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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um livro sobre a sexualidade dos padres


Sexo e o Vaticano

uma viagem secreta no reino dos castos
Carmelo Abbate. Em em novo livro, o jornalista revela a existência de milhares de padres hétero e homossexuais em plena atividade
A Paolo Manzo
“O Sexo e o Vaticano”, o ensaio publicano no fim do mês de abril na Itália e na França pelo jornalista Carmelo Abbate, tem seu iní­cio no relato de uma festa muito especial e de uma investigação que teve a duração de mais de um ano. O livro, uma viagem secreta no “reino dos castos”, realizada por um undercover repórter, ele mesmo, Abbate, provocou a pronta reação do Vaticano. Uma nota oficial do Vicariato de Roma convidou os padres envolvidos a “sair ao descoberto”. Além da vergonha da pedofilia, a Igreja de Roma padece de um enorme problema
quanto a todos os temas relacionados com a sexualidade, a começar pelo celibato de padres e freiras. O livro revela a existência de sacerdotes
de todas as nacionalidades que se dividem entre cerimônias religiosas e as atrações da noite romana. Padres com vida dupla.
Experiências de escort e chat. Seminaristas e freiras que vivem escondendo a própria sexualidade, seja ela hétero ou homossexual. O problema dos filhos do sacerdotes e de suas mães que enviaram ao Papa Bento XVI um documento secreto para relatar a sua difí­cil situação. Prelados envolvidos nas batidas de polí­cia contra a prostituição.
Relatos de abortos clandestinos, estes em grande número, e pedidos de adoções para libertar-se dos “frutos do pecado”. Sem contar um rio de dinheiro para comprar o silêncio dos amantes ou para acompanhar o crescimento dos meninos.
Sex and the Vatican está para ser editado nos EUA e, ao que tudo indica, no Brasil.
ENTREVISTA:
CartaCapital: Como nasceu a idéia de escrever este livro?
Carmelo Abbate: Tudo nasceu por um acaso. Um amigo homossexual me chamou, isso em junho de 2010, e falando disso e daquilo diz de improviso: “Você nem imagina o que me aconteceu ontem”. Ele estava em uma sauna gay em Roma, e lá teve uma relação sexual com outro frequentador, e até aqui nada de extraordinário. O outro oferece uma carona no seu carro, ele aceita e ali descobre um colarinho e outros objetos clericais.
Encara o companheiro e este admite: “Sim, sou padre”. Conta então que isso é uma coisa normal, que é francês e que muitos padres vivem tranquilamente a própria sexualidade. Em seguida fala de “certa festa” que aconteceria na semana seguinte em Roma, com a preseça de outros padres e também escorts masculinos. O padre gay não me surpreendeu, mas queria verificar a história, também porque aquele sacerdote não era um padre qualquer; ele celebrava a missa todas as manhãs, às 7 horas na Basí­lica de São Pedro.
CC: Por isso decidiu infiltrar-se na tal festa?
CA: Sinceramente, tinha mais de uma dúvida e queria verificar. Mas era tudo verdade. Consegui entrar na festa me apresentando como namorado de meu amigo. Estavam presentes muito prelados.
CC: Medo?
CA: Houve um momento em que pensei que minha situação era insegura quando ouvi um imigrante clandestino, no Sul da Itália, relatando fatos relacionados com os “gatos”, que recolhiam tomates no meio das serras.
CC: Nunca pensou em desistir?
CA: Não, porque entra em ação a adrenalina e, como consequência, você quer levar a termo a sua investigação, quer verificar o que realmente acontece, somente por isso resisti.
CC: Que fim levou o padre francês?
CA: Procurei diretamente a Santa Sé, que não respondeu. Quem foi às missas das 7 em São Pedro, depois da publicação do livro, não o viu mais. Algumas semanas atrás, o jornal La Repubblica verificou que os padres citados em minha investigação inicial, cujos resultados foram divulgados pela revista Panorama, acabaram em algum lugar secreto, para refletir e decidir se pretendem abandonar os votos. Espero que não sejam eles a pagar por todos, porque a reação oficial do Vaticano fala de “casos isolados”. A minha motivação ao escrever o livro foi descobrir que não se trata de três, quatro, cinco frutos podres. Estamos diante de um fenômeno amplo, do qual não conhecemos a exata entidade.
CC: Qual é a conclusão?
CA: Descobri que a Igreja é um gigantesco fruto podre, e que, então, não se pode enfrentar o problema da sexualidade explorando a situação de um punhado de sacerdotes que erram. O fenômeno é extenso e importante. Além das orgias homossexuais, penso em tantos casos que me permitem descrever em detalhes as peripécias dos inúmeros padres envolvidos com mulheres. Quando estas engravidam, são aconselhadas ao aborto pelos colegas de quem as engravidou, às vezes pelo bispo da diocese. Penso na alternativa, ou seja, no número das mulheres dos padres que dão luz às escondidas e, em troca, recebem um salário mensal de, aproximadamente, 1,5 mil euros até quando os “filhos do pecado” alcancem a maioridade.
Dinheiro da Igreja pago em troca do silêncio. É terrí­vel, principalmente por causa dessa duplicidade moral, que representa o sentido real do meu livro. De um lado, quem está no interior da instituiçao tudo pode, desde que possa salvaguardar o bem maior, ou seja, as aparências. Entre o pecado e o escândalo a Igreja escolhe o pecado escondido e a mensagem: “você, padre ou freira, pode continuar a pecar, contanto que não crie caso.” Do outro lado fica a Igreja, que não somente condena o aborto, mas também a contracepção, e condena separados e divorciados. Alguns dias atrás, em Treviso, uma mulher disse ao confessor que iria casar com um homem separado e o padre a expulsou do confessionário, recusando absolvê-la por um pecado ainda não cometido.
Uma tragédia para uma fiel convicta, que escreveu aos jornais denunciando o acontecido. E nem falemos da menina brasileira de 9 anos que, estuprada pelo padrasto, sofreu o aborto dois anos atrás, porque, além da pouca idade, era desnutrida e teria morrido em caso de parto. Os médicos responsáveis e a mãe da pequena foram excomungados pelo arcebispo de Olinda e Recife. Quando o pai natural é um padre que se relacionou sexualmente com mulheres de idade, conscientes, e na maioria das vezes, apaixonadas, os bispos aconselham o aborto. Esta é a dupla moral inaceitável.
CC: Quais foram as repercussões do livro?
CA: Por minha sorte saiu contemporaneamente também na França e, considerando que somente os Alpes nos separam, em Paris sinto-me como em casa, graças à imprensa e às televisões. O que me impressionou foi que no exterior falou-se abertamente dos assuntos levantados no livro, como é normal, considerando a gravidade dos fatos apresentados. Ao contrário, na Itália, nada. A tal ponto que a respeito dessa “lei do silêncio”, escreveu uma longa reportagem o diário britânico The Guardian, chamando a Itália de “Vaticália”. Bem além dos meus merecimentos ou deméritos, quando, em 21 de abril o livro saiu, a France Press tentou recolher também a opinião da Santa Sé e da Conferência Italiana dos Bispos. Responderam: “Não temos nada a dizer. Não façam publicidade desse livro.” Certo é que, na Itália, o livro não foi resenhado.
CC: Conforme sua apuração, quantos padres no mundo não respeitariam o celibato?
CA: Segundo a minha fonte nos EUA, Richard Sipe, com 11 livros sobre o assunto, universalmente reconhecido como o maior expert em sexualidade na Igreja Católica, 25% dos padres dos EUA tiveram relações com mulheres depois da ordenação, enquanto outros 25% estão envolvidos em relações homossexuais. Estamos, pois, falando da metade dos sacerdotes norte-americanos que não respeitam as normas da castidade. Para Dom Franco Barbero, padre italiano excomungado que se ocupa desse tema, na Alemanha, de 18 mil sacerdotes católicos, pelo menos 6 mil vivem com uma mulher, mesmo de forma escondida. Na Itália, não existe nenhuma tentativa de pesquisa, nada de nada, o único dado chega novamente de Barbero que, depois de ter sido excomungado, foi procurado por mais de 3 mil sacerdotes homossexuais que manifestaram o próprio sofrimento. No Brasil, enfim, o Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) realizou uma pesquisa anônima com 758 padres brasileiros: 41% admitiram ter tido relações sexuais e a metade deles se pronunciou contra o celibato. Com toda certeza, esses dados nos dizem que nos encontramos diante de um monumental problema para a Igreja Católica, ou seja, a dupla vida de boa parte do clero.
CC: E qual seria a causa?
CA: O vínculo do celibato não funciona. É um dado de fato. Falamos disso ou queremos fingir que o fenômeno não existe? Ou melhor, quem é realmente o verdadeiro católico, aquele que se preocupa com a sorte da Igreja, aquele que enfrenta o problema ou aquele que finge não ver? Eu,
que sou católico, casado na Igreja e com dois filhos, escrevi sobre isso. Pena que o Vaticano hoje me encare como um anticristo.

2 comentários:

Ana Rosa disse...

Gostaria de saber se o livro do carmelo abbate "sexo e o Vaticano" já foi publicado no Brasil e qual editora.E se nao foi, qual a previsao de publicação!

Alice disse...

Gostaria da mesma informação.