A mídia denunciou o caso do Pão de Açúcar, mas não ousa, atrelada que sempre foi à Igreja Católica, denunciar o derrame de dinheiro público - notadamente do mesmo BNDES - em favor do culto.
Se algum jornalista se debruçasse sobre o assunto, veria o tamanho do rombo que a espúria aliança entre o Estado brasileiro e a ICAR provoca incessantemente nas finanças públicas.
Aqui mesmo, em Florianópolis, quem olhar para Catedral, verá uma placa que anuncia o repasse de dinheiro público para o restauro daquele templo.
O pretexto: a preservação da cultura.
-=-=-==-
Celso Ming
A veemente rejeição da proposta de megafusão entre o Grupo Pão de Açúcar e os Supermercados Carrefour pelo sócio preferencial, o grupo francês Casino, joga novo foco de luz na atuação do BNDES, especialmente no açodamento com que havia aprovado e recomendado o projeto.
Baseado em avaliação de cinco bancos e consultorias de peso (Santander, Goldman Sachs, Messier-Maris, Rothschild e Merril Lynch), o Grupo Casino torpedeou, nesta terça-feira, a iniciativa do presidente do Grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz.
Coutinho. Fora do orçamento (FOTO: MARCOS DE PAULA/AE)
A partir do relato do correspondente Andrei Netto, ficamos sabendo que o Conselho de Administração do Grupo Casino definiu o projeto da megafusão como “contrário aos interesses dos acionistas, baseado numa estratégia errada e em estimativas de sinergias fortemente superdimensionadas”.
Depois de proclamar sucessivamente que o negócio é “de interesse nacional”, “bom para todos” e “bom para o Pão de Açúcar”, o empresário Abilio Diniz teve de ouvir dos membros do Conselho de Administração do sócio francês, reunidos em Paris, que sua proposta não é boa nem mesmo para o Pão de Açúcar.
Ficou dito, também, que um investimento em ações do Carrefour é “arriscado, em razão das dúvidas expressas pelos mercados sobre sua estratégia”.
Apoiado apenas em uma sigla de luz própria relativamente baixa, a do BTG Pactual, especializado em hospitalização de empresas em fase terminal, Abilio tentou arrastar o BNDES para a sua parada. Seu vice-presidente, João Carlos Ferraz, acorreu pressuroso, reconhecendo imediatamente nesse arranjo um interesse estratégico e uma fonte de criação de valor – ambos duvidosos. E aparentemente estaria disposto a despejar mais de R$ 4 bilhões em vitamina pública no projeto, não fosse a inesperada (para eles) reação da sociedade contra a chancela oficial de uma disputa entre grupos privados pelo controle acionário de uma rede de varejo.
Felizmente, evocando “seu compromisso com a estrita observância das leis e dos contratos, baseado em rigorosos princípios de ética”, o BNDES avisou oficialmente que ficaria de fora do negócio, enquanto esse não obtivesse o entendimento entre seus acionistas. E, não obstante a obstinação do agora isolado empresário Abilio Diniz em manter de pé seu plano, o desfecho da reunião de Paris mostra que esse acordo ficou difícil.
Mas o provável fracasso da armação não absolve o BNDES, cuja atuação começa a ser cada vez mais contestada. O mesmo serve para o governo federal, que sustenta a máquina de favorecimentos com verbas não orçamentárias, graças ao uso do dinheiroduto instalado em ligação direta entre o BNDES e o Tesouro.
Também não absolve o Banco Central. O BNDES pode alcançar, em 2011, a marca de R$ 300 bilhões em financiamentos a seus eleitos ao longo dos anos, subsidiados, bem abaixo dos juros primários (Selic). Assim, boicota a política monetária, que deve agir principalmente sobre canais de crédito. Porém, até agora, o Banco Central foi incapaz de denunciar os rombos provocados pelo BNDES no sistema vascular do plano de metas de inflação.
O provável desmanche do projeto da megafusão também não absolve a oposição, que não está sendo capaz de denunciar o mau uso do BNDES, neste governo e no anterior. Essa é uma oposição sem discurso e que, hoje, não passa de um enorme apagão político.
CONFIRA
Aparentemente durou pouco o efeito das decisões do Banco Central que restringiram as operações dos bancos no mercado de derivativos de câmbio. É o que mostra o gráfico. Mas é preciso mais tempo para ver o resultado.
Trégua. Apesar da falta de progresso nas negociações sobre o socorro à Grécia, os mercados financeiros deram nesta terça uma trégua às dívidas da Itália e da Espanha. Continuou a fuga das aplicações de risco, mas sem o nervosismo do dia anterior. Falta saber se os mercados resistirão à vacilação geral dos políticos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário