Os tambores de ogan se fizeram ouvir dentro do plenário da Câmara de Vereadores de Florianópolis, numa solenidade que fez parte da 4ª Semana das Religiões de Matrizes Africanas. Durante a sessão ordinária de terça-feira, dia 19 de abril, foram homenageadas as seguintes lideranças dos terreiros de umbanda da Capital: Mãe Tânia, Babalorixá Edenílson de Oxaguian, Mãe Chica de Xangô, Pai Mozart de Obaluaê e a Mãe Zulma da Cabocla Jurema.
A programação da semana iniciou com a audiência pública, realizada à tarde no plenarinho da Câmara, que tratou da intolerância contra as religiões de matrizes africanas. Conduzida pelos vereadores Erádio Gonçalves (DEM), Célio Bento (PMDB), Renato Geske (PR) e Lino Peres (PT), dentro da Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Pública, a audiência serviu como denúncia da discriminação e da violência cometidas contra os que frequentam os terreiros no município de Florianópolis, com relatos de invasões praticadas pela Polícia Militar, sob a desculpa de imposição da lei do silêncio e supostas perturbações da ordem pública, e, inclusive, de uma casa que foi incendiada no Morro da Queimada.
De acordo com a coordenadora de Políticas Públicas pela Igualdade racial da Prefeitura de Florianópolis, a professora Ana Paula Cardozo, existem aproximadamente 400 casas de umbanda em Florianópolis e perto de mil casas na região metropolitana. “Essa questão da intolerância não é, no entanto, algo só de Florianópolis. Acontece em todo o país essa ideia de demonização da matriz africana”, diz Ana Paula, que lembra que o instituto jurídico da liberdade religiosa foi ampliado na Constituição de 1988, uma vez que é inerente a todo culto religioso a ordem pública e os bons costumes.
Segundo Ana Paula, apesar disso, o Brasil continua sendo um país racista, pois os danos praticados por séculos de escravatura não foram reparados até agora. Um exemplo desse comportamento são as frequentes críticas, tanto por parte de certos intelectuais quanto por profissionais de órgãos de imprensa, ao sistema de cotas nas universidades. “Em Florianópolis, a comunidade negra vem buscando sair da invisibilidade a que foi imposta pela opressão e a intolerância religiosa. Mas, de uns três a quatro anos para cá, com as políticas de afirmação e a mobilização das pessoas, o exercício pleno da democracia está se fortalecendo”, afirmou.
Antes da homenagem no plenário, aconteceu, também dentro da programação da Semana, na Galeria Martinho de Haro, a inauguração da exposição fotográfica “Pai Leco, Tata de Inquice Arolegy e Comunidade Terreiro Abassá de Odé: uma história de vida”, de autoria de Marliese Vicenzi Franco, pesquisadora do NUER – Núcleo de Estudos Sobre Identidade e Relações Interétnicas da UFSC. Marliese passou dois anos no terreiro de Angola do Pai Leco, pesquisando para a sua dissertação do curso de Ciências Sociais. As fotos foram feitas entre agosto de 2009 e fevereiro de 2010, um pouco antes do falecimento do Pai Leco, no dia 1º de março do ano passado.
Fonte: PORTAL DA CÂMARA MUNICPAL DE FLORIANÓPOLIS
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