado. Em 1988, ninguém ou quase ninguém falava do perigo de uma fraude como esta, apesar de ele ser já conhecido. Era demasiado complicado… e, além disso, as mentes estavam ocupadas com a defesa da bandeira.

O contribuinte americano pagou 500 mil milhões de dólares pelo escândalo das caixas de poupança. Em breve saberemos o que a burqa realmente esconde. E quanto isso vai custar.

quinta-feira 8 de Abril de 2010

Notas

[1] Segundo um cálculo, estranhamente preciso, da Direcção Central das Informações Internas (DCRI).

Fonte: Le Monde Diplomatique (de França)


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