Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



sexta-feira, 18 de junho de 2010

Perda lamentável - Morre Saramago

Escritor português José Samarago morre aos 87 anos

José Saramago

Saramago recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1998

O escritor português José Samarago morreu nesta sexta-feira em sua casa em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, Espanha, aos 87 anos.

Saramago, criador de obras como O Evangelho Segundo Jesus Cristo, A Viagem do Elefante e Ensaio sobre a Cegueira, se tornou, em 1998, o primeiro e único escritor em língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de Literatura.

O escritor passou recentemente vários períodos hospitalizado devido a problemas respiratórios.

A Fundação José Saramago informou que o escritor morreu às 12h30 (hora local, 7h30 em Brasília) em sua casa em Lanzarote "em consequência de falência múltipla dos órgãos, após uma prolongada doença. O escritor morreu acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila", segundo o jornal português.

De acordo com o jornal português Público, o estado de saúde do escritor, que estava doente, era "estável", mas a situação teria se agravado de acordo com o editor de Saramago, Zeferino Coelho.

'Estável'

Saramago nasceu na aldeia portuguesa de Azinhaga no dia 16 de novembro de 1922 e, apesar de se mudar aos dois anos de idade com a família para a capital, Lisboa, a aldeia teve uma importância constante em sua vida e foi citada em 1998, quando Saramago tinha 76 anos de idade, no discurso perante a Academia Sueca pela atribuição do Nobel de Literatura.

Seu primeiro livro foi publicado em 1947, Terras do Pecado, um fracasso comercial que contava a história de um camponês em crise.

O título original proposto por Saramago, Viúva, foi alterado por imposição da editora, que o considerava pouco comercial. Esta seria uma das razões pela qual Saramago resistia a incluí-lo na sua bibliografia.

O romance seguinte, Claraboia, foi recusado pelo editor e permanece inédito até hoje.

O escritor trabalhou então como crítico literário e, a partir de 1968, entrou para o Partido Comunista Português, no qual militou até sua morte.

A partir da década de 60, Saramago também desenvolveu um intenso trabalho jornalístico, trabalhando em jornais em jornais como Diário de Notícias e Diário de Lisboa.

Em 1975 o escritor chegou ao cargo de diretor-adjunto do Diário de Notícias, mas foi demitido naquele mesmo ano e decidiu virar escritor em tempo integral.

Volta à literatura

A partir da década de 80, Saramago lança seus romances mais famosos. É de 1980 o livro que é considerado uma das obras fundamentais do escritor, Levantado do Chão, uma história sobre os trabalhadores da região do Alentejo, que fala sobre assuntos como reforma agrária.

O livro que rendeu fama internacional ao escritor, Memorial do Convento, foi lançado em 1982 e se tornou um dos mais estudados e discutidos trabalhos do escritor.

Em seguida, Saramago lançou outras obras famosas como o Ano da Morte de Ricardo Reis, em 1984, História do Cerco de Lisboa, em 1989.

Em 1991 o escritor lançou um dos mais polêmicos livros de sua carreira, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, com uma abordagem polêmica da história de Jesus.

Logo depois do lançamento deste livro, em 1993, Saramago se muda para Lanzarote, devido à oposição ao romance por parte do governo de direita de Portugal, que o considerou ofensivo aos católicos.

O governo do Partido Social Democrata, na época, vetou o romance para o Prêmio Europeu de Literatura.

Em 1995, Saramago lança Ensaio Sobre a Cegueira, que seria adaptado para o cinema pelo cineasta Fernando Meirelles em 2008.

Em setembro de 2008 Saramago lançou seu blog, chamado de O Caderno de Saramago.

Na época, o escritor afirmou que o espaço iria trazer "o que for, comentários, reflexões, simples opiniões sobre isto e aquilo, enfim, o que vier a talhe de foice".

A compilação dos posts de Saramago no blog foi publicada em 2009, trazendo textos nos quais o escritor criticava o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e o papa.

O último livro de Saramago, Caim, também foi lançado em 2009.

Falando à BBC em junho de 2009, o escritor afirmou que "posso ter três, quatro anos de vida, talvez menos".

"Toda vez que termino um livro, espero por outra ideia, que pode não vir desta vez, vamos ver."

Fonte: BBC Brasil

-=-=-=-=

A família, minhas condolências, de leitor e admirador.

-=-=-=-=

Saramago era conhecido por opiniões polêmicas e língua afiada

José Saramago

Saramago criticou a igreja e se referia a Berlusconi como 'vômito'

O escritor português José Saramago, que morreu nesta sexta-feira aos 87 anos, era conhecido tanto por seu talento literário como por suas visões polêmicas.

Saramago era um comunista ferrenho e seus desafetos incluíam a Igreja Católica, o governo israelense e o ex-presidente americano George W. Bush.

“Eu sou um comunista hormonal, meu corpo contém hormônios que fazem crescer minha barba e outros que me tornam um comunista. Mudar, para quê? Eu ficaria envergonhado, eu não quero me tornar outra pessoa”, disse Saramago ao repórter da BBC Alfonso Daniels, em uma entrevista em junho de 2009.

Recentemente, Saramago fez duras críticas ao primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, a quem se referia como “vômito”.

“Na terra da Máfia e da Camorra, o quanto é importante o fato provado de que o primeiro-ministro é um delinquente?”, perguntou em O Caderno de Saramago, o blog que escrevia no site da Fundação Saramago.

Desafetos

Em 2002, o escritor comparou a situação nos territórios palestinos com o campo de concentração nazista de Auschwitz.

“Nós precisamos tocar todos os sinos do mundo para falar que o que está ocorrendo na Palestina é um crime, e está em nosso poder parar isso”, disse ele, quando uma delegação de membros do Parlamento Internacional de Escritores se encontrou com o líder palestino Yasser Arafat em Ramallah.

“Nós podemos comparar (a situação palestina) com o que aconteceu em Auschwitz”, disse.

Eu sempre tendi a ver o lado negro das coisas, eu acho que as pessoas nascem com isso.

Saramago

Saramago também teve desentendimentos com o governo de seu próprio país.

Em 1992, ele se mudou em exílio simbólico para as Ilhas Canárias, depois que o governo português bloqueou a nomeação de seu livro O Evangelho segundo Jesus Cristo para um prêmio literário europeu por ser supostamente herético.

“O ser humano inventou Deus e depois escravizou-se a ele”, disse o escritor certa vez.

Fim de Portugal

Mais recentemente, em 2007, Saramago causou polêmica ao sugerir que Portugal um dia se tornaria parte da Espanha.

“Eu acho que nós acabaremos integrando”, disse ele ao jornal Diário de Notícias, de Lisboa.

Saramago afirmou acreditar que Portugal se tornaria uma província ou região autônoma do país vizinho.

Segundo o escritor, a Espanha provavelmente mudaria de nome e se chamaria Ibéria, mas os portugueses não virariam espanhóis.

As declarações foram amplamente criticadas por outros escritores e pela imprensa portuguesa.

Em outra entrevista, esta ao jornal português Público, o escritor disse também que “como portugueses estamos cansados de viver”.

“Se calhar, a nossa missão histórica acabou”, afirmou na entrevista.

Pessimismo

Saramago também era conhecido ainda por seu lendário pessimismo.

“Eu sempre fui uma criança séria, melancólica”, disse à BBC.

“Eu sempre tendi a ver o lado negro das coisas, eu acho que as pessoas nascem com isso”, afirmou, ao ser perguntado se a criação rural poderia ser responsável pelo pessimismo que, segundo ele, estava cada vez maior.

Em abril de 2009, várias das opiniões polêmicas de Saramago foram incluídas no livro O Carderno, uma coletânea de textos publicados por ele em seu blog.

Fonte: BBC

-=-=-=-

ENTREVISTA JOSE SARAMAGO

"Siendo los hombres lo que son, dios sólo podía ser malo"

BUENOS AIRES, Recoleta. Saramago, durante una de sus visitas.

José Saramago ha tenido que responder cientos de preguntas, de reclamos, de cuestionamientos tras la publicación de Caín y, sobre todo, tras las durísimas declaraciones con las que acompañó esa publicación.

Por eso, porque ha recibido tantas preguntas, dice que prefiere contestar por correo electrónico a algunas preguntas de Clarín.

Desde su casa de Lisboa, entonces, Saramago envía sus respuestas.

¿Por qué elegir a Caín como el testigo de la historia humana? ¿Qué aporta su mirada?

No es tan complicado. Caín no podría nunca ser testigo de la historia humana porque no la vivió. Mi intención ha sido denunciar el absurdo de la "existencia" de un dios que los hombres han inventado y a quien inmediatamente se han esclavizado. Siendo los hombres lo que son, el ese dios sólo podía ser lo que es: cruel, rencoroso, en suma, malo.

¿Por qué era necesario mostrar la maldad de un Dios en cuya existencia usted no cree?

Que yo crea o no es indiferente. Dios, para mí, es un tema importante por el espacio que ocupa en la mente de la humanidad. Imagino que nunca nos liberaremos de esa presencia nefasta, pero no cesaré de decir lo que pienso por mucho que le duela a la Iglesia y a sus hombres.

¿Espera convencer a los creyentes de algo o piensa que a los creyentes no les importa o los tranquiliza saber que su Dios es feroz?

No espero convencer a nadie y mucho menos a un creyente. Sus razones, para llamarlas así, no son las mías. Vivimos en universos distintos. A mí me bastará introducir algún desasosiego en la cabeza de mis lectores, creyentes o no.

En su novela, Caín triunfa sobre Dios. ¿Es un final feliz? ¿Es una victoria de la humanidad? ¿O es una victoria pírrica, que termina con la desaparición de la humanidad?

Con Caín no habrá otra humanidad. Si se trata de una victoria pírrica o no, no es cosa mía. En realidad, pienso que no nos merecemos la vida.

Usted dice: "Ya en ese tiempo los judíos hablaban mucho y tal vez demasiado". ¿Considera que a través de la historia los judíos deberían haber hablado menos?

Hablaron lo quisieron o lo que pudieron. Pero tengo la idea, quizá equivocada, de que a los judíos les encanta hablar por hablar.

También dice que "como siempre ha sucedido, a la mínima derrota los judíos pierden la voluntad de luchar". ¿Puede decirse eso de un pueblo que sobrevive desde hace milenios?

Sí, pero sin luchar, salvo contadas excepciones. El victimismo es el himno nacional judío. Véase lo que dice Josué a Dios cuando perdió treinta y seis hombres. Está en la Biblia, no lo inventé yo.


Fonte: http://www.revistaenie.clarin.com


-=-=-=-


ENTREVISTA: LIBROS - Entrevista José Saramago
"La muerte es la inventora de Dios"
Una "lógica impecable" caracteriza Caín, la última novela del premio Nobel, profundamente seria y llena de humor, en la que el escritor reescribe libremente la historia "mal contada" del personaje bíblico

FRANCESC RELEA 17/10/2009


Hay quien me niega el derecho de hablar de Dios, porque no creo. Y yo digo que tengo todo el derecho del mundo. Quiero hablar de Dios porque es un problema que afecta a toda la humanidad". José Saramago (Azinhaga, 1922) ha vuelto a escribir de un tema que le inquieta. Lo ha hecho esta vez a través de una figura bíblica con mala prensa. Caín (Alfaguara), última novela del premio Nobel de Literatura de 1998, tiene grandes posibilidades de levantar las iras de algunos sectores católicos. Nada nuevo para el escritor portugués, que en 1991 generó una polémica mayúscula con El Evangelio según Jesucristo. En aquella ocasión, el Gobierno luso se sumó a la campaña contra Saramago, al vetar su nombre como candidato al Premio Literario Europeo. El primer ministro era el conservador Aníbal Cavaco Silva. Hoy es el presidente de la República. El veto indignó al escritor, que decidió autoexiliarse en Lanzarote, donde reside con su esposa, Pilar del Río, desde entonces.

* Fallece a los 87 años José Saramago
* Saramago se extingue en Lanzarote


"La izquierda no tiene ideas. Ningún partido ha presentado una sola idea para combatir la crisis"

¿Se puede repetir la historia ahora con Caín? "No. Ya metieron una vez la pata. No repetirán la experiencia, a no ser que quieran caer en el ridículo", dice Saramago, con aparente convicción. La entrevista tiene lugar en su casa lanzaroteña, refugio del escritor, a la que acuden amigos de todos los rincones. Dentro de unas horas tiene prevista la llegada de Mario Vargas Llosa. "El Evangelio... provocó las reacciones más violentas en sectores católicos de Italia. Me llamaron provocador", explica. "En mi opinión, los católicos no tienen motivos para enojarse con Caín, porque no tiene nada que ver con ellos. El libro habla del Antiguo Testamento, y me parece que los católicos no leen la Biblia ni el Antiguo Testamento. Tienen el Nuevo Testamento, que es un texto simpático con parábolas bonitas. Creo que Caín sentará mal a los judíos, porque la Torá es su libro. Me llamarán de nuevo antisemita. No me importa. He escrito el libro que quería y creo que es una buena obra literaria". Una obra que reescribe libremente una historia, la Biblia, que según el autor no ocurrió. Y para ello usa elementos de esta historia, Babel, Jericó, Sodoma y Gomorra, Moisés en el Sinaí. Entonces ¿qué ha escrito? ¿Una fantasía? "Sí, pero en mis fantasías hay mucha lógica, y esto ocurre en muchos de mis libros. Le propongo al lector un punto de partida que puede parecer absurdo. Pero después, el desarrollo es siempre de una lógica impecable". Acaso pretende hacerle la competencia a la Biblia. "De ninguna manera. No pretendo que el lector crea haber visto la luz después de leer el libro. Sólo propongo que piense en sus propias creencias y qué espera de ellas. ¿La vida eterna? ¿La condena al infierno?".

En la controvertida novela del Evangelio, Saramago humanizó la figura de Jesucristo. Algunos lectores de su último libro apuntan que ahora humaniza la figura de Caín. Pone cara de póquer, medita un instante y hace la siguiente reflexión: "Lo que pasa es que Jesús humaniza la figura de Dios. Jesús suavizó y matizó el Dios del Antiguo Testamento. Nunca tuve la conciencia de que estaba humanizando a Caín, pero, claro, es el fratricida, el asesino de su hermano Abel. En castellano hay la palabra cainita, que habla por sí sola. Siempre he pensado que la historia de Caín es una historia que ha sido mal contada en la Biblia. Como la de David y Goliat. Goliat nunca ha podido acercarse a David, David venció porque tenía una honda, que era la pistola de la época".

De dónde viene esa obsesión por escribir de Dios, pregunto, porque el tema de fondo es Dios, aunque ahora sea a través de la figura de Caín. "Puede parecer extraño", dice. "Nunca tuve educación religiosa. Ni en el colegio, ni en casa. No tuve crisis religiosas en la adolescencia ni cuando uno empieza a preguntarse sobre la muerte. Sinceramente, creo que la muerte es la inventora de Dios. Si fuéramos inmortales no tendríamos ningún motivo para inventar un Dios. Para qué. Nunca lo conoceríamos".

El ateísmo del autor tiene sus matices. "Ateo es sólo una palabra. En el fondo, estoy empapado de valores cristianos, y es verdad que algunos de estos valores coinciden con valores de humanismo. Los acepto. Ahora bien, todo lo que tiene que ver con la creencia en un Dios superior y eterno, que un día me condenará, me parece una chorrada".

Las páginas de Caín son implacables con Dios. "No", replica. "Soy implacable con la especie humana, que ha inventado el Señor". Bueno, pero el libro dice, entre otras cosas, que Dios no es de fiar, que es capaz de pactar con Satán, que está rematadamente loco. Le trata de rencoroso, maligno, corrupto... Le acusa de despreciar la Justicia. Y así hasta el final, donde afirma que Dios acaba por arrepentirse de haber creado el hombre. "Sí, por eso, según la Biblia, ordenó el diluvio y exterminó a la humanidad, a excepción de Noé y su familia. El libro es una lucha entre el hombre y Dios. Con Caín, que no era precisamente un santo sino todo lo contrario, pero en el fondo más limpio de mente y más transparente".

Mientras escribía, Saramago tropezó con un problema narrativo que parecía no tener solución: el paso de Caín por el tiempo. ¿Qué hacer? "Inventé, no el futuro ni el pasado, sino lo que llamo otro presente. De repente, Caín se encuentra en otro presente, no importa que sea pasado o futuro. Creo que conseguí conservar el humor en un tema tan complicado. El libro es divertido y profundamente serio". No es una ironía premeditada, asegura. Nunca premedita nada. La historia marca el camino de cómo tiene que ser narrada. "Soy una mano obediente que intenta no hacer nada en contra de la lógica y de lo que estoy escribiendo. Que acepta lo que quiere la propia historia. La ironía es una constante en todos mis libros. El humor aparece por primera vez en El viaje del elefante, y se repite en Caín. No fue una decisión consciente, simplemente ocurrió así".

La novela termina con una discusión, cargada de reproches mutuos, en el umbral de la gran puerta del arca de Noé, entre Dios y Caín: "Caín eres el malvado, el infame asesino de su propio hermano. No tan malvado e infame como tú, acuérdate de los niños de Sodoma". Es la eterna discusión entre el hombre y Dios, precisa el escritor. Una discusión sin salida. "Ni él nos entiende a nosotros, ni nosotros le entendemos a él. Son dos entidades que no se han entendido, no se están entendiendo y no se entenderán".

Saramago lo escribió en cuatro meses, la mitad del tiempo invertido en su anterior libro, El viaje del elefante. En ambos casos, reconoce, tenía prisa por escribir, en una carrera contra el tiempo. No podía bajar el ritmo. "Ahora ya puedo darme el lujo de reducir la velocidad. Cumpliré pronto 87 años. La vida es como una vela que va ardiendo, cuando llega al final lanza una llama más fuerte antes de extinguirse. Creo que estoy en el periodo de la última llamarada, antes de la extinción. Lo digo sin dramatismo. Tengo muy claro que no voy a vivir mucho más. Ahora estoy en una fase en la que sí creo que puedo hacer un trabajo y lo puedo hacer bien, quiero hacerlo. Después acabará todo y quedarán mis libros, que pienso seguirán siendo leídos. Espero, si la salud aguanta, terminar la novela que tengo entre manos". No revelará nada del próximo libro. Tan sólo un detalle: ya tiene decidida la última frase. No habrá sorpresas ni cambios sobre la marcha. No suele haberlos en su escritura. "Creo que soy un escritor lógico".

Pilar del Río va y viene por la casa, como siguiendo en la distancia la conversación. Saramago habla con cierta parsimonia, pero no da muestras de cansancio. Pasamos de la literatura a la política, su otra gran pasión. Le gusta hablar de política. Toma carrerilla y no para. Las primeras críticas son para el Partido Socialista (PS), que ha gobernado en Portugal los últimos cuatro años y medio con mayoría absoluta, y que seguirá en el poder después de ganar las elecciones del pasado 27 de septiembre. "El Gobierno socialista ha hecho políticas de derecha y el problema es que no hay ningún palacio de invierno para asaltar. Lo peor de todo, y esta crisis lo ha demostrado, es que la izquierda no tiene ideas. Ningún partido de izquierda, más o menos roja, más o menos rosa, ha presentado una sola idea para combatir la crisis. Y con los sindicatos ha ocurrido lo mismo. Su fuerza está dormida, domesticada. Me parece que Marx nunca ha tenido tanta razón como ahora. Pero eso no es suficiente. Haría falta una reflexión profunda, partiendo de Marx".

Es sabido que el premio Nobel portugués es militante del Partido Comunista desde los años sesenta. Un PC que no tiene parangón en la Unión Europea, de larga tradición estalinista, que sigue llamándose comunista, que conserva la iconografía bolchevique, hoz y martillo, bandera roja, que sigue soñando en épocas pasadas, probablemente más próximas a lo que representaba la antigua Unión Soviética, y que, contra viento y marea, tiene un electorado inquebrantable de medio millón de votos, que representa alrededor del 8%. El escritor admite que "es muy posible" que el PCP viva anclado en el pasado. "Lo que pasa es que tenemos una herencia, de la que no puedo despegarme. Y es posible que esta herencia no tenga mucho que ver con la realidad actual. Pero ¿por qué la realidad actual tiene razón?". Su militancia comunista tiene, probablemente, más de sentimentalismo que de convicción. "Los sentimientos cuentan. No me reconocería en ningún otro partido. Puede que sea mi culpa, y que esté enquistado en ideas del pasado, pero yo también tengo mi propio pasado. Francamente, no sabría convivir en otro partido si mañana dejara el PCP. No me pasa por la cabeza". Entonces ¿por qué sigue en el Partido? "Por respeto a mí mismo. He sido muy crítico con mi partido. Dije en una ocasión que nunca dejaría el partido, con una condición: que el partido no me deje a mí. Dejarme a mí sería un cambio radical de rumbo. No creo que eso ocurra". Tuvo una incursión, fugaz, en la política activa, cuando fue presidente de la asamblea municipal del Ayuntamiento de Lisboa. Duró cuatro meses y acabó enojado hasta con su propio partido. No le quedaron ganas de repetir la experiencia, aunque en alguna ocasión aceptó ir en las listas electorales en lugares no elegibles. "Creo que sería un diputado muy bueno", dice sin cortarse. "Siempre he dicho lo que he querido, y también es cierto que la dirección del partido nunca ha hecho nada para impedírmelo".

Saramago hace tiempo que no sube a su escritorio, en el piso superior de la casa, porque la estrecha escalera entraña un riesgo demasiado alto. El estudio tiene una hermosa vista con el Atlántico al fondo, la mesa de trabajo, anaqueles con los libros más queridos, pinturas, recuerdos. Ahora escribe en la biblioteca construida en un edificio anexo a la casa, que alberga su colección particular, convenientemente catalogada, a la espera de su traslado a la Casa dos Bicos, un edificio emblemático del gótico lisboeta, construido en 1523, que será la sede de la Fundación José Saramago, gracias a la colaboración del Ayuntamiento de la capital. "La fundación es cosa de Pilar", dice el escritor. La compañera inseparable, traductora de sus últimos libros, es el motor del engranaje. "No sólo el motor, también las ruedas". En la recta final de su vida, contempla una vuelta, tal vez parcial, a su querida Lisboa, donde tiene una casa. "Ahora nos vamos a Italia y luego nos quedaremos unas semanas en Lisboa. Allí siento que estoy en casa. Nunca pensé que viviría en una isla en medio del Atlántico, a 100 kilómetros de la costa africana". Todo parece a punto para el regreso.

-

Caín. José Saramago. Traducción de Pilar del Río. Alfaguara. Madrid, 2009. 200 páginas. 18,50 euros. Caín. Traducción de Núria Prats. Edicions 62. Barcelona, 2009. 144 páginas. 18,50 euros.

Nenhum comentário: