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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Triste realidade - Corrida do ouro acontece nos esgotos de Bagdá

Homens desempregados passam os dias vasculhando o sistema de esgoto da cidade em busca da única coisa que pode lhes render dinheiro: flocos de ouro

The New York Times
Ouro
Pedaços de ouro são todos os dias descartados pela tubulação de joalheiros ao limparem seus ateliês

Bem abaixo das fábricas do distrito de joalherias precário e restrito de Bagdá, homens desempregados passam os dias vasculhando o sistema de esgoto da cidade em busca da única coisa que pode lhes render dinheiro: flocos de ouro. Várias vezes por mês, homens desesperados por renda mergulham até 6 metros na escuridão do esgoto em busca de pedaços de ouro descartados pela tubulação por artesãos ao limparem seus ateliês após um dia inteiro entalhando e moldando joias. 
Com uma lanterna na mão e uma máscara para ajudar a suportar o mau cheiro, eles passam horas vasculhando a espessa sujeira com as mãos desprotegidas. Em um dia bom, os homens dizem que coletam o suficiente para ganhar cerca de 20 dólares de um fundidor, que revende blocos reconstituídos de ouro para os mesmos joalheiros cujas tubulações alimentam os esgotos. 
“Como esse é um trabalho nojento e sujo, não conto à minha família o que faço porque é vergonhoso”, diz Ali Mohammad Freji, 30 anos. Freji está entre um grupo de cerca de uma dúzia de homens que procuram ouro diariamente. O empenho deles ilustra os problemas graves que ainda existem na economia do Iraque oito anos depois da invasão dos Estados Unidos. Apesar dos bilhões de dólares gastos pelos EUA e outros países para tentar reconstruir a infraestrutura do país e fortalecer sua economia, ainda há pouco emprego, com 40% de sua força de trabalho desempregada ou trabalhando meio-período.
Mas o distrito de joalherias é o único lugar onde a riqueza jorra, literalmente, das lojas para os esgotos. “Dou graças a Deus por tudo que temos. É tão pouco que ninguém se importa, mas significa muito para mim”, diz Abbas Abdul-Razzaq, 30 anos, que vasculha os esgotos em busca de ouro.
As buscas - Os homens vasculham cerca de oito pontos de esgoto por mês. Quando não estão no subsolo, eles varrem as ruas do distrito em busca de pó de ouro criado no processo de fabricação de joias. Os homens acumulam pontas de cigarro, embrulhos de alimentos e sujeira de dentro e fora das lojas.
Depois, ao lado de um barco enferrujado às margens do rio Tigre, eles usam água para limpar o lixo até suas tigelas ficarem cheias de pó de ouro e pequenos pedaços de metais preciosos. “Os proprietários de lojas de ouro trabalham com o ouro e depois limpam e lavam suas mãos. Os pequenos pedaços descartados pelas tubulações chegam aqui”, diz Freji. “O ouro é coletado nos esgotos, mas o pó é levado com a água para o rio”.
Embora o preço do ouro tenha subido significativamente nos últimos anos, os homens daqui dizem que estão ganhando menos por causa das reverberações da guerra e dos avanços tecnológicos da fabricação de joias.
Dificuldades - Depois que os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003 e os anos da guerra sectária se passaram, muitos joalheiros da cidade fugiram, gerando escassez na produção de peças. Com poucos impostos sobre importações, joias mais baratas e de melhor qualidade vindas dos Emirados Árabes e da Turquia inundaram o Iraque, tornando difícil para os joalheiros remanescentes competirem com as importações.
“Antes, éramos considerados sortudos porque havia muitas fábricas por aqui”, diz Freji. “A política do governo de não ter imposto é ruim porque não há mais tantas lojas de ouro”. Agora, as únicas fábricas que restaram fazem solicitações especiais, como gravações. “Vendo joias importadas somente porque as pessoas preferem comprá-las, pois têm os melhores designs”, diz Mohammad Hashim, 46 anos, proprietário de uma loja. “Há catálogos para as joias importadas e anúncios na televisão para as empresas que as produzem”. Os ourives remanescentes usam maquinários mais eficientes e menos fragmentos estão sendo descartados para os esgotos.
“Sempre que há uma nova tecnologia para a fabricação de joias, somos prejudicados porque as ferramentas modernas não criam muito pó”, diz Freji, que afirma que está tentando obter um emprego no governo desde 2008. Ele disse que até já pagou propina para um oficial do governo anos atrás na esperança de se tornar policial, mas nada aconteceu.
Um trabalho sujo - O trabalho de vasculhar o esgoto é sujo, cheira mal e obviamente é odiado pelos homens. As mãos e os pés deles ficam irritados por passar tanto tempo na água, e suas pernas doem de tanto ficarem agachados às margens do rio para peneirar suas coletas. No inverno, eles tremem por causa da água gelada.
"Eu queria encontrar outro trabalho. Aceitaria qualquer emprego, qualquer um. Só quero um emprego permanente”, diz Abdul-Razzaq. “Talvez quando ficarmos mais velhos, isso afetará nossa saúde", completa.
Ibrahim Youssef, 25 anos, diz que ficou com inveja quando viu anúncios de ouro na televisão. “Na França e na Alemanha, há grandes fábricas de ouro e penso em quanto dinheiro poderia ganhar lá apenas fazendo essa limpeza”, diz Youssef. "Essas pessoas não são inteligentes porque não vasculham o lixo e os detritos. Ninguém se importa com os detritos que produz. Ouço ainda relatos no Brasil de pessoas que vão a minas de ouro natural, pegam apenas as peças grandes e descartam as pequenas. Fico triste porque estamos procurando as pequenas peças. Poderíamos ganhar muito dinheiro lá”, completa. 

Fonte: VEJA

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