Começou hoje no Camboja o julgamento de quatro dos mais altos responsáveis dos Khmer Vermelho, que terão causado a morte de quase dois milhões de pessoas na década de 1970. Os quatro responsáveis enfrentam acusações de genocídio e crimes de guerra.
Estima-se que o regime dos Khmer Vermelho tenha sido responsável pela morte de entre 1,7 e 2 milhões de pessoas (Chor Sokunthea/Reuters)
Mais de 30 anos após os acontecimentos, sentam-se agora no banco dos arguidos quatro testemunhas vivas dos genocídios ocorridos no Camboja: o ideólogo do regime liderado por Pol Pot - ou o “irmão número dois”, como também era conhecido - Nuon Chea; o ministro dos Negócios Estrangeiros de então, Ieng Sary e a sua mulher e ministra dos Assuntos Sociais, Ieng Thirith, e finalmente o chefe de Estado do regime, Khieu Samphan.
Os quatro respondem diante de um tribunal internacional da ONU por crimes de guerra, crimes contra a Humanidade e genocídio.
Os quatro arguidos, com idades entre os 79 e os 85 anos, estiveram presentes em tribunal.
Os quadros políticos do regime deverão explicar em tribunal os acontecimentos ocorridos no Camboja entre 1975 e 1979, nomeadamente a eliminação metódica e calculada de milhares de pessoas através de um regime marxista ultra-ortodoxo. Estima-se que tenham morrido às mãos do regime dos Khmer Vermelho entre 1,7 e 2 milhões de pessoas (à época um quarto da população do país) em consequência das torturas, da fome, dos trabalhos forçados e de execuções.A minoria muçulmana Cham, a população vietnamita e a comunidade de monges foram os alvos preferenciais desta chacina que marcou um dos períodos mais negros da história da Humanidade.Entre hoje e quinta-feira decorrem as audiências preliminares, que serão consagradas às questões processuais, nomeadamente as listas de testemunhas. Depois desta primeira fase haverá uma suspensão que deverá durar algumas semanas, num processo que se prevê que venha a durar anos.
Especialistas e movimentos cívicos temem, por isso, que os arguidos não cheguem a viver para conhecer o veredicto da justiça, especialmente se a Defesa optar por numa estratégia de obstrução.
Durante as audiências preliminares irá igualmente decidir-se se Ieng Sary pode voltar a ser julgado, levando em conta que um tribunal nacional o condenou a morte à revelia por genocídio em 1979, mas depois lhe concedeu uma amnistia em 1996.
O chefe dos Khmer Vermelho, Pol Pot, morreu na floresta cambojana em 1998, prisioneiro de seus próprios correligionários.
Fonte: PUBLICO (Pt)
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