Em antigas igrejas de Dublin, Liverpool e Amsterdã, o atrativo passa longe do turismo religioso: gospel só toca se for na pista de dança e o menu de bebidas vai além do vinho
Igrejas são lugares praticamente obrigatórios na lista dos turistas, seja pelos aspectos religiosos ou pelas características históricas e arquitetônicas. Algumas, no entanto, têm um motivo mais profano para serem visitadas: se transformaram em bares. Saem os cânticos religiosos, entram os DJs.
Uma das igrejas convertidas, a St. Mary Church, deu lugar ao bar e restaurante The Church, em Dublin, na Irlanda, atraindo cerca de 600 mil pessoas por ano. Construída no começo do século 18, ela funcionou como templo religioso até 1963, tendo sido frequentada até por personalidades como Jonathan Swift, autor de As viagens de Gulliver.
Nela também foi realizado o casamento de Arthur Guinness, criador da cerveja famosa, disputadíssima na casa. A ideia de transformar o prédio, que caía em ruínas, foi do dono de um bar do outro lado da rua.
O edifício passou por uma meticulosa reforma que durou sete anos até ser reaberto, em 2005, como John M. Keating’s Bar. Dois anos mais tarde, foi revendido e ganhou o nome atual. Segundo a gerente de vendas da casa, Una Connolly, a transformação raramente ganha comentários negativos: “Os moradores receberam o The Church como um grande trunfo para a área, trazendo vida para a vizinhança”.
O The Church conta com vários ambientes. No mezanino fica o restaurante, de onde se vê o órgão construído por Renatus Harris, famoso fabricante do fim do século 17. A torre e o porão estão destinados a festas particulares – a reserva exclusiva para o subsolo, que comporta 100 pessoas, custa € 600. Há ainda o café, o terraço – que abre de maio a setembro, sempre que o tempo permite – e a casa noturna The Club @ The Church. Com entrada gratuita, toca sucessos comerciais e R&B.
Liverpool
A música gospel não foi deixada totalmente de lado no bar e restaurante que ocupou o prédio da Igreja St. Peter e levou o espírito cubano para a cidade inglesa. Aos domingos, o Alma de Cuba oferece brunch com o coral gospel Soulful Voices.
O resto da programação é, digamos, mais profana. Há aulas de salsa, noites latinas e festas carnavalescas. A Orquestra Buenos Tiempos, que lançou o CD da casa, tem hits como Praise you, do Fatboy Slim e We No Speak Americano, em versão cubana.
O lugar faz sucesso. Em 2008 e 2009, ganhou dois cobiçados prêmios como melhor point e melhor bar e restaurante. Nem Madre Teresa de Calcutá – que assistiu ali a uma missa no fim dos anos 1990 – poderia imaginar que este seria o destino da igreja fundada em 1788.
Um altar com afrescos de 200 anos segue no local, mas a influência religiosa acaba por aí. A não ser que você considere os dez mandamentos da casa, que vêm escritos no menu. Basta decorar dois para aproveitar melhor o paraíso: “Você até pode chegar sozinho, mas deve se esforçar para nunca sair sozinho” e “Não se surpreenda ou fique triste com o preço da vodca dupla com RedBull, um coquetel é muito melhor para a alma”. Curiosa é a “participação especial” brasileira: o cardápio tem imagem do Cristo Redentor e drinques como o Ipanema Batida.
Amsterdã
Na capital holandesa, a igreja acabou sendo engolida por um quatro estrelas. Fundado em 1992, o Hotel Arena, que atualmente adota o conceito de lugar feito para dormir, beber, comer e badalar, ocupa o espaço do antigo Orfanato Saint Elisabeth, construído em 1890.
A capela é hoje uma casa noturna, que mantém alguns afrescos e tem programação aberta ao público dez vezes ao mês – nos outros dias, é reservada para festas privadas. Nas pistas, as picapes tocam de salsa a eletrônica.
Nova York
Ela nasceu como igreja, foi uma das primeiras a ser ocupada por uma casa noturna e, agora, virou templo do consumo. Trata-se da Episcopal Church of Holy Communion, que a partir de 1983 ficou conhecida como a boate The Limelight. A casa ganhou até música de Steve Taylor – This Disco (Used to be a Cute Cathedral), algo como “Esta boate era uma bela catedral”. Hoje, o cantor teria de mudar a letra. Depois de uma reforma de U$S 15 milhões, o prédio foi rebatizado de LimeLight Marketplace. Com quase 50 lojas, preserva pouco da antiga balada, mas mantém os vitrais da igreja.
Embora o Vaticano não veja com bons olhos a transformação dos templos para fins mundanos, a conversão costuma ser bem aceita pelo público, haja visto o sucesso de casas como a The Church londrina e o Clube Gloria, em São Paulo.
Fonte: ESTADO DE SP
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