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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Por que a Igreja não os quer como santos

Conheça as histórias de dois religiosos que o Vaticano desistiu de canonizar por causa de suas biografias

Rodrigo Cardoso

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MADRE ÁGREDA
Em seu livro, ela ousou mudar a cartilha da Igreja e foi punida
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Padre da diocese de Soissons, na França, João Leão Dehon (1843-1925) ficou famoso por fundar a Congregação Sagrado Coração de Jesus e imprimir um viés sociopolítico à sua atuação religiosa. Não demorou para que, após a sua morte, a comunidade francesa abrisse um processo de canonização em nome do religioso. Mas, pouco antes da data marcada para a cerimônia de beatificação, um passo antes da santificação, o Vaticano surpreendeu ao interromper os trâmites. Motivo: Dehon foi acusado de antissemita. “Não existe santo perfeito”, afirma o sacerdote e pesquisador de comunicação religiosa José Fernandes de Oliveira no livro “João Leão Dehon – o Profeta do Verbo Ir” (Paulinas Editora), que chega às bancas na próxima semana.

A perfeição não é um dos pré-requisitos para a conquista da santidade, mas alguns desvios de currículo são fatais para impedir a ascensão aos altares – e a intolerância aos judeus no século XX, definitivamente, é um deles. Por isso a suspensão da beatificação de Dehon. Em contrapartida, frear uma canonização é um ato raríssimo de acontecer, pois o Vaticano breca o processo antes mesmo que ele comece, ao menor sinal de problemas com o postulante. Mesmo assim, há outros candidatos a santo vagando no mesmo limbo onde se encontra Dehon. Como a freira concepcionista espanhola Maria de Jesus de Ágreda (1602-1665), que assumiu ter o dom da bilocação (estar em dois lugares ao mesmo tempo). Em 1635, a Santa Inquisição abriu uma investigação contra a religiosa, que confirmou ter se deslocado 500 vezes entre a Espanha e o Novo México para evangelizar tribos de índios, sem nunca ter saído de seu mosteiro. Amiga e conselheira do rei Felipe IV, Ágreda foi absolvida. Foi, porém, um de seus livros, “Mística Cidade de Deus”, em que a religiosa relata a vida de Nossa Senhora, que gerou um conflito em torno de sua trajetória à beatificação. Em uma das passagens, é atribuído a Nossa Senhora – e não a Pedro – o governo da Igreja.

A leitura da obra foi proibida pela Inquisição em agosto de 1681. O decreto foi abolido pelo papa Inocêncio XI três meses depois. O incidente, porém, tornou a sua causa apostólica um vespeiro. Dois papas – Clemente XIV e Pio XII – chegaram a assinar um documento promulgando o “decreto de perpétuo silêncio” sobre a causa da concepcionista. Nenhuma mulher recebeu tratamento tão duro em sua caminhada rumo à santidade. Atualmente, o corpo da religiosa está exposto no Convento de Ágreda, na Espanha. Está intacto, o que evidencia um sinal de santidade. Mas ninguém se arrisca a reabilitar a sua causa. “Com a beatificação da freira e vidente alemã Anna Catarina Emmerich e a canonização da mística polaca Fautina (Kowalska), feitas por João Paulo II, religiosos se movimentaram para pedir uma revisão das obras de Maria de Ágreda”, diz o cônego Celso Pedro da Silva, especialista em Sagrada Escritura.
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PADRE DEHON
Acusado de antissemita, sua beatificação foi suspensa meses antes da cerimônia

Os dehonianos também aguardam uma reviravolta na causa do padre francês tachado de antissemita. A prudência em torno do caso Dehon falou mais alto em Roma porque bispos da França relataram a Bento XVI que o diálogo entre os sacerdotes e a comunidade judaica, naquele país, estava prejudicado com a iminência da beatificação do fundador da Congregação. “A doutrina da Igreja, hoje, manda citar os fatos e poupar as pessoas”, diz o padre Oliveira. Mas, em fevereiro de 1897, ao levantar a voz contra os capitalistas da França, o anarquismo de Pierre Proudhon e o socialismo de Karl Marx em uma conferência que tratava sobre o judaísmo, o capitalismo e a usura, Dehon bateu forte nos judeus e nas relações deles com a economia. “A usura voraz, os abusos da indústria, a facção que domina todas as fontes de riqueza: estas são as grandes obras dos judeus modernos”, disse ele. Generalizou e, 108 anos depois, pagou o preço da ousadia. O francês, porém, não pode ser acusado de orquestrar o ódio antissemita. Sociólogo, filósofo, teólogo e advogado, ele pensava a Igreja sob a ótica do engajamento sociopolítico. E o fazia em uma época em que, para muitos católicos, justiça social era engordar a esmola aos necessitados. Na fatídica conferência, Dehon desfilou uma série de gestos de bondade e respeito em relação aos judeus, reforçando o quanto eles foram injustiçados. Não propunha que nenhum povo fosse lançado à câmara de gás. Enfrentava grupos econômicos que manipulavam o dinheiro em uma Europa que se industrializava, massacrava gente humilde e se desumanizava. E entre eles estavam os judeus. Dehon ainda permanece no estágio de venerável, assim como a madre espanhola Ágreda. Para seus milhares de fiéis, eles já alçaram a santidade.
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Fonte: ISTO É INDEPENDENTE

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