Eram doze, os tucanos que vi ontem, pousados numa árvore da propriedade do vizinho Cinésio Silva.
Com suas cores inconfundíveis e seus bicos apavorantes (terror dos filhotes de certos pássaros menores), dos quais, a exemplo das gralhas e dos sagüis, são predadores.
Emitiam um som estranho, à guisa de canto.
Fazia um bom tempo que não os via em bando tão expressivo, aqui pela nossa Ilha.
Os pássaros estão mesmo voltando. Que bom, pensei.
Hoje pela manhã, olhando pelas janelas da minha sala, vi quero-queros, saracuras, gralhas, pica-paus, joãos- de-barro (horneros para os povos de língua espanhola, nossos vizinhos), sabiás-brancos, bicudos-pretos (uns pernaltas que andavam desaparecidos), rolinhas e outros columbófilos, esvoaçando, catando bichinhos, numa alegria característica da fauna miuda e fiquei contente de pensar que estou colaborando para a volta deles, ao plantar árvores que geram frutos, os quais lhes servirão de comida.
Para os tucanos, plantei embaúva (dá frutos semelhantes a finas linguiças); para os sabiás e outros pássaros menores, plantei aroeiras, goiabeiras e amoreiras; para os pombos e pombas, plantei canzileiros (árvores duras, que dão madeira para fazer canzis, peças antigamente usadas para atrelar os bois aos carros e que produzem pequenos frutos muito semelhantes à pimenta malagueta) ou fruta-de-pomba; para os sanhaços, sabiás, bem-te-vis, saíras, tiés e cambacicas, plantei bananeiras, grandiuvas, capororocas; para muitos outros, plantei laranjas, caquis, bergamotas, olhos-de-boi.
Ainda tenho esperança de voltar a ver, em nossa Ilha, a vistosa saíra de sete castas (ou sete cores), o capitão-do-mato, o tié-sangue, o sabiá-preto, o sabiá-coleira, o sabiá-congo, o coleirinha, o tico-tico, o gaturamo (imitador emérito e debochado, dos outros pássaros), o pintassilgo (ou canario-do-algodoeiro) e o tsiu, que andam desaparecidos, por força da caça impiedosa que lhes dão certos seres humanos sem coração.
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