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domingo, 29 de janeiro de 2012

"De poeta, médico e louco, todo mundo tem um pouco"

Eu acrescentaria ao velho dito popular: "de juiz ..."

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Mentes cada vez mais doentes

Em oito anos, a depressão passará a ser a segunda maior causa de incapacitação para o trabalho

Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Jonathan Campos/Gazeta do Povo / Hoje de bom humor, Aline Troiani passou por fortes momentos de depressão 

Hoje de bom humor, Aline Troiani passou por fortes momentos de depressão
Da tragédia à comédia
Quem convive com o bom humor da administradora Aline Troiani, 30 anos, talvez não acredite que ela tenha passado por períodos de depressão. Há oito anos, quando cursava o último ano de Comércio Exterior, Aline se viu insatisfeita com as perspectivas à sua frente. Envolvida com os trabalhos dos últimos meses do curso e, apesar de ter conquistado um emprego em sua área antes mesmo de pegar o diploma, ela não se sentia realizada. “Eu me sentia em um poço, sem enxergar nada”, conta. A insatisfação se transformou em angústia e tristeza persistentes, e o quadro de depressão foi diagnosticado.
“Tomei a decisão de sair do emprego antes de me formar e me vi muito sozinha. Enquanto as outras pessoas seguiam seus sonhos, eu dormia 20 horas por dia durante a semana”, recorda. O tratamento com uma psicóloga e o interesse pelo budismo a ajudaram a passar pelo período de dificuldade, mas foi nos palcos e nas coxias, encarando uma plateia, que Aline achou um “sentido” para a vida. “Quando pisei no palco, tive a certeza de que queria ser atriz. Essa escolha foi um divisor de águas”, diz Aline.
Porém, o poder de dar vida a personagens não fez Aline encarar os palcos como uma solução milagrosa para o problema dela. “O teatro não é nem me serviu de terapia. Todo o processo de ensaios e convívio com outras pessoas me fez ver o quanto eu precisava mudar de postura. Ao mesmo tempo, eu fiz oito meses de tratamento psicológico”, observa. Do divã, Aline conta ter saído com um sentimento de vitória por estar viva e, entre a comédia e a tragédia, poder escolher o lado alegre das máscaras de teatro. “Quero continuar fazendo aquilo que sei que nasci para fazer: as pessoas rirem.”
Escape
Um sentido para a vida
Muitas pessoas vivem em constante contradição: a agenda lotada de atividades anda junto com o empobrecimento da convivência interpessoal e das relações afetivas; a tecnologia, que as faz considerar a vida mais fácil do que há 50 anos, as coloca em condições adversas de trabalho. “Todos, incluindo pesquisadores da área, se questionam sobre as causas desse fenômeno [aumento nos índices de depressão]. As crescentes pressões da vida, incluindo as mudanças na sociedade, na organização do trabalho e o enfraquecimento do papel agregador da família têm sido aventadas como explicações possíveis”, explica o professor Neury José Botega, do departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Unicamp.
“Vivemos pressionados e isso resulta em um grande estresse, pois as pessoas perdem os limites e em determinado momento reconhecem que a vida está passando e elas não sentem prazer em suas atividades”, comenta a professora do curso de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Suely Sales Guimarães, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP).
Identificar este ciclo e criar formas para sair dele são recomendações dos psicólogos para evitar a ocorrência de episódios depressivos, angústia excessiva e exaustão mental. “As pessoas estão perdendo o sentido de viver e não encontram razões para suas escolhas. Sem sentido, nada as satisfaz. É preciso encontrar sentido no trabalho, na família, nos estudos, em um deus. Se um deles entrar em crise, os outros podem me sustentar”, afirma o psicólogo clínico Guilherme Falcão, conselheiro do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR). “Isso é fundamental para não entrarmos na depressão, que é a apatia geral de tudo aquilo que um dia nos deu prazer”, alerta.
Para viver melhor
Dicas para manter a mente saudável
- Equilibre as demandas profissionais e afetivas.
- Busque e valorize a qualidade de vida.
- Tenha passatempos: saia com os amigos, conheça novos lugares na cidade, pratique esportes.
- Cultive vínculos afetivos reais com as pessoas a sua volta.
- Usufrua as facilidades da modernidade de forma saudável e gere mais espaço para se voltar para os aspectos humanos da vida.
- No exercício de sua profissão, não se escravize.
- Avalie suas escolhas e busque algo que dê sentido ao seu trabalho, ao relacionamento com os amigos e com a família, aos estudos e a fé.
- Um transtorno mental não é “esquisitice” ou “coisa da sua cabeça”, o paciente tem direito ao tratamento com profissionais da saúde. Busque ajuda.
- Uma doença não acontece somente quando o corpo dói – pânico, depressão, ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo (TOC) são doenças apesar de as pessoas serem, muitas vezes, rotuladas como excêntricas, preguiçosas, esquisitas, fracas, temperamentais ou sistemáticas.
Fonte: Suely Sales Guimarães, professora do curso de Psicologia da UnB e membro da SBP; Guilherme Falcão, psicólogo clínico e conselheiro do CRP-PR.
A julgar pelo número de pessoas que têm suas vidas afetadas por transtornos mentais – cerca de 400 milhões em todo o mundo – e pelas projeções da Organização Mundial de Saúde (OMS), o futuro não será leve para o nosso cérebro: uma em cada cinco pessoas, em algum momento da vida, terá uma alteração psiquiátrica que necessite de acompanhamento especializado. A OMS projeta que em oito anos a depressão será a segunda causa de incapacitação para o trabalho, provocando a perda de anos produtivos – hoje ela está em quarto lugar.

“Os dados nos dão um alerta: em uma sociedade competitiva e sem colaboração entre os indivíduos, as pessoas vão adoecer mais. Temos muitos papéis para desempenhar e isso nos leva à exaustão e nos traz sentimentos de impotência e incapacidade”, avalia o psicólogo clínico Guilherme Falcão, conselheiro do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR).
O crescimento do número de pessoas diagnosticadas com depressão e outros transtornos mentais, como ansiedade e pânico, acontece por uma combinação de fatores: de alterações biológicas à herança genética, passando pelo estilo de vida excessivamente atarefado, pela queda de preconceitos diante das doenças mentais e pelas técnicas mais avançadas de diagnóstico. “É simplista dizer que a causa é [somente] biológica, psicológica ou social. Esses termos não levam em conta a interação entre esses mundos. Acredita-se que exista uma propensão biológica que, aliada a fatores estressantes e precipitadores [situações de trauma], pode levar ao desenvolvimento de doenças mentais”, explica o assessor do Mi­­nistério da Saúde e da OMS Neu­ry José Botega, professor do departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Uni­versidade Estadual de Cam­­pinas (Unicamp).
Dados mostram que 18,4% dos brasileiros têm pelo menos um episódio depressivo durante a vida, o que coloca o país na terceira colocação no ranking de mais deprimido do mundo (ver infográfico) – em primeiro lugar vem a França (21%) e, em segundo, os Estados Unidos (19,2%). Apesar dos números alarmantes, os profissionais da saúde explicam que interpretá-los como um sinal de epidemia de doenças mentais é incorreto. “De fato cresce o número de certos problemas mentais, co­­mo a depressão e a dependência química. Mas, além do au­­mento da incidência, as pessoas estão mais conscientes sobre esse tipo de situação e procuram atendimento”, avalia Botega.
O professor explica que não sofremos apenas dos males do corpo ou de “doenças físicas”, mas também somos acometidos pelos males da mente que, apesar de serem menos palpáveis, demandam cuidados médicos. “Dizer com certo desprezo ‘você não tem nada, isso é coisa da sua cabeça’ só faz aumentar o sofrimento de uma pessoa que tem um problema para o qual a medicina não tem remédio fácil”, alerta o professor da Unicamp.
Detecção tem seus prós e contras
Nos consultórios, duas listas de classificação de doenças, o Código Internacional de Doenças (CID-10) e o Manual Diagnóstico e Esta­tístico de Doenças Mentais (DSM-IV, na sigla em inglês) permitem aos psiquiatras avaliar os sintomas de seus pacientes. Apesar de serem úteis para o diagnóstico de transtornos mentais, porém, os manuais não estão livres de críticas. “Ambos tentam encaixar os pacientes em categorias, em vez de trabalhar os problemas de forma individual. Eles não levam em consideração o todo, a história das pessoas”, analisa o psiquiatra e presidente da Sociedade Para­­naense de Psiquiatria (SPP), André Rotta Burkiewicz.
O americano DSM, publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, é alvo de críticas porque a cada edição, ao revisar os critérios de transtornos mentais, coloca novos comportamentos nessa categoria. A quinta edição do DSM, a ser lançada em 2013, poderá incluir o luto – considerado um período de tristeza normal que dura cerca de dois a três meses – como uma situação característica da depressão. Isso levaria milhares de pessoas a serem diagnosticadas com a doença. Em sua primeira edição, em 1952, o DSM listava 106 doenças, contra 297 da última publicação, feita em 1994.
“A padronização ajudou a melhorar o processo de atendimento, pois antigamente as pessoas sofriam de depressão a vida toda e não recebiam o tratamento adequado, mas ela também pode levar a um excesso de diagnósticos”, pondera o supervisor do Ambulatório de Psiquiatria da Infância e Ado­lescência do Hospital de Clí­nicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Gustavo Ma­­noel Schier Dória.
“É um erro confundir tristezas normais da vida, como reações após perdas ou frustrações, com a depressão. O diagnóstico deve ser feito com cuidado, com avaliação da história clínica, registro dos principais sinais e sintomas e sua persistência ao longo do tempo, além do impacto do quadro na rotina da pessoa”, exemplifica o professor Neury José Botega, do departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Uni­­ver­­sidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br

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