Por Celso Lungaretti
Lucena: “O sujeito amarrado, algemado e
o executor puxava o gatilho e matava”
Definitivamente, não foi o aniversário com que sonhavam as viúvas da ditadura.
Se já não bastasse a Folha de S. Paulo haver desencavadodiretrizes da Marinha ordenando a eliminação dos guerrilheiros do Araguaia, o SBT levou ao ar uma entrevista-bomba do antigo torturador João Lucena Leal, concedida a Roberto Cabrini.
Para quem não assistiu, um bom relato é o da longa reportagem do site Tudo Rondônia: Advogado de Rondônia choca o Brasil com depoimento sobre torturas e mortes das quais ele próprio participou.
Eis alguns trechos mais impactantes:
“Na entrevista, Lucena descreveu, com tranqüilidade e frieza, o que viu e o que fez com os adversários políticos do regime. ‘O sujeito amarrado, algemado e o executor puxava o gatilho e matava’, disse ele ao narrar uma das cenas entre as inúmeras das quais presenciou e participou.
…informou ter apenas um remorso. Foi quando viu o corpo de uma moça de 17 anos morta pelos militares. ‘Peguei no corpo dela e ainda estava quente. A moça não tinha ideologia nenhuma’.
Em Rondônia, Lucena ficou rico como advogado de traficantes e de notórios assassinos, como o fazendeiro Darli Alves, que matou a tiros, no Acre, o líder seringueiro Chico Mendes.
Preso nesta semana por porte ilegal de
arma, Curió não ficou nem um dia detido
Mostrando profundo conhecimento no assunto, o advogado disse que, na sua época, o método mais utilizado era o pau de arara, nas suas palavras, ‘um instrumento cruel, devastador, que deixa seqüelas. Tem muita gente que não resiste meia hora e conta tudo. Às vezes, é só mostrar o instrumento e ele (a vítima) abre’.
Lucena afirmou ter visto de dez a 15 execuções de guerrilheiros do PC do B no Araguaia, entre elas, a morte de uma jovem identificada por ele como ‘Sônia’, que foi assassinada pelo hoje major reformado do Exército Sebastião Curió.
Tanto Curió quanto Lucena participaram das investigações e prisão da hoje presidente Dilma Rousseff, então militante política. ‘Ela (Dilma) era uma menina de 17 ou 18 anos de idade que foi presa e levada para a Operação Bandeirantes e entregue ao delegado Fleury (Sérgio Paranhos Fleury, notório torturador)’.“
Aparentemente, a “moça de 17 anos morta pelos militares”, que “não tinha ideologia nenhuma”, seria moradora da região e não guerrilheira.
Emboscada por uma patrulha do Exército em outubro/1973, quando estava em curso o extermínio de todos os guerrilheiros localizados, levou tiros mas, sem que que os militares percebessem, tombou em cima de sua arma.
Sônia: “Guerrilheira não tem nome,
seu fdp. Eu luto pela liberdade”
Ao perguntarem seu nome, ela deu a resposta célebre: “Guerrilheira não tem nome, seu fdp, eu luto pela liberdade!”.
E, puxando o revolver de sob o corpo, atirou neles, atingindo no braço o (então) major Lício Maciel e na barriga o capitão Sebastião Alves de Moura.
Foi em seguida metralhada e seu corpo, abandonado insepulto na mata.
O capitão Sebastião se tornou mais conhecido com a patente que adquiriu depois (major) e o apelido de Curió. Na reserva, ele é, na verdade, coronel.
Pensava-se que, ferido, não tivesse sido ele um dos executores de Sônia. Agora, Lucena pode ter lançado uma nova luz sobre o episódio.
O chefão do Serviço Nacional de Informações e futuro ditador João Baptista Figueiredo chegou a citar numa entrevista a reação de Sônia como exemplo do “fanatismo” dos guerrilheiros…
Fonte: http://www.consciencia.net/
Nenhum comentário:
Postar um comentário