O que poderia ser uma transição tranquila, acabou gerando uma revolta na questão do ensino religioso no estado do Rio. O fato aconteceu quando a maioria dos representantes das religiões se posicionou em audiência pública, realizada na Assembleia Legislativa do Rio, contra o projeto de lei que prevê a implantação do ensino religioso nas escolas públicas municipais do Rio. A decisão foi tomada porque eles entendem que isso reforçará a hegemonia da Igreja Católica na educação.
O padre Paulo Alves Romão e o deputado federal católico Márcio Pacheco (PSC) só não ficaram isolados porque o sheikt Ahmad Mohammed, presidente da Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento Islâmico, disse que os estudantes devem ter esse tipo de orientação porque muitas vezes a família não tem tempo de fazê-lo. O argumento do padre foi de que ensino religioso não é catequese e o do deputado de que “crianças pobres também precisam ter educação completa”.
O cigano Mio Vacite de certa maneira respondeu ao muçulmano. “A impressão que passa é de que se a pessoa não tiver educação religiosa ou ela é vagabunda ou bandida”, disse. “Tenho medo da ditadura religiosa. Se estamos em um país democrático, temos de pensar muito. A moral não está só na religião.”
O bruxo Og Sperle, sacerdote da religião Wicca, alvejou a Igreja Católica em seu ponto mais sensível: “A religião não tem a premissa de moldar o caráter porque, se assim fosse, não teríamos tantos casos de pedofilia em igrejas.”
O bispo evangélico e vereador Jorge Braz (PTdoB) foi direto: “Chega de hegemonia!”. Ele manifestou o temor de que a lei seja aprovada porque a maioria dos parlamentares é católica.
Se a lei passar e não contemplar as crenças dos afrodescentes, o babalaô Ivanir dos Santos afirmou que recorrerá ao STF (Supremo Tribunal Federal). “Ou é para todo mundo ou não é para ninguém.”
Diane Kuperman, da Federação Israelita do Rio, bombardeou o projeto de lei com o argumento de que não faz sentido investir no ensino religioso considerando a precariedade das aulas de, por exemplo, matemática e português, para as quais muitas vezes faltam professores. “E nós ainda teremos gastar o dinheiro dos nossos impostos para o ensino obrigatório de uma aula cuja lei prevê frequência facultativa? Não tem coerência.”
Se for implantado o ensino religioso, a prefeitura do Rio terá de contratar pelo menos 600 professores para atender 1.063 escolas ao custo de R$ 12 milhões por ano.
Não houve nenhum representante dos ateus na audiência.
O Conselho Municipal de Educação emitiu em fevereiro parecer contrário ao ensino religioso. O projeto de lei estava tramitando em regime de urgência, mas agora, diante da polêmica, não há previsão de quando será levado à votação.
O STF deverá se manifestar sobre a questão provavelmente até o final do ano, estabelecendo parâmetros não só para o município do Rio, mas para todo o Brasil.
Fonte: Paulopes, via JORNAL MUNDO GOSPEL
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