CALENDÁRIO HISTÓRICO | 03.07.2011
No dia 3 de julho de 1801, o negociante Israel Jacobson fundou uma escola religiosa na região alemã do Harz, dando início ao judaísmo reformado.
Quatro placas cimentadas no calçamento marcam a área do templo e um obelisco rememora a sua destruição: a sinagoga de Seesen foi incendiada na noite do pogrom de 9 de novembro de 1938. Muito antes, na sua inauguração há 200 anos, o templo fora palco de um fato histórico: o surgimento do judaísmo reformado.
No dia 3 de julho de 1801, o negociante Israel Jacobson recebeu do duque Wilhelm Ferdinand, de Braunschweig, a permissão de construir a Escola Religiosa e Industrial na cidadezinha de Seesen, na região do Harz. O objetivo principal dessa escola era propiciar às crianças judias a formação geral e a educação dentro dos parâmetros morais burgueses, ao lado também de um treinamento profissional.
Aproximação entre judeus e cristãos
Elas não deveriam mais ficar presas apenas à profissão tipicamente judaica de comerciante. Além dessa emancipação de cunho prático, Jacobson desejava fomentar o convívio entre judeus e cristãos, já a partir da infância. Assim, apenas um ano após a sua criação, a escola de Jacobson começou a ser frequentada também por crianças cristãs.
Essa aproximação do judaísmo com o seu ambiente cristão era uma consequência dos escritos iluministas de Moses Mendelssohn – e foi adotada por Israel Jacobson também na configuração formal do culto religioso da sinagoga. No templo da sua escola, foram celebrados os primeiros cultos judeus reformados.
A denominação inicial de templo, em vez de sinagoga, já demonstrava a diferença em relação às igrejas judaicas tradicionais. Jacobson introduziu a música de órgão, bem como o canto coral. A prédica não era mais feita em hebraico e sim no idioma nacional, o alemão. Foi eliminada a tradicional separação dos assentos de homens e de mulheres. Posteriormente, Jacobson substituiu até mesmo a tradicional cerimônia de Bar Mitzwah por uma cerimônia de confirmação da fé para meninos e meninas.
A cultura protestante do norte da Alemanha lhe serviu de modelo. Os judeus não queriam mais viver à parte, mas sim mais integradas na sociedade e na religião. Isto era manifestado também pela inscrição sobre a porta de entrada do templo de Seesen: "Não temos todos nós um único pai? Não nos criou um único Deus?".
Expansão do movimento
O modelo de Seesen logo foi seguido pelas comunidades de Wolfenbüttel, Dessau e Frankfurt. A partir de 1817, surgiu em Hamburgo até mesmo o chamado Movimento do Templo. Em meados do século 19, após querelas entre as comunidades judaicas, uma grande parte dos reformistas mais resolutos emigrou para os EUA.
Nos Estados Unidos, o movimento reformista ganhou um novo impulso. Sob a égide do rabino Isaac Mayer Wise, os paradigmas centrais de reforma do judaísmo norte-americano foram formulados em fóruns públicos em Filadélfia e Pittsburgh.
Foi criado um breviário de grande aceitação, assim como o Hebrew Union College, um centro de formação de rabinos. A maior parte dos judeus reformados encontra-se, ainda hoje, nos EUA. Lá, perfazem 35% de todas as comunidades sinagogais.
Em Israel, os reformistas são ativos, mas não reconhecidos oficialmente. Isto é uma consequência do posicionamento antissionista dos judeus reformados. Dos 13 milhões de judeus em todo o mundo, cerca de 1,5 milhão praticam hoje a doutrina reformista.
Antes do Holocausto, o judaísmo reformado era dominante também nas comunidades judaicas alemãs. As comunidades fundadas depois de 1945 tiveram então uma orientação ortodoxa, pelo fato de a maioria dos seus integrantes ser de origem europeia oriental.
Ressurgimento na Alemanha
Somente nos últimos anos é que ressurgiu um pequeno movimento reformista, organizado a partir de 1997, através da União dos Judeus Progressistas. Sua meta é fomentar "o estudo da tradição judaica, em harmonia com o moderno". Em primeiro plano, está o objetivo de "despertar o interesse ativo pelo judaísmo progressista naqueles que até agora ficaram afastados da vida religiosa".
Isso abrange sobretudo os judeus russos, que emigraram ultimamente para a Alemanha. Os rabinos progressistas, tanto homens como mulheres, recebem a sua formação no Colégio Abraham Geiger, em Potsdam, fundado em inícios do século 21.
Desta maneira, o judaísmo reformado retornou à Alemanha – mais de 60 anos após a destruição do templo de Jacobson, o berço do movimento. Em Seesen, já não há comunidade judaica. Mas a antiga Escola Religiosa e Industrial, com a qual tudo começou, ainda existe e traz hoje o nome do seu fundador: Ginásio Jacobson.
Dirk Stroschein, para DEUTSCHE WELLE
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