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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Exposição em Roma tenta reabilitar imagem de Nero

Assimina Vlahou - 
De Roma para a BBC Brasil



Busto de mármore feito entre 64 e 68 d.C. integra exposição

Uma exposição na área arqueológica de Roma antiga celebra o imperador Nero, conhecido como um tirano cruel e louco incendiário, em uma tentativa de revelar seu perfil de urbanista inovador, homem culto e artista sensível.

A exposição se espalha pela principal área arqueológica de Roma, entre o Coliseu e o Fórum Romano, onde o imperador, famoso também por perseguir os primeiros cristãos, viveu e reinou.

Lucio Domizio Enobarbo tornou-se imperador com o nome de Nero Claudius Caesar aos 17 anos de idade em de 54 dC.

Na descrição do historiador Svetonio, por exemplo, Nero aparece como figura excêntrica:

Pinturas como a de Jan Styka, de 1900, retratando Nero

"Estatura quase normal, corpo cheio de sardas e mal cheiroso. Cabelos louros, rosto bonito, mas sem graça. Olhos azuis, mas fracos, pescoço largo, ventre grande, pernas magras e saúde ótima. Não se vestia muito bem e aparecia em público com roupas íntimas, um lenço amarrado no pescoço, sem cinto e descalço”.

Personagem complexo e contraditório, Nero teria reinado de forma exemplar no começo, para depois se transformar num dos personagens mais cruéis, narcisistas e megalomaníacos da História.

“Se Nero tivesse morrido nos primeiros anos de reino, não seria recordado como o “veneno do mundo”, apelido que lhe foi dado pelo historiador Plínio, o Velho” disse o historiador Andrea Giardina ao apresentar a mostra, que vai até dia 18 de setembro.

Contra as elites

A imagem negativa que atravessou a História, se deve, segundo dados apresentados na mostra, a medidas que Nero teria tomado e que teriam descontentado as elites romanas da época.

Odiado pela aristocracia, Nero, no entanto, era amado pela plebe. E para encontrar seu povo, precisava de grandes espaços, conforme explicou o arqueólogo Carandini.

“Do Coliseu ao Palatino Nero, havia criado uma espécie de cenário arquitetônico para um grande ato de demagogia”, disse, na apresentação da mostra.

Exibição destaca ainda afrescos e pisos típicos do período em que imperador viveu

Nesta área, havia um grande lago artificial, que depois foi eliminado para dar lugar ao anfiteatro Flavio, conhecido como Coliseu.

Segundo Carandini, Nero organizava banquetes suntuosos no lago, a bordo de uma grande embarcação.

O percurso da mostra começa nesta área, dentro do Fórum Romano, coração da Roma antiga, e ocupa diversos espaços com exposição de retratos do imperador e de sua família, vídeos que projetam trechos de filmes sobre ele e peças que testemunham o luxo exagerado de seus palácios.

Fazem parte da mostra as áreas do Fórum onde arqueólogos ainda buscam restos de outras residências de Nero, e pode-se ver o que resta da “Coenatio Rotunda”, a famosa sala de jantar giratória que foi descoberta nas escavações em 2009.

Urbanismo

Segundo o Ministério da Cultura, responsável pela mostra, o imperador, que segundo a lenda tocava cítara enquanto Roma queimava, contribuiu de forma decisiva para redesenhar o plano urbanístico da capital.

A exposição termina no Coliseu, com uma parte dedicada ao grande incêndio, um dos eventos mais trágicos da história de Roma.

Segundo testemunhos da época, foi Nero quem mandou incendiar Roma na noite de 18 de julho de 64 Dc, para construir seu palácio mais suntuoso, a Domus Áurea. O fogo durou nove dias.

“Nero desejava a glória de fundar uma nova cidade à qual daria seu nome”, escreveu Tacito, historiador da época.

Segundo Andrea Carandini, para concretizar seu projeto urbanístico, Nero previa grandes expropriações, que seriam mais fáceis de serem realizadas após um incêndio.

Ilustração reproduz modelo original do palácio Domus Aurea, criado por Nero

Oficialmente, a culpa caiu sobre os cristãos. As confissões foram arrancadas sob terríveis torturas. Nero ordenou prisões em massa, condenações à morte e crucificações. Nos últimos anos de seu reino teriam sido martirizados os dois maiores santos do cristianismo: Pedro e Paulo.

A historiadora Silvia Ronchey, contudo, defende Nero.

“Os primeiros editais contra os cristãos são da época de Domiziano e Traiano”. E o grande inimigo deles foi, na realidade, o imperador filosofo Marco Aurélio’’, escreveu num recente artigo sobre a mostra.

A imagem que nos foi passada não faz justiça ao imperador que tinha um refinado carisma e gosto estético, segundo a historiadora.

Segundo ela, Nero conquistou uma imagem de divo graças à vocação teatral, uma calculada atenção ao aplauso do povo.

“Era um campeão esportivo, ator e músico com tal carisma que se tornou um verdadeiro mito. Ainda adolescente subiu ao trono de um império que se estendia sobre três continentes, o maior que já existiu. Teve um enorme prestigio não só em Roma, e suicidou-se aos 31 anos, declamando um poema de Homero”.


Fonte: BBC

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