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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Você já viu falar em "destino manifesto"?





Esta pintura (cerca 1872) de John Gast chamada Progresso Americano é uma representação alegórica do Destino Manifesto. Na cena, uma mulher angelical, algumas vezes identificada como Colúmbia, (uma personificação dos Estados Unidos do século XIX) carregando a luz da "civilização" juntamente a colonizadores americanos, prendendo cabos telégrafo por onde passa. Há também Índios Americanos e animais selvagens do oeste "oficialmente" sendo afugentados pela personagem.

O Destino Manifesto é o pensamento que expressa a crença de que o povo dos Estados UnidosDeus para comandar o mundo, e por isso o expansionismo americano é apenas o cumprimento da vontade Divina.

Os defensores do Destino Manifesto acreditaram que o povo da america latina e andina devem ser seus escravos pois estão no mesmo continente,e por a maioria dos paises latino americanos serem subdesenvolvidos desenvolveram o chamado "Be strong while having slaves" frase de propaganda política do século XIX que usava sua cultura para que pessoas de outros paises achasem que os U.S.A. seja o melhor pais do mundo , virando essas pessoas ate contra seu pais de origem , o mais afetado foi o Mexico que aderiram totalmente a cultura norte americana como o Hamburguer e batatas fritas que ja viraram costume no prato mexicano, e o menos atingido foi o Brasil que se mostrou forte em sua cultura , mas essa força esta perdendo sua essencia pois com a legalizaçao dos filmes e empresas norte americanas no Brasil esta cada vez mais se falando nos U.S.A. O Destino Manifesto se tornou um termo histórico padrão, freqüentemente usado como um sinônimo para a expansão territorial dos Estados Unidos pelo Norte da América e pelo Oceano Pacífico [1]

As doutrinas do Destino Manifesto foram usadas explicitamente pelo governo e pela mídia norte-americana durante a década de 1840, até a compra de Gasden (sendo também inclusa a compra do Alasca por alguns historiadores), como justificativa do expansionismo norte-americano na América do Norte. O uso formal destas doutrinas deixou de ser adotado oficialmente desde a década de 1850 até o final da década de 1880, quando foi então revivida, e passou a ser usada novamente por políticos norte-americanos como uma justificativa para o expansionismo norte-americano fora das Américas. Após isto, o uso da ideologia do Destino Manifesto deixou de ser utilizada explicitamente pela mídia e por políticos em geral, embora alguns especialistas acreditem que certas doutrinas do Destino Manifesto tenham, desde então, influenciado muito as ideologias e doutrinas imperialistas norte-americanas até os dias atuais [1].

O presidente James Buchanan, no discurso de sua posse em 1857 deixou bem claro a determinação do domínio norte-americano:

Em 2004 o general Colin Powell, secretário de Estado do governo Bush, reforçou num de seus discursos a mesma determinação:

  • "O nosso objetivo com a Alca é garantir para as empresas norte-americanas assumam o controle de um território que vai do Pólo Ártico até a Antártida"[2], ecoando assim um velho sonho de Percival Farquhar:

Origem da frase

A frase foi criada pelo jornalista Nova Iorquino John L. O'Sullivan em sua revista Democratic Review. Em um ensaio intitulado "Annexation", no qual exigia dos EUA a admitir a República do Texas na União.

O'Sullivan escreveu:

"Nosso destino manifesto atribuído pela Providência Divina para cobrir o continente para o livre desenvolvimento de nossa raça que se multiplica aos milhões anualmente."

O Texas se tornou um estado estadunidense logo após, mas a frase de O'Sullivan utilizada pela primeira vez atraiu pouca atenção.

Na segunda vez em que utilizou a citação, numa coluna do New York Morning News de 27 de Fevereiro de 1845, O'Sullivan tratava sobre o avanço das disputas de fronteiras com a Grã-Bretanha, onde afirmou que os Estados Unidos tinham o direito de reivindicar "o Oregom inteiro":

And that claim is by the right of our manifest destiny to overspread and to possess the whole of the continent which Providence has given us for the development of the great experiment of liberty and federated self-government entrusted to us. [E esta reivindicação é parte de nosso "destino manifesto" de avançar e possuir todo o continente que a Providência nos concedeu pelo desenvolvimento da grande experiência a nós confiada da liberdade e do auto-governo federalista.]

Isto é, O'Sullivan acreditava que Deus ("a Divina Providência") tinha dado aos Estados Unidos a missão de expandir a democracia republicana ("the great experiment of liberty" - "O grande experimento de liberdade") por toda América do Norte.

Devido a Grã-Bretanha não utilizar-se do Oregon com propósitos de expansão da democracia, acreditava o jornalista, a reivindicação do território pelos britânicos poderia ser desconsiderada.

O'Sullivan acreditava que o Destino Manifesto era um ideal moral (uma "lei superior") que se sobrepunha a outras considerações, incluindo leis e acordos internacionais.

O extermínio dos povos indígenas na América do Norte

No início de sua história, os Estados Unidos eram formados treze colônias, ao se libertar da Inglaterra, houve a necessidade da expansão para o Sul e para o Oeste. O comércio e a indústria estavam crescendo rapidamente, havendo portanto a necessidade de aumentar os seus limites de atuação.

Ao passar do tempo, iniciou um sentido maior de patriotismo no povo das treze colônias. O avanço pelo continente gerou muitas batalhas contra os índios americanos. Nestas batalhas, foram exterminadas muitas nações indígenas que viviam há milhares de anos naquelas terras. Cada vez que havia uma vitória contra o inimigo, firmava-se um sentimento de superioridade[1]. sobre os outros povos. Realimentando o sentimento expansionista

Nesse contexto, pode-se citar Benjamin Franklin quando dizia: "Se faz parte dos desígnios da Providência extirpar esses selvagens para abrir espaço aos cultivadores da terra, parece-me oportuno que o rum seja o instrumento apropriado. Ele já aniquilou todas as tribos que antes habitavam a costa"[4]

O sentimento de superioridade racial

Esta superioridade acabou se transformando com o tempo na ideologia do Destino Manifesto, que se realimentou e gerando uma idéia fixa da pré-destinação dos estadunidenses da época sobre os outros povos americanos descendentes de indígenas, hispânicos, e escravos negros. Capítulo à parte era o sentimento de superioridade racial dos estadunidenses sobre os negros, estes segundo muitos estudiosos da época, eram considerados um elo entre os animais e os seres humanos [1].

A América para os estadunidenses

Em 1821 o senador por Massachusetts, Edward Everett, demonstrando o pensamento estadunidense sobre os seus vizinhos da América Latina declarou: (sic)..."Nem com todos os tratados que possamos fazer, nem com todo o dinheiro que emprestarmos, poderemos transformar seus Bolívares em Washington".

Quando os estadunidenses referem-se a si mesmos como americanos somente repetem a frase mais conhecida do presidente James Monroe, proferida no congresso estadunidense em 1823: "A América para os americanos (estadunidenses)". A esta linha de pensamento denominou-se Doutrina Monroe, que é seguida até a atualidade.

A doutrina Monroe consistiu basicamente em três questões:

  • A não intervenção nos assuntos internos da América por países europeus.
  • A não criação de novas colônias por países europeus na América.
  • A não intervenção dos Estados Unidos em conflitos relacionados aos países europeus como guerras entre estes países e suas colônias [1].

A invasão do Texas

Mapa mostrando a expansão dos Estados Unidos de 1803 a 1912

Entre 1820 e 1830, os estadunidenses começaram a invadir lentamente o território do TexasRepública do México, era uma invasão benigna através da compra de terras, muito baratas. Ao entrar em território mexicano, grandes latifundiários levaram consigo as oligarquias e o trabalho escravo (O comportamento era muito parecido com o coronelismo). No México não havia escravatura, pois era proibida pela Constituição. Em 1835, o governo mexicano aprovou a Constituição Centralista Mexicana, reforçando a proibição da escravidão em território daquele país. Os grandes oligarcas estadunidenses donos daquelas terras financiaram então uma revolução e proclamaram a independência do Texas em 1836. Formou-se então a República da Estrela Solitária, que passou a ser um protetorado dos Estados Unidos. que pertencia à

A República do Texas

Tão logo foi reconhecida a independência da República do Texas pelos estadunidenses, fez-se um pedido formal de anexação à nação vizinha, sob a alegação de que os laços raciais do povo texano eram muito mais estreitos com os Estados Unidos do que com o México. Desta forma, em 1845, o Texas foi anexado ao território estadunidense.

Segundo informações coletadas da Biblioteca do Congresso estadunidense, que após da libertação do Texas, o povo mexicano da região de fronteira era muito violento, aumentando o índice de criminalidade. Foram necessárias portanto, medidas drásticas de contenção contra os criminosos e bandos de bandidos hispano-americanos. Estas medidas eram os enforcamentos e prisões de bandidos e bandos de mexicanos que invadiam e criavam tumultos com bebedeiras e desordens no território texano. As expulsões logo se tornaram em massa e, segundo consta, diminuíam os índices de criminalidade, iniciando assim uma limpeza étnica.

A Guerra do México e a anexação dos territórios Califórnia, Novo México, Nevada, Arizona e Utah

Estas medidas de contenção do banditismo geraram muitos desentendimentos entre os dois países. Em 1846, houve um conflito de fronteira entre os Estados Unidos e o México. Os estadunidenses acabaram declarando guerra ao país vizinho invadindo seu território e "libertando" a Califórnia, Novo México, Nevada, Arizona e Utah.

Metade do território mexicano foi perdida para os Estados Unidos, e grande parte do povo latino da região, ou foi morto, ou expulso para o que restou do México.

Abertura forçada do mercado do Japão

Em 1853 uma esquadra estadunidense força os japoneses à abertura das fronteiras e seus mercados aos Estados Unidos.

A invasão da Nicarágua

Em 1855 o mercenário William Walker desembarcou e atacou a Nicarágua dominando o país declarando-se presidente. Fazendeiros sulistas estadunidenses imediatamente fundaram oligarquias na região. Walker porém foi derrotado e fuzilado em Honduras. Muitos dos fazendeiros tiveram que retornar aos Estados Unidos falidos e doentes.

John O'Sullivan e "O destino manifesto"

Em 1857, o jornalista estadunidense John O'Sullivan declarou que: (sic)...seria intolerável que prejudicassem nosso poder, limitando nossa grandeza e impedindo a realização do nosso "Destino Manifesto", que é estendermo-nos sobre o continente que a Providência fixou para o livre desenvolvimento de nossos milhões de habitantes, que anos após anos se multiplicam...

Influência sobre a Teoria do Espaço Vital (Lebensraum em alemão)

O Geógrafo alemão Friedrich Ratzel visitou a América do Norte no início de 1873[5] e se impressionou com a doutrina do Destino Manifesto nos EUA[6]. Ratzel simpatizava com os resultados do "Destino Manifesto", mas ele nunca usou o termo. Em vez disso, ele contou com a Tese da Fronteira de Frederick Jackson Turner[7]. Ratzel promoveu colônias ultramarinas para a Alemanha, na Ásia e África, mas não uma expansão em terras eslavas[8]. Depois alguns alemães reinterpretaram Ratzel para defender o direito do raça alemã de expandir na Europa, essa noção foi mais tarde incorporada na ideologia nazista[6]. Harriet Wanklyn argumenta que que os políticos distorceram a teoria de Ratzel para objetivos políticos[9].

A guerra contra a Espanha e a invasão dos territórios hispânicos

Em 1898, com a explosão de um navio estadunidense chamado Maine em Cuba, os EUA declaram a guerra contra a Espanha, os territórios espanhóis no Caribe e no Pacífico foram invadidos. Cuba permaneceu ocupada até 1902, sendo liberada pelos estadunidenses depois da aprovação da emenda Platt. A emenda Platt era uma lei que dava direito aos estadunidenses de invadir Cuba a qualquer momento em que interesses dos Estados Unidos fossem ameaçados. Esta lei permaneceu mantendo Cuba um protetorado estadunidense até 1933.

A anexação do Hawaii

Em 1898 o congresso estadunidense aprova a anexação das Ilhas do Havaí.

A Conferência Pan-americana

Em 1890, aconteceu a primeira Conferência Pan-americana. Esta propunha uma moeda comum no continente americano, o dólar, uma união aduaneira, um conselho de arbitragem de conflitos militares e econômicos em Washington, além de cobrança de tributos de proteção. O Brasil e a Argentina se opuseram, receberam retaliações econômicas do bloco liderado pelos estadunidenses. Contra o Brasil, a principal retaliação foi o encerramento da importação do látex, contra a Argentina, a importação de gado e de trigo.

Roosevelt e o Big Stick

Em 1901 Theodore Roosevelt assumiu a presidência dos Estados Unidos, sua máxima era (sic)...Fale suave, mas tenha nas mãos um grande porrete que será bastante útil..., esta foi chamada da política do Big Stick. Seguindo esta orientação, sob os mais diversos pretextos os Estados Unidos ocuparam em nome da democracia Cuba entre 1906 a 1909, em 1912 e 1917 a 1922, o Haiti entre 1915 a 1934, a República Dominicana entre 1916 e 1924 e a Nicarágua entre 1909 a 1910 e 1912 a 1933.

O Canal do Panamá e a liberdade do povo panamenho

A região do Canal do Panamá pertencia à Colômbia, por uma questão de soberania os colombianos não aceitaram a proposta estadunidense da construção de um canal em seu território. Em 1903, o Senado da Colômbia negou-se a ratificar o Tratado de Hay-Herrán, que estabeleceria o arrendamento aos Estados Unidos de uma faixa de território do istmo do Panamá1975, sob muita pressão internacional, e depois de muitos anos de negociações, os Estados Unidos aceitaram entregar o canal para o Panamá em 1999. para construírem um canal e ter seu uso exclusivo por 100 anos. Como conseqüência os Estados Unidos insuflaram uma guerra separatista na região. Depois da intervenção de tropas estadunidense foi criado o Panamá, país que ficou sob o protetorado dos estadunidenses. Em troca foi cedida a região para a construção do canal e o direito de explorá-la para sempre pelos estadunidenses. Em meados de

Os donos do Brasil

Todos os países da América sofreram em maior ou menor grau o efeito da doutrina do Destino Manifesto. Ora com intervenções militares, ora econômicas, políticas ou ideológicas. No Brasil também houve o domínio e compra de muitas terras gerando gigantescos oligopólios e a compra de companhias brasileiras por muitos empresários norte-americanos do início do século XX até a década de cinqüenta do mesmo século. Grande parte das atividades de extrativistas, construção de estradas de ferro, rodovias, mineração, geração de energia elétrica, águas e esgotos, transportes, indústrias de papel, metalúrgicas, mecânicas, navais entre outras, pertenciam àqueles grupos.

Percival Farquhar

De todos que vieram ao Brasil, o mais conhecido foi o norte-americano Percival Farquhar, o dono da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que ficou mais conhecida como a Ferrovia do Diabo, em cuja construção morreram muitos milhares de trabalhadores que viviam na selva amazônica sob as mais precárias condições de trabalho sub-humano e semi-escravidão. Em todo Brasil o senhor Farquar tinha suas indústrias voltadas quase que unicamente para o extrativismo vegetal e mineral. No Sul do Brasil no Estado Paraná, a empresa colonizadora pertencente ao empresário derrubou e enviou documentados mais de 250 milhões de pinheiros, estima-se que somada ao envio ilegal, a remessa chegou na ordem de 750 milhões de pinheiros, praticamente extinguindo toda a fauna e flora dependente das florestas de araucárias do Estado. No Estado de Santa Catarina a cifra ultrapassou à casa de 800 milhões de árvores retiradas com a conseqüente destruição da fauna e flora. Para remeter toda esta madeira para os Estados Unidos foram construídos milhares de quilômetros de estradas de ferro, no interior do Paraná e Santa Catarina. Quem pagou a construção destas ferrovias para uso particular do grupo norte-americano, foi o Governo Brasileiro. Uma das conseqüências das mazelas de uma de suas empresas, a Southern Brazil Lumber & Colonization Company foi a Guerra do Contestado, após a demissão de milhares de operários que haviam sido contratados para a construção da ferrovia.

América do Sul

Em todos os outros países da América do Sul, também houve a invasão benigna de empresas norte-americanas. Da Argentina foram levadas as mudas da Cola, da Bolívia, Colômbia, etc mudas de Coca, ambas destinadas à fabricação do refrigerante mais bebido do mundo [10]. Da Amazônia foram retiradas as mudas da Seringueira, além de muitos outros vegetais e minerais.

A conquista dos corações americanos

No final da década de 1930, seguindo sua doutrina do Destino Manifesto os Estados Unidos iniciaram sua fase de conquista dos "corações e mentes" da América (toda a América, não só a do norte). Começou a campanha de penetração cultural norte-americana ostensiva no Brasil e nos outros países americanos. O “american way of life” foi sendo introduzido gradativamente na sociedade latino-americana. No caso do Brasil, o plano era uma estratégia dos Estados Unidos para incentivar a solidariedade hemisférica de forma a enfrentar a influência do Eixo e consolidar-se como grande potência. O início da campanha foi a propagação através da propaganda dos "valores pan-americanos" , isto ocorreu durante as conferências interamericanas. Em agosto de 1940, foi criado o “Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA)” [11], era um escritório chefiado pelo empresário Nelson Rockefeller vinculado ao Conselho de Defesa Nacional dos Estados Unidos.

Office of the Coordinator of Inter-American Affairs - OCIAA

As divisões da agência continham setores de relações culturais, comunicações, saúde, relações comercial e financeira [11]. Haviam ainda diversas fundações dirigidas por senhoras de empresários americanos com a finalidade de filantropia e ajuda humanitária. Portanto, todas as atividades eram isentas de impostos e ainda recebiam dinheiro do governo brasileiro para atuarem em todo o território nacional. O OCIAA [11], se subdividia em seções: música, cinema, imprensa, literatura, rádio, arte, finanças, exportação, problemas sanitários, transporte e educação infantil. O OCIAA atuou de forma ostensiva com o DIP [12], principalmente nas pesquisas e implementação de técnicas para a criação de cartilhas escolares [11].

O OCIAA na Imprensa e meios de comunicações brasileiros

Quando atuava nas áreas de informações e comunicações, a agência norte-americana veiculava na imprensa brasileira factóides favoráveis aos Estados Unidos. Difundiu no Brasil as técnicas mais modernas de manipulação comportamental mediante imagens agradáveis ligadas a tudo que era norte-americano [12][13]

Difundiu por anos a impressão de que os produtos importados dos Estados Unidos faziam parte da moda e que produtos nacionais eram somente aceitos pela classe baixa da população, fomentou a diferenciação de classes e a criação de serviços de primeira classe para quem podia pagar e de segunda classe para quem não podia pagar [12] .

Este tipo de propaganda fez a classe média iniciar a onda consumista já no início da década de 1950, acelerando o comércio e a importação de produtos norte-americanos, principalmente automóveis e eletrodomésticos [12] .

Foram implantadas técnicas de publicidade no jornalismo nacional. Para isso era necessária a importação de equipamentos daquele país para transmissão e recepção de radiofotos, de forma a demonstrar a modernidade da imprensa norte-americana [12] .

A publicidade a serviço do domínio

Sob a coordenação do OCIAA, se iniciou uma campanha publicitária direcionada à classe média brasileira. Eram incentivados o luxo e o consumismo através das roupas caras e apetrechos de luxo de grande apelo popular [12] .

Os programas radiofônicos e as produções cinematográficas davam ênfase aos produtos de consumo, principalmente eletrodomésticos. A propaganda massificava a população e era largamente utilizada como um dos mais importantes instrumentos de propaganda da guerra [12] .

Programas de rádio transmitidos do território americano tinham penetração em todo o Brasil. O OCIAA através da rádio A Voz da América com suas antenas voltadas para o Brasil apresentava a cobertura em tempo real da guerra com slogans incitando aos brasileiros o quanto era bom ser "americano", há que se lembrar que brasileiros não são bem vindos em território americano [14]

As transmissões divulgavam durante todo o tempo a cultura norte-americana, seus usos e costumes. Eram reforçadas as publicidades direcionadas principalmente à classe média e aos jovens de faixa etária entre vinte e cinco e trinta anos em programas radiofônicos.

Bons exemplos de propaganda de guerra foram programas como "O Brasil na Guerra", "A Família Borges" e "Barão Eixo".

O uso do cinema

Os filmes de ficção e documentários norte-americanos tinham o papel de difundir a ideologia e cultura dos Estados Unidos, para tal, OCIAA usava as indústrias cinematográficas de Hollywood[11].

O OCIAA evitava mostrar para a América Latina em seus filmes os costumes norte-americanos que poderiam a vir a ofender os brios e o modo de vida latino [11].

Exemplo típico foram os famosos foras da lei mexicanos, tão comuns nos filmes de bang-bang. Estes foram eliminados das produções de Hollywood para evitar mal-estar entre os latinos.

Outro exemplo comum utilizado até a atualidade que procura disfarçar a discriminação racial contra os negros e latinos, bastante comum nos Estados Unidos eram, e ainda continuam sendo os filmes policiais dirigidos para a América Hispânica e Brasil. Nos filmes os policiais negros são companheiros inseparáveis de policiais brancos.

No caso de filmes dirigidos e exportados para a Argentina, e outros países hispânicos evitavam ofender os brios e o machismo dos latino-americanos, enaltecendo a masculinidade e a feminilidade latinas.

Disney

A criação de personagens para fomentar a política de boa vizinhança continental foi muito utilizada sob o comando do OCIAA [11]

Assim, os Estúdios Disney, criaram o papagaio Zé Carioca com a firme proposição de influenciar as crianças brasileiras em serem amigos das crianças norte-americanas, preparando as latinas para serem lideradas por aquelas no futuro [15]. O filme Alô Amigos demonstra bem a manipulação comportamental onde o "simpático e falador papagaio" enfatiza a amizade com o "nervoso e temperamental" Pato Donald, naturalmente a mensagem passada é que o papagaio aceita a liderança do pato em todas as ocasiões [16]

[editar] A preparação para a invasão

Devido à grande quantidade de trabalhadores estrangeiros que morreram durante as construções de ferrovias e rodovias por empreiteiros norte-americanos no Brasil desde o início do século XX, o OCIAA sabia que existiam doenças tropicais no território nacional que matavam indivíduos que não tinham imunidade àquelas enfermidades.

As principais doenças pesquisadas "humanitariamente" foram a malária e a Febre amarela. Visando "ajudar" a população enferma brasileira no controle das doenças, o OCIAA iniciou um ostensivo programa de educação médica e treinamento de enfermeiros brasileiros e estrangeiros nas selvas brasileiras.

Embora negado, sabe-se que o objetivo principal não era obter a aprovação da população à atuação da agência no Brasil. O povo sertanejo em grande parte pois grande parte era e é imune às várias endemias que assolam as florestas do Brasil, na realidade as pesquisas iam muito mais além.

As forças armadas norte americanas precisavam preparar o terreno para a provável chegada e manutenção de suas tropas e empresas mineradoras em território brasileiro com a finalidade de extrair materiais estratégicos a serem fornecidos às suas indústrias bélicas. Todas as jazidas conhecidas então na América do Norte estavam sendo exploradas e muitas estavam se exaurindo. Conforme acertado nas negociações em que ocorreu o alinhamento brasileiro à política norte americana, o Brasil passaria a ser um protetorado daquele país na época da Segunda Guerra Mundial por não ter poderio bélico suficiente para se defender de um inimigo externo [12].

Foram construídas então bases aéreas, navais, fábricas de armas, metalúrgicas e siderúrgicas com financiamento oferecido por banqueiros norte-americanos sob o aval do Ministério da Defesa daquele país. A única condição era que as "empresas" fundadas deveriam ser orientadas por empresas de consultoria norte-americana e que a tecnologia e insumos deveriam ser comprados dos norte-americanos [12].

Foi acertado também que certas ligas metálicas e certos artefatos não poderiam ser construídos em território brasileiro para salvaguardar as patentes de produtos daquela nação. Foi este o motivo em parte do atraso do Brasil em produzir certas ligas de aço resistentes e de não produzir ligas metálicas nacionais para solda elétrica até a década de 1950.

==Carmem Miranda, o Zé Carioca, Coca-cola, a obrigatoriedade do ensino do inglês nas escolas públicas e as fábricas de cigarros==

A portuguesa Carmem Miranda naquela época se tornou o símbolo da cultura brasileira nos Estados Unidos. O papagaio Zé Carioca ajudou a construir o estereótipo do brasileiro simpático e malandro, não muito chegado ao trabalho [12].

A poderosa Coca-Cola utilizando de propaganda maciça, principalmente no cinema, iniciou uma campanha lançando "modismos" como novas vestimentas, roupas de praia e banho para senhoras e senhoritas, dando ênfase às formas femininas e à sensualidade acabou por substituir o consumo pela classe média dos sucos naturais. A família brasileira deixou então de beber a limonada, a laranjada, o suco de melancia, o suco de abacaxi e demais sucos de frutas tropicais. Um detalhe importante era a ênfase dada pelo fabricante norte-americano de que sua bebida deveria ser consumida pelas "famílias de bem", dando margem subliminar de que os consumidores de sucos não eram "consumidores premium" [12].

O ensino de línguas estrangeiras nas escolas brasileiras, a exemplo do latim, do francês e do espanhol, passou a ser desestimulados pelo governo brasileiro influenciado pela propaganda norte-americana [12].

As escolas estaduais passaram a ser obrigadas pelas esferas federais a substituir o ensino de quaisquer idiomas pelo inglês. No Estado de Santa Catarina, de forte influência de colonização alemã, o uso da língua germânica pela população passou a ser proibido e punido com prisão. As escolas que ensinavam aquela língua passaram a ser fechadas caso não mudassem o ensino para o inglês [12].

O idioma inglês passou já naquela época a ser considerado a língua de "pessoas cultas". Nas reuniões, era de bom tom se referir em diversas ocasiões em idioma inglês para as mais diversas situações. Eram consideradas "charmosas" as expressões: "Oh my God", "My baby", "My little bear", etc, etc, etc.

Nas escolas, principalmente nas "particulares", era moda o uso de roupas de corte norte-americano entre os adolescentes já no início da década de 1950 [12].

O vício do fumo iniciou sua caminhada pela publicidade dirigida à crianças através de pequenos "cigarros de chocolate" distribuídos nas escolas públicas. Era comum ver crianças de 6, 7 anos de idade na década de 1950 e 1960 sorvendo pequenas barras de chocolate idênticas aos cigarros que os adultos fumavam. As caixas onde eram acondicionados "os cigarrinhos de mentirinha""cigarrinhos" da mesma forma que os adultos. eram idênticas às carteiras dos cigarros verdadeiros. As crianças andavam às mãos de seus pais segurando os

Nos "filmes de guerra" norte-americanos não eram raras as cenas de oferecimento de "cigarros americanos", inclusive entre os "inimigos" transmitindo assim a mensagem de que os "companheiros de vício" não tinham fronteiras.

Embora a venda e consumo de cigarros no Brasil tenha tido sua primeira onda na década de 1920, foi na época da Segunda Guerra Mundial que as grandes multinacionais do fumo norte-americanas (as européias seguiram a onda em seguida) tiveram uma verdadeira explosão das exportações do cigarro industrializado para o Brasil.

A aceitação do vício entre crianças e os adolescentes (além dos adultos) foi tão grande que as empresas se apressaram em construir novas fábricas no Brasil no final da década de 1940. As marcas Camel, Chesterfield, Pall Mall, Marlboro, Hollywood entre outras européias e norte-americanas tiveram no início da década de 1950 uma grande explosão de vendas. A população estava viciada em produtos norte-americanos.

O intervencionismo norte-americano contra o comunismo

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a conseqüente derrota do eixo, os Estados Unidos fizeram ser aprovada a Declaração de Solidariedade para a Preservação da Integridade Política dos Estados Americanos Contra a Intervenção do Comunismo Internacional, esta era a nova maneira dos norte-americanos continuarem sua presença nas Américas.

O comunismo

Agora era a vez do Comunismo; documento datado de março de 1954 afirmava que "(sic)...que o domínio ou controle das instituições políticas de qualquer Estado americano por parte do movimento internacional comunista, que tenha por resultado a extensão até o continente americano do sistema político de uma potência extracontinental, constituiria uma ameaça à soberania a à independência política dos Estados americanos, o que poria em perigo a paz da América".

A eclosão de golpes por toda a América

Golpes militares começaram a derrubar presidentes dos vários países das Américas. [17] Foi derrubado Jacobo Arbens na Guatemala, Vargas no Brasil, entre outros [18].

Em 1962, Cuba foi excluída da OEA. Em 1964 com o apoio da Operação Brother Sam houve o Golpe Militar de 1964 no Brasil. Em seguida em diversos países da América Latina tiveram seus governos derrubados por golpes e contra-golpes [19]

Devido à estes movimentos revolucionários e contra-revolucionários, os países da região perderam completamente o controle econômico, a região se transformou num caos e as populações começaram a ser massacradas pelas mais diversas ditaduras militares [18].

As economias implodidas

Na América do Sul o empobrecimento real transformou economias de países em meras dívidas externas impagáveis

[20].

À cada revolução, golpe e contra-golpe, sempre havia "alguém" pronto para emprestar o dinheiro necessário à conquista da "liberdade democrática" .

Atrás disso vieram os empréstimos para o "desenvolvimento" dos países do bloco americano, estes se endividaram novamente e tiveram que contrair mais empréstimos para pagar as dívidas geradas pelos golpes. Necessitavam de novos e novos empréstimos para pagar os juros que explodiram com as "crises" internacionais, do petróleo, etc.

Com a queda da União Soviética, os norte-americanos continuaram acreditando na sua doutrina do destino manifesto. Agora como maior potência militar e econômica do Planeta iniciaram a aculturação de outras nações sob o pretexto de combater o "terrorismo internacional".

O século XXI

Iniciando o século XXI, aconteceu a tragédia dos ataques terroristas às torres gêmeas.

Os Estados Unidos se viram frágeis, pois jamais haviam recebido um ataque tão violento em seu território no próprio continente.

Sua resposta foi a invasão do Afeganistão e do Iraque. O custo financeiro, político e moral do povo norte-americano está sendo gigantesco, e está colocando em xeque a sua doutrina do destino manifesto [21]

Bibliografia

  • AYERBE, Luis Fernando. A Reinvenção da Doutrina Monroe: determinismo cultural e política externa de Estados Unidos pós 11-09. Disponível em A Reinvenção da Doutrina Monroe.
  • CATANI, Afrânio Mendes e OROZ, Silvia. Indústria cinematográfica na América Latina: Um Paradigma Modernidade. In: BESSONE, Tânia M. T. E QUEIROZ & Tereza Aline
  • P.(orgs). América Latina: Imagens, Imaginação e Imaginário. São Paulo: EDUSP, 1997.
  • DIVINE, Robert A. América. Passado e Presente. Rio de Janeiro: Nórdica, 1992.
  • FERES JR., João. Resenha de Beneath the United States, de Larz Schoultz, in: Revista de Sociologia e Política, n° 13, Nov. 1999.
  • KLOCKNER, Luciano. O Repórter Esso e a Globalização: a produção de sentido no primeiro noticiário radiofônico mundial. Anais do XXIV Congresso Brasileiro de Comunicação. Campo Grande-MS, set. 2001. São Paulo: INTERCOM, 2001. Disponível em: O Repórter Esso e a Globalização.
  • MACHADO, Ronaldo. Entre o centro e a periferia: Érico Veríssimo nos Estados Unidos, 1944. VI Encontro do 'Brasilianisten-Gruppe in der ADLAF', Berlim, 2004.
  • MOURA, Gerson. Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana. São Paulo: Brasiliense, 1988.
  • VICENTE, Eduardo. A Música Popular sob o Estado Novo(1937-1945). Relatório Final de Pesquisa de Iniciação Científica PIBIC/CNPq apresentado na Universidade de Campinas(UNICAMP) em Janeiro de 1994. São Paulo, março de 2006. Disponível em: A Música Popular sob o Estado Novo(1937-1945)'.

Referências

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Super-heróis e Religiosidade:

um ensaio para iniciar o debate

Eles vivem entre nós. Surgem e desaparecem sem que possamos vê-los com exatidão. Na maioria das ocasiões, eles estão salvando vidas de desastres acidentais e incidentais. Não conhecemos suas identidades reais, porque eles usam máscaras que escondem seus rostos. Possuem poderes assombrosos que transpõem a realidade na qual vivemos. Não sabemos o que pensar sobre eles. Serão deuses, anjos de Deus, demônios ou apenas frutos de uma imaginação fértil? Se a nossa vida fosse inserida numa história em quadrinhos, provavelmente, esses seriam nossos pensamentos mais comuns.

Não há dúvidas de que os super-heróis são um fenômeno de grande impacto cultural. Estão presentes em diversos países, propagados nos mais diferentes meios de comunicação, primordialmente, nos quadrinhos, e, mais recentemente, no cinema e na televisão. Já estiveram presentes em jornais e programas de rádio, além de serem encontrados na Internet. Além disso, eles estimulam a criação de super-heróis nacionais. Diversos pesquisadores lançam seu olhar sobre eles: sociólogos, antropólogos, psicólogos, filósofos e pedagogos, todos tentando entender o poder de atração que tais personagens exercem em, pelo menos, uma etapa da vida do ser humano moderno.

Nesse sentido, a teologia não pode ficar de fora dessa discussão. Como ciência humana que procura compreender como o ser humano em suas ambigüidades e em sua existência se relaciona com sua preocupação última, a teologia se torna uma das principais interessadas no assunto. A teologia não é acultural nem divina, tal como o senso comum tende a caracterizar. Nem sequer a religião é algo que se possa separar da cultura. “Teologia é rede que tecemos para nós mesmos, para nela deitar o nosso corpo. Ela não vale pela verdade que possa dizer sobre Deus (seria necessário que fôssemos deuses para verificar tal verdade); ela vale pelo bem que faz à nossa carne” (ALVES, 1987: 10).

O Caminho dos Símbolos

Como as demais ciências humanas, a teologia dirige seu olhar sobre a teia de significados que o ser humano, como ente de desejo e imaginação, cria para sobreviver e sobre a qual ele está condicionado. No entanto, ela se interessa especificamente pelo ponto em que a cultura fracassa em criar os objetos de desejo do ser humano e este se vê diante de sua impotência e dos símbolos da ausência que esta evoca cujo conjunto chamamos de religião.

Portanto, o estudo da religião e dos símbolos religiosos está sustentado na experiência humana e em sua apreensão, no surgimento de universos de sentido e no jeito e na forma como eles são traduzidos. No fundo, a teologia não pode ser considerada ciência em seu sentido de uso corrente, seria necessário redefinir o conceito de ciência que o positivismo legou. A teologia é antes sapiência, um saber que vem cheio de sabor, que não está distante da realidade em que o ser humano vive. Ela é o conjunto da alquimia que possibilita o ser humano existir como tal, i. é, como ser relacional, empírico, simbólico.

O ser humano é um ser simbólico e os símbolos nada mais são que um horizonte para o qual o ser humano direciona seu caminhar (Cf. ALVES, 2005: 23). Todavia, o ser humano não cria os símbolos, eles simplesmente acontecem enquanto são evocados. Eles surgem e desaparecem como as fadas cuja existência está condicionada à lembrança e ao esquecimento. Seu poder é semelhante às metáforas e metonímias que usamos. Eles têm o poder mágico de conectar mundos. É como uma chave mística que, quando tocada, nos transporta para um outro lugar que só seria conhecido por nós por meio da própria chave. No entanto, esse outro lugar não é nem o “mundo das idéias”, nem qualquer outro espaço dimensional desconhecido, mas o próprio mundo em que habitamos, agora re-significado. Os símbolos abrem “dimensões e estruturas da nossa alma que correspondem às dimensões e estruturas da realidade. Um grande drama não nos dá apenas uma nova intuição no mundo dos seres humanos, mas também revela profundezas ocultas do nosso próprio ser” (TILLICH, 2001: 31).

Assim, a pergunta da teologia diante do fenômeno dos super-heróis não é se este é ou não um fenômeno religioso – esta seria uma pergunta deveras superficial e, ao mesmo tempo, eternamente carente de uma resposta que lhe satisfizesse – mas quais são os símbolos que ali se manifestam, “porque o símbolo é a linguagem da fé” (TILLICH, 2001: 36). Assim como o símbolo, a religião é um evento que irrompe da relação que é estabelecida com algo ou com alguém. Ela não surge da abstração, da metafísica, mas sim de um encontro, de uma experiência. Portanto, é pelo caminho dos símbolos que a teologia compreenderá o fenômeno dos super-heróis. Naturalmente, ela não percorrerá sozinha por essa trilha, mas na companhia de suas outras irmãs: a sociologia, a antropologia e a psicanálise. Com o itinerário definido e na companhia de uma intérprete, a semiótica, é possível experimentarmos nossos primeiros passos rumo ao principal ponto de referência no universo dos super-heróis: o Super-Homem.

O Super-Homem em três perspectivas

Quando nós ouvimos ou vemos o nome Super-Homem estampado em algum texto ou propaganda, dificilmente faremos qualquer associação com o Übermensch de Friedrich Nietzsche. Mesmo que até seja possível estabelecer algumas associações com o perfil do novo ser humano descrito pelo filósofo, esse jogo de pensamentos só será feito eventualmente por quem participa dos dois âmbitos, i. é, por quem conhece a filosofia de Nietzsche e a mitologia do Super-Homem. Há aí um diferencial: enquanto que o Sobre-Homem freqüenta academias e cafés filosóficos, o Super-Homem está no cotidiano, tamanha é a difusão desse personagem oriundo das histórias em quadrinhos.

No entanto, não é só uma questão de difusão. O Super-Homem mexe com as entranhas do ser humano, as fantasias, os mitos, os símbolos, os sonhos, toda essa linguagem que a ciência tende a relativizar. O Super-Homem é um mito, i. é, uma narrativa metalingüística que fala ao consciente e ao inconsciente humano e, ao mesmo tempo, visa “preservar a coesão social e reafirmar a identidade de um grupo, resguardar valores, fornecer um equilíbrio e, em última instância, dar um sentido à existência” (REBLIN, 2005: § 18). O Super-Homem satisfaz “as nostalgias secretas do ser humano moderno que, sabendo-se condenado e limitado, sonha revelar-se um dia como uma ‘personagem excepcional’, um ‘herói’” (ELIADE, 1963: 155). Assim, o Super-Homem carrega em suas histórias uma amálgama de valores, ideais e desejos que reflete o que o ser humano acredita, espera e aspira.

Portanto, o mito do Super-Homem é tanto uma história exemplar quanto uma história de encantamento e esta não poderia ser mais espetacular: um pequeno foguete chega a Terra durante uma chuva de meteoros e traz consigo uma criança que é encontrada e adotada por um jovem casal de fazendeiros. Enquanto cresce e é educada dentro dos valores da sociedade em que se encontra, ela descobre e desenvolve suas habilidades sobre-humanas. Quando adulta, torna-se jornalista e um salvador para o povo. Enfim, o Super-Homem é um mito e este é o ponto de encontro preferido dos símbolos, principalmente, dos símbolos que atingem nossas entranhas (Cf. TILLICH, 2001: 37).

Após essas considerações, cabe agora elucidar alguns caminhos, sobre os quais pesquisas futuras poderão firmar seus pés e deixar suas pegadas. Diante da disponibilidade espacial permitida para este texto, abordar-se-á o mito do Super-Homem em três perspectivas: como símbolo do desejo de poder; como símbolo das esperanças messiânicas e como símbolo do Destino Manifesto. Essas três perspectivas não se encontram estanques uma da outra, mas elas interagem entre si e se complementam mutuamente.

Símbolo do Desejo de Poder: Super-Homem é considerado o marco inicial do chamado “gênero da superaventura”, o primeiro de uma era de super-heróis que encontrou na sociedade capitalista as condições necessárias para sobreviver: “o processo de burocratização e mercantilização das relações sociais no capitalismo cria a necessidade, através da fantasia, de superar a prisão que se tornou a vida social e conquistar uma liberdade imaginária para compensar a falta de liberdade real” (VIANA, 2005: 41).

Não cabe recuperar a pesquisa que Nildo Viana desenvolveu com maestria sobre esse assunto, mas apenas ressaltar alguns de seus aspectos que nos interessam aqui. Em primeiro lugar, o sociólogo afirma que os super-heróis também são uma manifestação do inconsciente coletivo, que ele define como “conjunto de necessidades/potencialidades reprimidas em todos os indivíduos que formam uma coletividade” (VIANA, 2005: 59). Diante de uma sociedade dominada pela repressão, pela burocracia, o ser humano busca encontrar na imaginação a liberdade desejada:

O desejo reprimido de liberdade [...] encontra no mundo dos super-heróis uma de suas formas de manifestação mais espetaculares. Estes rompem com os limites impostos, combatem a injustiça (embora a idéia de justiça que se passa é mais a ditada pela consciência do que pelo inconsciente), defendem os “fracos e oprimidos” – que são aqueles que continuam submetidos à opressão – etc. Voar, por exemplo, é um símbolo de liberdade, de superação de limites, e muitos super-heróis possuem este poder. (VIANA, 2005:61).

Em segundo lugar, essa liberdade desejada surge associada com a vontade de poder, entendida no sentido de potencialização e não no sentido de dominação. Nesse ponto, é interessante notar que os quadrinhos, embora não abordem especificamente a idéia de domínio, expressam o temor pelas conseqüências que o excesso de poder pode gerar. O próprio Super-Homem também já se delegou no direito de ser juiz, júri e executor, assassinando três kryptonianos ao invés de enviá-los à conhecida Zona Fantasma, tendo se auto-exilado posteriormente como penitência ao seu pecado. De qualquer forma, “a vontade de liberdade inconsciente cria aventuras onde o ser humano rompe com seus limites (naturais e sociais). Essa ruptura com os limites faz dele um ‘super-homem’ [...] um ser que pode superar as injustiças fazendo justiça por suas próprias mãos” (VIANA, 2005: 62).

Um outro aspecto do Super-Homem como símbolo do desejo de poder é a representação de seu corpo. Além de incorporar os valores axiológicos da cultura e da sociedade (como p. ex., a ditadura do corpo perfeito) o corpo do Super-Homem carrega o desejo de transcendência e a necessidade de superação dos limites impostos ao corpo humano, inclusive o limite da própria morte. Mesmo com seu corpo juvenil e franzino, o Homem-Aranha possui um corpo que transcende o corpo de qualquer pessoa. Nesse ponto, o Super-Homem e qualquer outro super-herói assemelham-se ao Übermensch de Nietzsche, ao estar implícito neles a vontade que o ser humano possui de ultrapassar-se e projetar-se ao infinito. Isso torna o corpo do Super-Homem um corpo religioso no sentido mais feuerbachiano do termo: “Nenhum ser pode negar-se a si mesmo, a sua própria natureza. Todo ser, ao contrário, é em si e por si mesmo infinito, tem o seu Deus, o seu mais alto ser, em si mesmo” (FEUERBACH, 1957: 7).

Símbolo das esperanças messiânicas: O Super-Homem foi criado por Jerry Siegel e Joe Shuster em 1934, mas só estreou em junho de 1938, no primeiro número da Action Comics. Tratava-se de uma época de grande reestruturação econômica e política do país, devido à quebra da bolsa de Nova Iorque (1929). Durante os anos turbulentos da Grande Depressão, o desemprego e a miséria foram combatidos pelo plano New Deal, que incluía uma série de reformas econômicas e sociais, a ênfase na assistência e em obras públicas e o controle mais rígido das empresas por parte do Estado.

Ao mesmo tempo, tratava-se do período pré-guerra, em que o medo da possibilidade da necessidade de uma incursão na Europa preocupava muitos jovens. Ambos os fatores, aliados à falta de divertimento para adolescentes e jovens foram determinantes para o surgimento do Super-Homem e dos outros super-heróis (Cf. GUEDES, 2004: 16). Esses personagens chamaram a atenção dos próprios nazistas, que, por um lado, participavam das histórias como os inimigos dos super-heróis e, por outro lado, consideraram o próprio Super-Homem um judeu.

Embora o Super-Homem não seja judeu em seu sentido literal, i. é, por ser um alienígena e não freqüentar sinagogas ou seguir a tradição judaica, ele esteve naturalmente ao lado destes ao se opor ao nazismo e ao defender o “homem livre americano” (Cf. VIANA 2005: 45). De qualquer forma, num contexto tenso como o daquela época, não seria atípico se dois judeus, Jerry Siegel e Joe Shuster, criassem um personagem com elementos e uma estrutura baseada na crença judaica da vinda do Messias e isso de fato aconteceu (Cf. GUEDES, 2004: 16).

Segundo a história do super-herói, o Super-Homem é enviado a Terra de um outro mundo e, com poderes sobre-humanos, vem para lutar pela “verdade, justiça e o jeito americano”. Seu nome de batismo, Kal-El, assim como o de seu pai, Jor-El, carregam a palavra hebraica que significa “Deus” (El). Para os judeus, o Messias é um enviado divino que surge numa fase da história humana para libertar o povo e trazer felicidade, paz e justiça. É característico do povo judeu a consciência histórica e a compreensão de que Deus é Deus da história. Logo, essa incursão messiânica não acontece numa realidade além da história, mas numa fase da história. “E como a história se refere à vida coletiva de um grupo, o messianismo não significa a salvação de um indivíduo, mas sempre a salvação de um grupo ou da humanidade” (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 1986: 747).

É importante ressaltar que a crença no Messias se intensifica em momentos em que a sociedade sofre diante das desgraças e das injustiças sociais. Nesse contexto, as esperanças messiânicas “são certezas do futuro que surgem da confiança de que ‘Deus permanece fiel à sua promessa’ e assim mantêm viva a fé em meio ao sofrimento e animam para a resistência interior e exterior contra os poderes do mundo” (MOLTMANN, 2003: 167). Em meio aos conflitos, os judeus têm a certeza de que haverá uma “mudança completa das condições penosas de existência, trazida por um personagem sagrado que tornará a pôr tudo em ordem” (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 1986: 746).

O Super-Homem é expressão da esperança messiânica. Esta está estritamente vinculada às experiências religiosas e sociais de seus criadores, ao seu consciente e ao seu inconsciente pessoal e coletivo. É uma amálgama de valores e desejos emanados num momento de crise, mas também decorrente da própria autocompreensão do povo dos Estados Unidos como os “salvadores do mundo”, ou melhor, como o “povo eleito de Deus”. Assim, o Super-Homem torna-se também símbolo do “Destino Manifesto”.

Símbolo do Destino Manifesto: O “Destino Manifesto” é a compreensão de que os sucessos de expansão e conquista provêm da providência divina. Inicialmente, essa compreensão expressava-se na Doutrina Monroe, “América para os americanos”, e estava associada à conquista do Oeste americano, justificando as guerras contra os índios. Posteriormente, essa compreensão se ampliou e entendeu também que Deus teria elegido o povo norte-americano a assumir a liderança na regeneração do mundo e a civilizá-lo. O Destino Manifesto justifica as intervenções militares e a manutenção dos interesses norte-americanos:

Se os EUA foram eleitos para a salvação de todos os povos e da humanidade, então, a sua política não só pode, como deve ser avaliada pelo critério da promoção da liberdade dos povos, de sua autocracia e dos direitos humanos. O perigo fica evidente quando a concepção do “manifest destiny” é utilizada para reprimir, conquistar e apoiar ditaduras que desprezam a humanidade para fins da própria “segurança nacional”. (MOLTMANN, 2003: 195).

O Destino Manifesto é uma evolução de uma compreensão anterior: a autoconsciência norte-americana de ser o povo eleito de Deus. Essa autoconsciência acompanhou os primeiros imigrantes ingleses puritanos na viagem ao “Novo Mundo” entre 1629 e 1640. “Eles levaram junto as imagens apocalípticas da luta entre Cristo e o anticristo, entre a Igreja verdadeira e a falsa e o vaticínio da vinda iminente do reino milenar de Cristo” (MOLTMANN, 2003: 190). A história americana encontrava analogias em textos bíblicos, sobretudo, na história de libertação do êxodo, que motivava a libertação dos escravos negros, das mulheres, dos povos oprimidos na América Latina, mas com uma diferença substancial: a necessidade da morte do “faraó”. “O Deus que liberta o seu povo destruirá os inimigos do seu povo. [...] [Assim,] O ‘povo eleito’ sempre trava as ‘batalhas do Senhor’. Por esta razão, as suas guerras, mais do que meras lutas pelo poder, são antes ‘cruzadas’ (crusades) numa missão divina” (MOLTMANN, 2003: 191). A autoconsciência de ser o povo eleito carrega consigo a aptidão para julgar os outros povos.

Em virtude disso, o Super-Homem, como expressão do inconsciente coletivo e da cultura norte-americana, torna-se também símbolo do Destino Manifesto. Na verdade, o messianismo judaico e o Destino Manifesto chegam a se confundir, uma vez que este último é construído sobre a compreensão do messianismo ou milenarismo cristão. O Super-Homem cresceu em meio aos valores sociais do povo estadunidense e, por isso, tornou-se salvador do mundo, num sentido muito próximo ao lema “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” do Homem-Aranha. Seus inimigos, locais, sempre visam o domínio do mundo, enquanto que o Super-Homem sempre luta pela preservação deste. Suas diversas histórias nos quadrinhos, filmes e séries evidenciam sua imagem como agente de salvação dos Estados Unidos e do mundo.

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Fonte: Rev. ESPAÇO ACADÊMICO




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Anônimo disse...
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