- Eram e ainda hoje o são, criados
em pocilgas infectas, pequenos currais de pouco mais de um metro de lado, para
que o animal ceve (engorde) rapidamente e bastante.
Bem gordo, o porco proporciona, afora a carne, à ocasião do abate, toucinho
(toicinho), banha (que é muito usada nas frituras), o torresmo e o que
modernamente se chama de “beicon”, entre outras partes como orelha, joelho,
etc....
Na hora do abate, ocorria/ocorre um processo terrivelmente desumano,
mas que, diante da rudeza do nosso povo, era/é encarado como rotineiro e
natural. O pobre animal era/é amarrado com uma corda, tem a barriga perfurada a
faca, para se lhe colher o sangue (que é aproveitado para elaboração da morcilha
- ou morsela = chouriço - uma espécie de lingüiça, em cuja composição também se
usa temperos verdes) e somente depois se consuma a matança. O animal, ao
receber a faca em suas entranhas, abre um berreiro lancinante, de cortar o
coração de quem não está habituado ao quadro. Depois de morto, é pendurado, ou
colocado sobre um tabuleiro/estrado (ou mesa) e sapecado com água fervente,
para que se possa raspar os pelos e aproveitar até o couro. Dizem que os pelos
crescem mesmo após a morte do animal e que é precisoraspá-los mais de uma vez. A
matança dos porcos ocorre, preferencialmente, nas festas de fim de ano, quando
se reúnem familiares e amigos para os banquetes. Lembro-me de que, nas famílias
antigas mais pobres, que não dispunham de grande número de pratos (nem os
pratos plásticos ou de papelão estavam na moda), as crianças eram reunidas, na
hora de comer, cada qual com a sua colher, em redor de um alguidar (grande
prato de barro), onde fora adredemente colocado o pirão (água ou caldo de
feijão cozido e farinha de mandioca, misturados numa espécie de papa). O pirão era dividido em tantas partes quantas
as crianças (formando os riscos uma espécie de mosaico) e sobre cada parte
colocado o conduto, um pedaço de carne, que servia para estimular a ingestão do
volumoso, eis que a farinha, ao contato com a água ou o caldo de feijão, incha
e ganha volume, conjunto que, ingerido, dá sensação de satisfação e mata a
fome. Não era incomum, após a ingestão da bóia (refeição principal), o nosso
matuto traçar, ainda um barroso (pequeno
prato de barro cozido e esmaltado) de
pirão de café (doce ou amargo). É que o trabalho pesado, na roça (carpindo ou
roçando com foice, abrindo valas, cortando árvores, preparando coivaras para
plantar, amontoando árvores cortadas para botar fogo e outras tarefas
igualmente desgastantes) abriam um grande apetite no roceiro, que, assim, não
se dava por satisfeito enquanto não se sentisse de pandulho
cheio. O comer em abundância era considerado comer bem. Ninguém se preocupava com a silhueta, pois é
difícil criar barriga, quando se trabalha em tarefas que exigem muita força
física e movimentos os mais variados. Quem duvidar que experimente pegar uma
foice e tentar roçar durante cerca de 5 minutos. E olha que a jornada do
roceiro não era pequena assim, obviamente, indo do alvorecer até por volta das
10 horas e, depois do intervalo do almoço, das 15 às 17/18 horas, quando ainda
ia cuidar de recolher o gado, para, só depois, lavar os pés, o rosto e os
braços (porque o resto do corpo só era banhado uma vez por semana – aos
sábados, ordinariamente) em água de rio ou numa gamela de madeira, com sabão de
noga (nozes).
- FREI VICENTE DE SALVADOR, em sua História do Brasil
(Edições Melhoramentos/SP/1954, pág.
63) que engloba o período entre 1500 e 1627, referindo-se aos animais e bichos do Brasil, refere-se a porcos monteses, assinalando
características e comportamento da espécie.
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