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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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quarta-feira, 2 de março de 2011

Costumes da Ilha de SC

PORCO 


- Eram e ainda hoje o são, criados em pocilgas infectas, pequenos currais de pouco mais de um metro de lado, para que o animal ceve (engorde) rapidamente e bastante. Bem gordo, o porco proporciona, afora a carne, à ocasião do abate, toucinho (toicinho), banha (que é muito usada nas frituras), o torresmo e o que modernamente se chama de “beicon”, entre outras partes como orelha, joelho, etc.... 
Na hora do abate, ocorria/ocorre um processo terrivelmente desumano, mas que, diante da rudeza do nosso povo, era/é encarado como rotineiro e natural. O pobre animal era/é amarrado com uma corda, tem a barriga perfurada a faca, para se lhe colher o sangue (que é aproveitado para elaboração da morcilha - ou morsela = chouriço - uma espécie de lingüiça, em cuja composição também se usa temperos verdes) e somente depois se consuma a matança. O animal, ao receber a faca em suas entranhas, abre um berreiro lancinante, de cortar o coração de quem não está habituado ao quadro. Depois de morto, é pendurado, ou colocado sobre um tabuleiro/estrado (ou mesa) e sapecado com água fervente, para que se possa raspar os pelos e aproveitar até o couro. Dizem que os pelos crescem mesmo após a morte do animal e que é precisoraspá-los mais de uma vez. A matança dos porcos ocorre, preferencialmente, nas festas de fim de ano, quando se reúnem familiares e amigos para os banquetes. Lembro-me de que, nas famílias antigas mais pobres, que não dispunham de grande número de pratos (nem os pratos plásticos ou de papelão estavam na moda), as crianças eram reunidas, na hora de comer, cada qual com a sua colher, em redor de um alguidar (grande prato de barro), onde fora adredemente colocado o pirão (água ou caldo de feijão cozido e farinha de mandioca, misturados numa espécie de papa).  O pirão era dividido em tantas partes quantas as crianças (formando os riscos uma espécie de mosaico) e sobre cada parte colocado o conduto, um pedaço de carne, que servia para estimular a ingestão do volumoso, eis que a farinha, ao contato com a água ou o caldo de feijão, incha e ganha volume, conjunto que, ingerido, dá sensação de satisfação e mata a fome. Não era incomum, após a ingestão da bóia (refeição principal), o nosso matuto traçar, ainda um  barroso (pequeno prato de barro cozido e esmaltado)  de pirão de café (doce ou amargo). É que o trabalho pesado, na roça (carpindo ou roçando com foice, abrindo valas, cortando árvores, preparando coivaras para plantar, amontoando árvores cortadas para botar fogo e outras tarefas igualmente desgastantes) abriam um grande apetite no roceiro, que, assim, não se dava por satisfeito enquanto não se sentisse de  pandulho  cheio. O comer em abundância era considerado comer bem.  Ninguém se preocupava com a silhueta, pois é difícil criar barriga, quando se trabalha em tarefas que exigem muita força física e movimentos os mais variados. Quem duvidar que experimente pegar uma foice e tentar roçar durante cerca de 5 minutos. E olha que a jornada do roceiro não era pequena assim, obviamente, indo do alvorecer até por volta das 10 horas e, depois do intervalo do almoço, das 15 às 17/18 horas, quando ainda ia cuidar de recolher o gado, para, só depois, lavar os pés, o rosto e os braços (porque o resto do corpo só era banhado uma vez por semana – aos sábados, ordinariamente) em água de rio ou numa gamela de madeira, com sabão de noga (nozes).

- FREI VICENTE DE SALVADOR, em sua História do Brasil  (Edições Melhoramentos/SP/1954, pág.  63) que engloba o período entre 1500 e 1627, referindo-se aos  animais e bichos do Brasil,  refere-se a porcos monteses, assinalando características e comportamento da espécie.

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