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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Poder na Rússia é degenerado, diz presidenciável de oposição


MARINA DARMAROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MOSCOU


Um dia depois de ser julgado por insubordinação a autoridade policial e participação em protesto não autorizado --o Estratégia-31, que exige o cumprimento do artigo da Constituição que garante a liberdade de reunião na Rússia-- o ex-vice-premiê e líder da oposição Boris Nemtsov recebeu do Ministério da Justiça russo uma negativa de registro de seu novo Partido da Liberdade do Povo (PLP).

A decisão praticamente anula as chances do PLP de participar das eleições parlamentares de dezembro deste ano. Procurado pela Folha, o Ministério da Justiça da Federação Russa afirmou que não vai se pronunciar sobre o assunto. "Todo comentário sobre o caso está no site do Ministério", afirmou a assessoria do órgão.

Não temeroso, porém, três dias depois Nemtsov liderava uma nova demonstração --autorizada --, na Praça Púchkin, em Moscou, para exigir a diversidade de partidos no país. Dessa vez, saiu ileso.

Assim como Garry Kasparov, o descendente de judeus Nemtsov conta com as detenções a seu próprio favor, como denúncia de um sistema arbitrário e autoritário contra o qual luta. A diferença entre ele e o enxadrista exilado, entretanto, está na proximidade constante com a população.

Nemtsov falou à Folha em entrevista exclusiva após a negativa de registro do partido. Leia a entrevista na ítegra:
FOLHA - O Ministério da Justiça alegou haver "almas mortas" registradas no PLP. Você pode comentar a negativa dada ao registro do partido?
BORIS NEMTSOV - Infelizmente aqui não se registra a oposição e não se permite que ela vá às eleições. Eleições sem oposição não são eleições, são uma farsa, uma manipulação. Essas eleições não são legítimas. O poder, na verdade, demonstra covardia, ele tem medo. O Brasil é um exemplo de democracia, porque a oposição de vocês participa das eleições, enquanto aqui não. Aliás um dos motivos porque há problemas econômicos mais duros na Rússia, é porque os nossos regimes municipais roubam do orçamento bilhões. Enquanto de vocês roubam objetos, de nós roubam o orçamento e o petróleo. Você vê a diferença?

Mas no Brasil também há muita corrupção...
Na América Latina há muita corrupção, com exceção do Chile, mas também o que eu vejo é que a democracia, a concorrência política, a liberdade de imprensa são coisas que existem no Brasil e essas são premissas importantes na luta contra a corrupção, porque se você roubou, então vão te prender, ou pelo menos escrever sobre o assunto, enquanto aqui se você roubar nem escrever sobre o assunto não vão. O fato de haver democracia no Brasil dá esperanças de que esse tipo de problema seja resolvido.

Mas na Rússia aumenta o número de pessoas que escrevem com liberdade na internet, como por exemplo Serguêi Naválni, que trava uma guerra contra a corrupção no Live Journal. O que você acha desses ativistas na internet?
Eu acho ótimo. O Naválni é nosso aliado, nós o conhecemos há tempos e fazemos exatamente o mesmo trabalho. Eu escrevi o relatório "Putin e a corrupção", onde há a exposição dele do tema. O que acontece é que a corrupção na Rússia não é um problema, mas um sistema. No Brasil é um problema, aqui é um sistema. Nosso poder está fundamentado nisso, ou seja, alguém pega uma propina, passa para o chefe imediatamente acima, e assim por diante. E esse sistema é podre, ele por metástase paralisou todo o país e o mata. Por isso o trabalho que o Naválni faz, o que se faz na internet é muito bom. Isso traz esperanças de que possamos seguir em frente.
Muitas pessoas, entretanto, ainda não querem participar das eleições no país...

As pessoas, em primeiro lugar, não acreditam que as eleições sejam limpas, e acham que nada depende delas. O próprio poder constantemente provoca as pessoas para que elas se sentem em silêncio e calem a boca. Ou seja, "nós decidimos por vocês, e vocês se sentem em silêncio". Isso é horrível, as pessoas são estimuladas à passividade, é isso que acontece.

A imprensa russa tem discutido bastante quem será o candidato do Rússia Unida, Putin ou Medvedev. Isso pode ser um jogo para desviar a atenção da oposição?

Essas eleições estão muito degeneradas, há uma ausência de opção. Eu acredito que se as eleições fossem livres, viríamos pessoas mais expressivas. Mas o regime liquidou a oposição e não dá chance a ninguém de se revelar. Assim que aparece alguém mais notável, como Naválni, ou eu, ou etc. também se tenta ofuscá-lo. Na verdade, a Rússia é muito mais brilhante e multiforme que apenas Putin e Medvedev. Putin e Medvedev são o vexame da Rússia, uma escolha ruim porque é a escolha entre um totalitário e outro --um deles, um pouco mais jovem, mas que em quase nada se diferencia do outro.
 
Mas Medvedev fala muito sobre a guerra contra a corrupção...
O Medvedev fala demais sobre tudo, mas faz pouco. Ele é para a gente um blogger, um articulista, mas não um presidente. Há três anos ele guarda lugar no Kremlin, mas não se tornou presidente, e isso é uma tragédia. Por isso, é preciso não levar muito a sério as palavras dele. Fala não sei o quê, e depois não acontece nada.

Na política externa, o governo tem apoiado regimes como o sírio, o líbio...

Falta-nos uma política externa, que hoje é eclética na Rússia: por um lado apoia a Síria, por outro tenta fazer amizade com Israel, votou neutro quanto à Líbia, depois o Putin diz que é preciso apoiar o Gadaffi... Eles têm uma confusão mental, uma turbulência. A falta de uma doutrina é uma tragédia, porque no espaço soviético, a política se acostumou com o fato de que ao redor de si os outros tinham virado inimigos.
Por exemplo, o Brasil tem lá seus problemas com a Argentina, com o Peru, mas todo mundo entende que com os vizinhos é preciso fazer amizade, de alguma maneira. Vocês têm lá a loucura da Venezuela e do Chávez, mas de qualquer maneira é preciso coexistir. Aqui todos se afastaram, todo mundo a nossa volta é inimigo: a Geórgia é inimiga, Ucrânia, Belarus, Ásia Central, os bálticos... Isso é um absurdo.
Não se pode viver quando se está rodeado de inimigos, mas eles sofrem da síndrome do império, são agressivos, e por isso as pessoas se afastam deles.

Como você considera os 20 anos de desenvolvimento da Rússia após a queda da União Soviética?

Penoso. O pior de tudo é que, nesses 20 anos, as pessoas foram despojadas de novo das leis de liberdade civil. Ou seja, as pessoas não têm liberdade política. O poder é o grupo de Putin, e Putin quer conduzir o Estado eternamente. O fato de ele querer isso eternamente é uma catástrofe.
 
O papel do Exército no país deveria estar mais desligado da política?

O Exército é muito arcaico, ficou para trás, e não pode desempenhar suas funções. É preciso ter um Exército profissional terceirizado, é preciso diminuir a corrupção. O Exército tem hoje um orçamento de US$ 40 bilhões, mas a maior parte é desviada, por isso o equipamento russo é muito ruim. E a Rússia tem muitos problemas, no Cáucaso, na Ásia Central, na China e assim por diante.
 
Qual poderia ser a solução no Cáucaso do Norte?
Eu acredito que seja um erro estabelecer um quartel-general num clã corrompido. O Cáucaso já está de fato separado da Rússia, lá agem separatistas, e devido a isso pagamos uma soma imensa de dinheiro. Eu acho que nós devemos instituir a Constituição no Cáucaso, a qual falta lá. Lá se vive pela Sharia, a lei islâmica. É preciso que a constituição seja a russa.
Então você acredita que o Cáucaso não merece independência, que ele deve se manter como república russa?

Eu acredito que isso seria perigoso. O Cáucaso é a nossa Palestina. Se você construir um cercado entre a Rússia e o Cáucaso, vai ser como um cercado entre a faixa de Gaza e Israel. As consequências desse cercado são ruins, por isso um segundo erro é desnecessário.

Fonte: FOLHA DE SP

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