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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A existência de "deus" em discussão

22/08/2010
às 9:12 \ Eventos
Autor de ‘O Mundo de Sofia’ discute a existência de Deus

Aos 11 anos, o norueguês Jostein Gaarder percebeu algo que o deixaria inquieto pelo resto da vida. Um dia, ao acordar, ele se deu conta de que viver – ainda mais no universo em que vivemos – não era “uma coisa normal”. Era “mágico”. Foi essa inquietação que o levou à filosofia, às salas de aula e aos livros. Nos últimos 47 anos, Gaarder, uma das atrações internacionais desta Bienal do Livro de São Paulo, vem tentando – primeiro como professor, depois como escritor – transmitir seu espanto às pessoas. Na literatura, onde estreou em 1986, parece ter conseguido. O seu livro mais famoso, O Mundo de Sofia (1991), fez dele um autor traduzido para 42 línguas.

“Há dois tipos de escritores: aqueles que escrevem porque são apaixonados pela linguagem e aqueles que o fazem porque têm mensagens para passar”, diz, em entrevista a VEJA Meus Livros. “Eu estou no segundo grupo.” Em seu novo livro, O Castelo nos Pirineus (Companhia das Letras, 184 páginas, leia aqui um trecho), a mensagem – ou inquietação – que Gaarder procura transmitir é a do embate entre ciência e religião.

No romance, dois ex-namorados se reencontram após 30 anos e relembram o que os separou: visões de mundo completamente diferentes. Após atropelar uma mulher na estrada e reencontrá-la uma semana depois, quando jovens, cada um tem uma posição distinta diante dos fatos. Ele, Steinn, acredita que pode ver a mulher porque ela está viva e passa bem. Ela, Solrunn, acha que eles veem apenas o espírito da mulher morta, desejoso de se comunicar com eles, coisa que o cético Steinn não pode aceitar. Ele é a ciência. Ela, a religião.


Em qual dos dois namorados você se reconhece melhor?
Steinn é um cientista natural, um cético, mas admite que a vida guarda mistérios. Eu me identifico muito com ele. De todo modo, enquanto eu escrevia o romance e ouvia a voz da outra personagem, a Solrunn, ia vivendo uma espécie de debate interno, uma discussão na minha cabeça. Discutir a existência de Deus e da vida após a morte é algo muito antigo, mas, para mim, essas são questões bastante razoáveis e interessantes.

Mas são questões sem resposta, não são?
Esse é um ótimo comentário. Elas têm respostas, mas são respostas que estão atrás do pescoço, por assim dizer, respostas que não podemos tocar. Nós podemos opinar, mas não podemos decidir se Deus existe ou não. Talvez sim, talvez não. Eu não acredito que exista algo após a morte, mas não posso excluir essa opção. Sou otimista. Ser pessimista é ser preguiçoso – e, se eu fosse, não diria publicamente (risos). Na verdade, existe algo entre pessimismo e otimismo de que eu não abro mão, que é esperança. Se eu não esperar que haja algo para mim após a morte, vai ser triste, a vida é muito curta. E eu posso ter esperança. O universo é um grande mistério.

Então, você não acredita em Deus, mas admite que ele pode existir?
Exatamente. Acho que pode existir uma força divina que tenha criado o universo. Por que não? Eu não sei. Mas eu não creio em revelações físicas, como a personagem de O Castelo nos Pirineus. Tem gente que diz que fala com os anjos e até com Deus, que ordena que algumas coisas sejam feitas, eu não acredito nisso. Mas muita gente no mundo acredita em coisas assim. Fala-se muito no fundamentalismo islâmico, mas também há o fundamentalismo cristão, especialmente no norte da América. Por falar em revelação ou aparição, vale dizer que a personagem principal do livro não é ele nem ela. É a mulher atropelada, que usava um cachecol vermelho, peça deixada no local do acidente. Na Alemanha, o livro se chama A Mulher do Cachecol Vermelho.

Desde O Mundo de Sofia, que o projetou internacionalmente, o senhor se tornou um best-seller. Como é viver com isso?
Eu me considero um homem de sorte. Antes de O Mundo de Sofia, eu escrevi O Dia do Coringa, que me projetou em meu país – O Mundo de Sofia o fez em nível internacional. Eu hoje sou lido em 55 línguas, e sou grato a Sofia por isso. Para mim, a escrita é uma maneira de me comunicar, de passar mensagens. Eu acredito que haja dois tipos de escritores: aqueles que escrevem porque são apaixonados pela linguagem – assim como pintores que gostam de mexer com tinta – e aqueles que o fazem porque têm mensagens que querem comunicar.

Que mensagem você tenta passar às pessoas?
Quando eu tinha 11 anos, eu me lembro, acordei um dia com uma revolução na cabeça. Comecei a pensar como era estranho viver dentro do nosso universo. Compartilhei isso com meus pais e professores, e eles não entenderam. Parecia normal para eles, e eu fiquei irritado. Então, prometi a mim mesmo nunca me acostumar com o mundo e nunca deixar que a vida se tornasse um hábito. Esta experiência eu venho mantendo ao longo de toda a minha vida e é ela que eu tento comunicar às pessoas – a magia da existência.

Quando o senhor escreve, pensa em atingir tanto crianças como adultos?
Sim. A separação entre literatura adulta e infantil não funciona para mim. Um bom exemplo do que quero dizer é O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. Você não pode dizer se é um livro para crianças ou para adultos. Assim como Robson Crusoé, de Daniel Defoe. Mesmo quando escrevo mirando um público jovem, penso que o livro deve ser também para adultos. E acho que uma boa história para crianças pode agradar adultos. Mas o oposto muitas vezes não acontece.

Qual o segredo para agradar aos dos públicos?
Para agradar a um público jovem, você pode dar mais atenção à história. Num livro para adultos, você pode descrever um personagem, com suas roupas, seus cabelos, em três páginas. Num livro para criança, não dá. Você precisa de mais ação. Eu me inspiro nos contadores de história, como os irmãos Grimm.

Há algo sobre o que o senhor considere impossível escrever?
Quando eu comecei a escrever, há 24 anos, eu achava que nunca poderia fazer literatura erótica. Mas eu me tornei mais maduro e me arrisquei nas histórias de amor em Vida Breve, A Garota das Laranjas e mesmo neste último, O Castelo nos Pirineus. São todos tragédias eróticas. É engraçado eu escrever essas histórias porque minha experiência pessoal é diferente: estou há décadas com a mesma mulher. Desde 1973.

Como é a sua rotina de trabalho?
Eu me sento e escrevo por três meses seguidos, como aconteceu em O Mundo de Sofia. Escrevo apaixonadamente. Uma das minhas técnicas para desenvolver histórias é caminhar. Eu ando, ando, ando e vou pensando nos personagens e nas tramas. Gosto de andar na floresta, no meio das árvores, e também na cidade. Quando me sento para escrever, já tenho quase todo o livro na cabeça.

Maria Carolina Maia

Fonte: Rev. VEJA

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Uma coisa é você ter esperança de que exista uma vida pós-terra. Outra é acreditar na existência de "Deus", ou pregá-la, fanaticamente, como costuma acontecer com aqueles que fazem de tal pregação meio de vida, ou melhor, instrumento de exploração alheia.
Penso que o ser humano - porque é muito presunçoso, atribuindo-se mais valor que imagina possuírem os outros animais, imaginando-se muito mais que matéria animada - não se conforma com o próprio fim e busca na existência de uma divindade - a que credita sua criação - a confirmação da sua esperança de vida post mortem.

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