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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Liberdade e provocação - Fontes de vida

Certa feita, ERIC ARTHUR BLAIR, que usava o pseudônimo de GEORGE ORWELL (autor de "A Revolução dos Bichos") escreveu:

“Se a liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir”.

Quando escrevo algum texto, ou repoduzo escritos de outros neste blog, ou, ainda, quando posto comentários em outros blogs, tenho em mente, invariavelmente, as palavras do famoso escritor inglês acima citado.

Obviamente, não tenho intenção de ofender, de magoar meus leitores ou os leitores de outros blogs, mas é inevitável que isto aconteça. Prefiro assim, até porque endosso o entendimento de que toda unanimidade é burra.

As diferenças são o verdadeiro fascínio da humanidade.


A discórdia, o dissenso, provocam, instigam, são agentes de criação.


A concordância plena promove a estagnação, o envelhecimento e o apodrecimento das idéias carcomidas.
Dogmas, "verdades sabidas", conceitos inatacáveis, tão ao gosto dos conservadores, são um verdadeiro lixo, fazem um mal danado à espécie humana.

Espero envelhecer, virar uma carcaça surrada, mas manter uma cabeça aberta a idéias novas. Não sei se consguirei, mas é este o meu intento permanente.


Lembrei-me do Raul Seixas: "Prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo"


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George Orwell

Eric Arthur Blair
Eric Arthur Blair
Nascimento 25 de junho de 1903
Motihari, Índia
Morte
Ocupação escritor, jornalista

Eric Arthur Blair (Motihari, 25 de junho de 1903[1][2] - Londres, 21 de janeiro de 1950) foi um jornalista, ensaísta e romancista britânico, que escreveu sob o pseudônimo George Orwell.

Sua escrita é marcada por descrições concisas de eventos e condições sociais e o desprezo por todos os tipos de autoridade. É mais conhecido por suas duas obras maiores, Nineteen Eighty-Four, crítica ao autoritarismo, e Animal Farm, uma sátira ao stalinismo.


Biografia

Oriente

Foi agente de polícia no oriente, trabalhando na Birmânia (atual Mianmar). Decidiu deixar o emprego após cerca de cinco anos de trabalho por sentir-se mal ao estar oprimindo um povo estrangeiro. Desenvolveu, então, um ódio contra o imperialismo, conforme relatou brevemente em The Road to Wigan Pier (A Caminho de Wigan).

Reino Unido

Regressou então ao Reino Unido, onde sua vida tomou um rumo incerto. Desempregado ou com empregos de circunstância, deixou definitivamente de ter um percurso convencional; descreveu este período difícil na obra Down and Out in Paris and London (Na Pior em Paris e Londres). Nunca fez estudos superiores.

Revolução Espanhola

Juntou-se à luta no POUM (Partido Operário de Unificação Marxista), uma milícia de tendência trotskista contra Francisco Franco e seus aliados Mussolini e Hitler, na Guerra Civil Espanhola. Foi ferido no pescoço. Uma bala danificou-lhe as cordas vocais, saindo pelas costas, e desde então sua voz ficou ligeiramente afeminada. Mais tarde escreveria o livro Homenage to Catalonia (pt: Homenagem à Catalunha, br: Lutando na Espanha), em que relata sua experiência no conflito.

Morte

Lápide de George Orwell

Orwell morreu em Londres vítima de tuberculose, aos 46 anos de idade.[3] Tendo solicitado um funeral de acordo com os ritos anglicanos, foi enterrado na All Saints' Churchyard, Sutton Courtenay, Oxfordshire, com o simples epitáfio: "Here lies Eric Arthur Blair, born June 25, 1903, died January 21, 1950" ("Aqui jaz Eric Arthur Blair, nascido em 25 de junho de 1903, falecido em 21 de janeiro de 1950"); nenhuma menção é feita a seu célebre pseudônimo.

Obras

Romances

Baseadas em experiências pessoais

Enquanto a substância de muitos dos romances de Orwell, particularmente Burmese Days, é tirado de suas experiências pessoais, as obras a seguir são apresentadas como documentários narrativos, ao invés de fictícios.

Ensaios

George Orwell: Essays (Penguin Books), com introdução de Bernard Crick

  • "The Spike" (1931) — [10]
  • "A Nice Cup of Tea" (1946) — [11]
  • "A Hanging" (1931) — [12]
  • "Shooting an Elephant" (1936) — [13]
  • "Charles Dickens" (1939) — [14]
  • "Boys' Weeklies" (1940) — [15]
  • "Inside the Whale" (1940) — [16]
  • "The Lion and The Unicorn: Socialism and the English Genius" (1941) — [17]
  • "Wells, Hitler and the World State" (1941) — [18]
  • "The Art of Donald McGill" (1941) — [19]
  • "Looking Back on the Spanish War" (1943) — [20]
  • "W. B. Yeats" (1943) — [21]
  • "Benefit of Clergy: Some notes on Salvador Dali" (1944) — [22]
  • "Arthur Koestler" (1944) — [23]
  • "Notes on Nationalism" (1945) — [24]
  • "How the Poor Die" (1946) — [25]
  • "Politics vs. Literature: An Examination of Gulliver's Travels" (1946) — [26]
  • "Politics and the English Language" (1946) — [27]
  • "Second Thoughts on James Burnham" (1946) — [28]
  • "Decline of the English Murder" (1946) — [29]
  • "Some Thoughts on the Common Toad" (1946) — [30]
  • "A Good Word for the Vicar of Bray" (1946) — [31]
  • "In Defence of P. G. Wodehouse" (1946) — [32]
  • "Why I Write" (1946) — [33]
  • "The Prevention of Literature" (1946) — [34]
  • "Such, Such Were the Joys" (1946) — [35]
  • "Lear, Tolstoy and the Fool" (1947) — [36]
  • "Reflections on Gandhi" (1949) — [37]
  • "Bookshop Memories" (1936) — [38]
  • "The Moon Under Water" (1946) — [39]
  • "Rudyard Kipling" (1942) — [40]
  • "Raffles and Miss Blandish" (1944) — [41]

Poemas

  • "Romance"
  • "A Little Poem"
  • "Awake! Young Men of England"
  • "Kitchener"
  • "Our Minds are Married, But we are Too Young"
  • "The Pagan"
  • "The Lesser Evil"
  • "Poem from Burma"

Fonte: Poemas de George Orwell [4]

Referências

  1. George Orwell. The Orwell Reader.
  2. George Orwell. History Guide.
  3. . New York Times. domingo, 22 de janeiro de 1950.
  4. Charles' George Orwell Links, Essays & Journalism Section.

Ligações externas

Wikiquote
O Wikiquote tem uma coleção de citações de ou sobre: George Orwell.

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A REVOLUÇÃO DOS BICHOS - GEORGE ORWEL

“Lembro-vos também de que na luta contra o Homem não devemos ser como ele. Mesmo quando o tenhais derrotado, evitai-lhe os vícios. Animal nenhum deve morar em casas, nem dormir em camas, nem usar roupas, nem beber álcool, nem fumar, nem tocar em dinheiro, nem comerciar. Todos os hábitos do Homem são maus. E, principalmente, jamais um animal deverá tiranizar outros animais. Fortes ou fracos, espertos ou simplórios, somos todos irmãos. Todos os animais são iguais.”
George Orwell


O início de uma fábula contemporânea. O dono da Granja do Solar, Sr. Jones, embriagado com o poder, tranca o galinheiro e vai para a cama cambaleando.

Major, porco ancião e premiado, reúne todos os animais e conta seu sonho visionário de como será o mundo depois que o homem desaparecer. Declara em tom profético a necessidade dos bichos assumirem suas vidas, acabando com a tirania dos homens.

Os animais são contagiados pelos versos revolucionários e entoam apaixonadamente a canção "Bichos da Inglaterra". Sr. Jones acorda alarmado com a possível presença de uma raposa e, com uma carga de chumbo disparada na escuridão, encerra a cantoria.

Major falece três noites após. A morte emoldura o mito e suas palavras ganham destaque nas falas dos animais mais inteligentes da granja. Os bichos mais conservadores insistem no dever de lealdade ou no medo do incerto: “Seu Jones nos alimenta. Se ele for embora, morreríamos de fome”.

Os perfis dos animais são traçados: os porcos, as ovelhas, os cavalos, as vacas, as galinhas, o burro... Todos com traços marcantes de manipulação, alienação, rigidez, ignorância, dispersão, teimosia...

A rebelião ocorre mais cedo do que esperavam. Com a expulsão do Sr. Jones da granja, surge o momento de reorganizar o funcionamento da propriedade. Os porcos assumem a liderança, dirigem e supervisionam o trabalho dos outros. Os demais dão continuidade à colheita. Alguns bichos se destacam pela obstinação, como o cavalo Sansão, cujo lema é “Trabalharei mais ainda.”

Os sete mandamentos declarados por Major são escritos na parede:

“Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
O que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
Nenhum animal usará roupa.
Nenhum animal dormirá em cama.
Nenhum animal beberá álcool.
Nenhum animal matará outro animal.
Todos os animais são iguais.”

Bola-de-neve e Napoleão se destacam na elaboração das resoluções. Sempre com posições contrárias. Os demais animais aprenderam a votar, mas não conseguem formular propostas. A pluralidade de pensamentos dá margem aos debates e às escolhas.

Os sete mandamentos elaborados na revolução são condensados no lema “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”. A síntese do “animalismo” é repetida pelas ovelhas no pasto por horas a fio.

Sr. Jones tenta recuperar a propriedade, mas é vencido pelos bichos na “Batalha do Estábulo”. O porco Bola-de-neve e o cavalo Sansão são condecorados pela bravura demonstrada no conflito. Mimosa foge para uma propriedade vizinha seduzida pelos mimos oferecidos por um humano. Surge a idéia de construção de um moinho de vento... Os animais ficam divididos com a perspectiva do novo.

Bola-de-neve e Napoleão sobem ao palanque e montam suas campanhas políticas. A eloqüência de Bola-de-neve conquista os animais, mas a força dos cães de Napoleão expulsa Bola-de-neve da granja e “legitima” Napoleão no cargo de líder diante dos atemorizados bichos.

Os bichos trabalham como escravos na construção do moinho de vento e gradativamente vão perdendo a memória de como era a vida na época do Sr. Jones. Animais trabalhadores, como Sansão, acordam mais cedo, trabalham nas horas de folga e assumem as máximas elaboradas pelos donos do poder: “trabalharei mais ainda” e “Napoleão tem sempre razão”.

Como a maioria dos animais não aprendeu a ler, os mandamentos vão sendo alterados na medida em que Napoleão e seus assessores vãos assumindo posições contrárias aos princípios que nortearam a revolução: os porcos começam a comerciar a produção da granja, passam a residir na casa do Sr. Jones, dormem em camas, usam roupas, bebem uísque, relacionam-se com homens... A maioria dos animais é facilmente convencida dos seus “equívocos de interpretação”. Os poucos que conseguem ler e interpretar as adulterações do poder se omitem...

Alguns animais são executados sob a alegação de alta traição. Tudo o que ocorre de errado na granja é de “responsabilidade” de Bola-de-neve. Sua história é enterrada na lama de mentiras e manipulação imposta pelo novo regime. As reuniões de domingo são proibidas e a canção “Bichos da Inglaterra” é censurada. Os bichos trabalham mais e não são reconhecidos por seus esforços. Todas as condecorações são dadas ao líder.

Os animais passam privações. Suas rações são diminuídas em prol do bem comum. Os porcos são agraciados com os privilégios do poder. Uma segunda batalha com os humanos surpreende os animais enfraquecidos, mas, apesar das muitas perdas, eles vencem e permanecem sob a ditadura imposta por Napoleão. Infelizmente perderam os parâmetros para avaliação, perderam a memória da história antes do governo de Napoleão.

Os homens destroem o moinho de vento e os animais trabalham mais para reconstruí-lo. A dedicação do cavalo Sansão é assustadora, abdica da própria saúde em prol do ideal. Depois de alguns dias é vencido pela fragilidade da avançada idade e do pulmão debilitado... Os porcos simulam uma internação num grande hospital, mas entregam o velho cavalo ao matadouro. Os direitos do trabalhador e do aposentado se encerram na indiferença dos poderosos.

O burro Benjamim que aprendeu a ler, apesar de ter preferido o silêncio durante todo o período, tenta alertar os demais animais, mas é tarde... O porco Garganta convence os bichos de que a carroça que levou o cavalo foi comprada pelo grande veterinário, mas continuou com os letreiros do velho dono... Poucos dias depois, o anúncio da morte de Sansão chega à granja e os porcos recebem uma caixa de uísque...

Os animais escravizados ganham alento nas palavras do corvo Moisés que garante que, finda esta vida de sofrimentos, haverá a “Montanha de Açúcar – Cande”, “o lugar feliz onde nós, pobres animais, descansaremos para sempre desta nossa vida de trabalho”. As atitudes dos porcos com Moisés são ambíguas: afirmam, aos bichos, que a história de Moisés é uma grande mentira, porém ele permanece na granja sem trabalhar e ainda com direito a um copo de cerveja por dia. A religião arrebanha algumas “ovelhas”.

“Passaram-se anos. As estações vinham, passavam, e a curta vida dos bichos se consumia.” A nova geração só conhecia esta realidade, exceto Quitéria, Benjamim, o corvo Moisés e alguns porcos... A vida era muito difícil, mas existia a certeza de que todos os animais eram iguais... Não tardou para os bichos espantados presenciarem os porcos andando sobre duas patas com chicotes nas mãos.

Só restava um único mandamento e mesmo assim adulterado: “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros”. Depois disto nada mais se estranhava. Os porcos fumavam, bebiam e andavam vestidos – haviam se assenhorado dos hábitos do Sr. Jones. Uma noite, os porcos receberam os vizinhos humanos para uma reunião na casa. Os demais animais ficaram à espreita na janela da sala de estar.

Seguiram-se pronunciamentos, declarações de mútuo afeto e admiração por parte dos porcos e dos homens. Os vizinhos humanos parabenizaram os porcos pelos métodos modernos de ordem e disciplina impostos: "... os animais inferiores da Granja dos Bichos trabalhavam mais e recebiam menos comida do que quaisquer outros animais do condado."

Todos os alicerces da revolução estavam corrompidos nas palavras de Napoleão. Até mesmo a granja voltaria a ter o mesmo nome da época do Sr. Jones: “Granja do Solar”.

Os animais estupefatos se afastaram, mas não alcançaram vinte metros quando iniciou uma violenta discussão entre Napoleão e o vizinho humano motivada por uma jogada no carteado...

“As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.”

A metáfora da janela é fundamental para a abertura da percepção da realidade. Os ditadores podem estar revestidos em qualquer corpo se conservarem as máscaras capazes de adulterar a memória histórica dos governantes, tornando-os marionetes manipuladas com o medo e a omissão.

O que fazer com a última mensagem do livro, qual seja, a impossibilidade de distinguir quem era porco e quem era homem? Pensar que qualquer bicho fará o mesmo quando investido de poder ou refletir sobre as atitudes e omissões de quem legitima o poder com o trabalho diário e a aceitação do crescente empobrecimento?

“A revolução dos bichos” é um texto que, a princípio, parece visionário, mas, em poucos capítulos, identificamos os acontecimentos históricos na sátira elaborada pelo grande escritor. George Orwell conseguiu interpretar a realidade com lucidez e quis alardear suas percepções sobre os movimentos sociais, o poder e os indivíduos.

A revolução russa. Major (Lenin); Napoleão (Stalin); Bola-de-neve (Trotsky); as ovelhas, que repetem sem consciência os lemas; os cavalos com seus tapa-olhos que só conseguem olhar para o trabalho; as galinhas que se perdem na dispersão; o burro empacado em suas verdades; os cães fiéis à guarda de seus donos... Todos personagens históricos, escravos da própria revolução, prisioneiros dos sonhos depauperados...

Como alterar a história? Tornar-se sujeito ativo de transformação? Reescrever os velhos mandamentos e ensaiar uma precipitada revolução ou elaborar uma nova análise das conjunturas a fim de reavaliar nossos princípios?

A revolução dos bichos se repete na história. Novos personagens assumem os papéis dos protagonistas e o enredo continua... Alguns preferem a silenciosa leitura dos fatos, outros desejam escrever novos capítulos...

É, caro leitor, precisamos de engajamento, de comprometimento com os mandamentos que norteiam nossas ações e de coragem para espreitar a realidade com olhos de transformação sem apagar a memória de nossas conquistas históricas.

George Orwell, escritor, jornalista e militante político, participou da Guerra Civil Espanhola na milícia marxista/trotskista e foi perseguido junto aos anarquistas e outros comunistas pelos stalinistas. Desencantado com o governo de Stalin, escreveu “A Revolução dos Bichos” em 1944. Nenhum editor aceitou publicar a sátira política, pois, na época, Stalin era aliado da Inglaterra e dos Estados Unidos. Só após o término da guerra, em 1945, é que o livro foi publicado e se tornou um sucesso editorial.

Helena Sut
Publicado no Recanto das Letras em 25/01/2005
Código do texto: T2369


Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br


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