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terça-feira, 21 de setembro de 2010

NEONAZISMO NA POLÍTICA SUECA

Mobilização popular na Suécia reitera tolerância a imigrante

Ana Carolina Moreno
Especial de Estocolmo

A Sergels Torg, praça central de Estocolmo, esteve mobilizada dia e noite nos últimos 30 dias por causa de uma acirrada campanha eleitoral, que terminou com 320.000 votos de diferença entre os dois blocos majoritários. Mas foi apenas nesta segunda-feira (20), um dia após a votação, que o movimento no coração da Suécia realmente fervilhou. Mais de cinco mil pessoas protestaram, naquela tarde, contra os 330.000 votos que o Partido Suécia Democrata recebeu nas urnas no último domingo. Foi o suficiente para que a legenda, fundada em 1988 a partir de um movimento com raízes neonazistas, conquistasse 20 das 349 cadeiras do Parlamento sueco.

Não bastasse o sucesso inédito, o partido ainda manterá, pelos próximos quatro anos, uma posição privilegiada no Parlamento, já que o bloco de centro-direita, liderado pelo atual primeiro ministro Fredrik Reinfeldt, do Partido Moderado, não conseguiu assegurar a maioria absoluta por apenas quatro cadeiras.


O premiê Reinfeldt, após o resultado das eleições
legislativas, em Estocolmo (foto: EFE)

Protagonista em uma eleição onde o sentimento geral era o de falta de alternativas, a extrema-direita, com os 5,7% dos votos totais que recebeu, sagra-se como a grande vencedora do pleito sueco. O grande perdedor, com unanimidade, foi o Partido Social Democrata, que governou a Suécia durante grande parte do século XX, muitas vezes sem necessidade de fazer alianças. Com 30,9% dos votos, o partido liderado por Mona Sahlin recebeu o maior número de votos, mas amargou o pior resultado nas urnas desde 1914. Mesmo aliando-se ao Partido de Esquerda (antigo Partido Comunista) e ao Partido Verde, e trazendo jovens militantes de partidos-irmãos da Finlândia, Dinamarca e Reino Unido para ajudar na campanha, os social-democratas não foram capazes de impedir a segunda maioria consecutiva da história do Partido Moderado, que desde 2006 governa em bloco com o Partido de Centro, o Partido do Povo e o Partido Democrata Cristão.

Será o mandato mais longo da história dos conservadores, que em quatro anos reduziram consideravelmente os impostos altíssimos de cerca de dois terços da população, recortando gastos principalmente nos fundos de seguro-desemprego, que afetam justamente os outros 33% da sociedade sueca. O futuro da Suécia, no entanto, pode não ser de todo cinza. O resultado positivo da extrema-direita é percebido pelos analistas como um protesto da população quanto à centralização dos demais partidos em um bolo quase homogêneo. "O fato de que pela primeira vez tivemos política de blocos significou que a Suécia Democrata foi vista como a única alternativa ao poder estabelecido", explicou o cientista político Ulf Bjereld, da Universidade de Gotemburgo, à Associated Foreign Press.

O discurso do partido, que em resumo culpa a população imigrante por todas as mazelas da Suécia moderna, não recebe qualquer respaldo de nenhum dos blocos. Ambos os líderes já prometeram não dialogar com a extrema-direita, ainda que o líder da Suécia Democrata, Jimmie Aakesson, garanta que os 20 votos serão valiosos para ambos os lados a partir de agora.

Apesar do resultado, a Suécia continua entre os países mais tolerantes em relação a imigrantes, e tem um longo histórico de recepção de refugiados, desde os exilados chilenos, argentinos e brasileiros durante as décadas de 60 e 70 até os refugiados do Irã, Iraque, Somália, Eritreia durante os anos 80 e, finalmente, os bósnios, com o fim da Iugoslávia. Hoje, 19% da população sueca, que ronda os 9,4 milhões, nasceu em outro país ou é filha de imigrantes. Só em 2010, mais de 100.000 pessoas receberam visto de residência do governo.

Estima-se que cerca de 250.000 cidadãos suecos são muçulmanos, a religião mais atacada nos discursos da Suécia Democrata. O vídeo http://www.youtube.com/watch?v=ewwYHTn_xxc, parte da campanha eleitoral do partido, mostra o orçamento do país e uma corrida para chegar ao dinheiro: de um lado, uma senhora de pele clara e cabelos grisalhos que necessita de um andador para caminhar. Do outro, um grupo de mulheres debaixo de burcas correndo com carrinhos de bebês. Pergunta-se ao eleitor com qual time ele prefere deixar o dinheiro que paga em impostos: pensionistas ou imigrantes.

Uma solução para o impasse criado nas urnas no último domingo pode ser a convocação de um novo pleito, caso o governo não se sustente. A opção já foi mencionada por ambos os blocos, mas a predileção sueca pela estabilidade de seu sistema político pode ser forte demais para submeter a população a outra campanha, que poderia tanto expulsar a extrema-direita quanto desgastar ainda mais os partidos majoritários.

Micropartidos

Outros partidos que participaram na eleição, mas não conquistaram o número mínimo de votos, foram o Partido Pirata e a Iniciativa Feminista, ambos com plataformas específicas (o primeiro quer proteger as liberdades civis e a privacidade e reformar os direitos autorais, e o segundo luta principalmente pela igualdade de salários entre homens e mulheres).

As feministas contam com uma líder carismática que já ocupou um cargo no Parlamento representando o Partido de Esquerda e depois como independente, mas sua plataforma também obteve pouca atenção midiática.

Já o Partido Pirata, movimento iniciado em 2006 na Suécia e hoje reproduzido em outros 45 países, ganhou estrelato nas eleições para o Parlamento Europeu no ano passado, quando alcançou 7,2% dos votos e elegeu dois de seus membros, consolidando o terceiro maior número de filiados do país. Mas perdeu espaço na mídia em 2010 porque o próximo capítulo da novela que mais mexe com seus interesses, o julgamento do site de downloads The Pirate Bay, foi inteligentemente adiado para nove dias após as eleições, e sumiu do radar da opinião pública.

Na semana que vem, a internet voltará a ocupar as mentes e conversas da sociedade sueca sobre o rumo que a população quer tomar. Já começou, na verdade. O protesto desta segunda-feira na capital da Suécia foi organizado no Facebook, em menos de 24 horas, a partir da iniciativa de Felicia Margineanu, uma adolescente de 17 anos.

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