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domingo, 29 de janeiro de 2012

Memória insultada



Há actos que, venham de que céus vierem, são tiros de insultos, vómitos inconsequentes, pejos na escala grave. Exigem, pois, resposta iminente.
Merecem, indubitavelmente, mão forte. Espelham indigência espiritual na sua fina mortandade. A ver se nos entendemos: protestar, discordar, estar a leste da corrente nunca fará danos a democracias. Mas, como em tudo na vida, e talvez, também na própria morte, é elementar não perder a vergonha na cara.

Foi exactamente o que faltou, e muito, à minoria parasita barulhenta ultra-ortodoxa que vive à conta do estado de Israel sem cumprir com os seus deveres de cidadania. A comunicação social israelita pode dar bailes de salão à europeia. O jornalista, se assim entender, escreve, até, a desfavor do próprio editor e não corre o risco de ser demitido.

Centenas de ultra-ortodoxos, criaturas habituadas à papa dada de bandeja, reagiram de forma ignominiosa ao que os jornais e canais televisivos têm divulgado sobre os seus recentes delírios: “hadarat nashim”, traduzido livremente para a prisão ordinária; exclusão das mulheres.

Querem eles lá saber que Dorit Beinisch é a actual Presidente do Beit Hamishpat Haelyon – o tribunal superior de todo o sistema judiciário israelita – que no último mês cinco heróis do sexo feminino acabaram de se formar no prestigiado curso de pilotos, que uma mulher não é obrigada a sentar-se no banco dos fundos de um ónibus ou que deva abafar a boca para não provocar espíritos tarados. 
Querem lá saber que o Primeiro-ministro, rabinos e a Polícia ficaram do único lado possível. Querem lá saber que Israel é feito de matéria humana. Aqueles haredim quiseram, sim, usar no peito que não palpita, no bairro onde morrerão isolados do Sol, nesse Mea Shearim impróprio de Eliyahu HaNavi, símbolos que lembram como já nos mataram. 
A sonsa Organização das Nações Unidas designou a data 27 de Janeiro “Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto”.
Quero eu lá saber. Não chegam todos os segundos de sete eternidades para chorar e honrar os milhões que não voltaram nesse Shabat de 1945. A memória é intocável e chama-se Povo. Quem a ofende só fica a pertencer tecnicamente. D’us não dorme, nem toma tranquilizantes. 

Fonte: http://www.pletz.com

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