SEMPRE OS MESMOS ARGUMENTOS FURADOS: A TRADIÇÃO E A HISTÓRIA
O surgimento das religiões cristãs, assim como do Islamismo, resultou de fraturas na tradicional religião judaica.
Não se valorizou nem a tradição nem a história, naquela época. Só para exemplificar, a Igreja Católica não preservou a tradição da circuncisão, como ritual de iniciação, adotando o denominado batismo. Os sacrifícios de animais foram substituídos por outros ritos. Enfim, muito do que se considerava tradição, cultura e história do judaísmo foi abandonado.
Os costumes de usar sotainas (batinas) e de rezar as missas em latim, durante largo tempo, foram considerados intocáveis, mas a hierarquia da ICAR acabou por modificar tais regras (cânones), circunstância que evidencia que a tradição, a história, os costumes, a cultura, enfim, podem ser modificados, sim.
Os costumes de usar sotainas (batinas) e de rezar as missas em latim, durante largo tempo, foram considerados intocáveis, mas a hierarquia da ICAR acabou por modificar tais regras (cânones), circunstância que evidencia que a tradição, a história, os costumes, a cultura, enfim, podem ser modificados, sim.
Então, para ser coerente, a Igreja Católica jamais deveria invocar tais pretextos em defesa dos seus interesses, não é mesmo?
Aqui em Florianópolis/SC, no afã de justificar o repasse de dinheiro público para o restauro de templos, para a Procissão do Senhor dos Passos também se invoca a tradição, a cultura, a história. Balela pura, de que se vale o culto para praticar indisfarçáveis fruades e desvios de recursos públicos, no que é auxiliada por incontáveis políticos safados, interessados nos votos dos fiéis da religião católica.
Ou "Dom" Odilo é hipócrita ou anda delirando. Fico com a primeira hipotese, que me parece mais plausível.
Razão tem o Sottomaior, sempre brilhante e sincero.
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Dom Odilo defendeu a tradição da exposição do crucifixo |
“Houve constrangimento”, disse. “Criou-se um problema que não havia.”
Ao participar ontem (26) à noite do programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, dom Sherer reconheceu que a Igreja não pode “pretender exigir” a presença de seus símbolos nos tribunais.
“O Estado é laico”, afirmou. Mas ainda assim defendeu a permanência dos símbolos católicos no espaço público porque eles fazem parte da tradição e da história do país.
Ao responder uma pergunta sobre o desconforto que alguém que não seja católico, como judeu e ateu, possa ter ao ser julgado diante de um crucifixo, Sherer disse que o símbolo não interfere nas decisões dos juízes, que se baseiam nas leis.
O arcebispo reafirmou, durante a entrevista, a posição da Igreja sobre temas como aborto, casamento de homossexuais e uso de contraceptivos.
Ele reconheceu que a Igreja Católica tem perdido fiéis para as denominações evangélicas. E isso, segundo ele, se deve a vários motivos, que vão desde aos problemas internos, como a falta de sacerdotes, aos “métodos de arrebanhamento de fiéis por alguns grupos religiosos”, que prometem milagres e “solução para todos os problemas da vida”.
Afirmou que isso a Igreja Católica nunca fará.
Leia mais em http://www.paulopes.com.br/#ixzz1qKEuudzh
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Exposição do crucifixo em público: tradição não significa eternidade
Título original:
Crucifixos devem sair das repartições públicas
por Daniel Sottomaior para Sul21
Escravidão foi uma tradição que teve fim |
Tem sido argumento recorrente dos defensores de crucifixos em repartições públicas a alegação de que eles constituem tradição centenária ligada ao cristianismo que sempre permeou a cultura brasileira. Afinal de contas, se é tradição, é bom e verdadeiro.
Manter a tradição é um princípio que atua sempre em favor do bem comum e que, por isso, deve ser observado incondicionalmente pelos legisladores e pelos operadores do direito.
A escravidão, por exemplo, é uma tradição que remonta não só aos primeiros dias da colonização no Brasil, mas vai muito além, e está bem fundamentada nos textos sagrados das três religiões abraâmicas. Deus, em sua infinita sabedora, dá instruções muito específicas sobre como tomar, tratar e vender escravos.
Jesus fez parábolas com escravos, jamais se incomodando com seu status, e Paulo disse com todas as letras que eles deveriam obedecer aos seus senhores.
Essa é a tradição em que foi fundada nossa civilização, desde muito antes do Império Romano. Ora, este país foi construído sobre o trabalho escravo. E mais: a escravidão é plenamente legitimada por diversas bulas papais. Sua Santidade, Paulo VI, dirigiu ao rei de Portugal a bula Dum Diversas, em que afirmou:
“Nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades… e reduzir suas pessoas à perpétua escravidão”
Esta é nossa tradição. Por que deveríamos negá-la, se está sustentada pela Bíblia e reafirmada pelas palavras de mais de um Santo Padre?
Depois da abolição da escravatura, as coisas só pioraram. Ao menos naquela época, a Constituição ainda instituía que o governo deve ser monárquico e que a religião oficial era a Católica Apostólica Romana. O Brasil andou muito bem nos quatro séculos de um Estado legitimado pelo direito divino, uma tradição antiqüíssima que só bem trouxe às gentes, mas ela foi subitamente encerrada com a instituição da República, cujo poder se imaginava emanar do povo, e não de Deus.
Como consequência, a República instituiu o voto universal e – imaginem só – a liberdade religiosa plena. Como pudemos virar as costas para a nossa tradição dessa maneira? Nunca o país teve liberdade religiosa, e nossa origem portuguesa também lhe é contrária. Só uma constituição que não foi proclamada com a proteção divina em seu preâmbulo poderia conter tamanho absurdo.
Depois da abolição da escravatura, da instituição da República e da democracia, da liberdade de divórcio civil, do uso legal de contraceptivos, da igualdade da mulher e tantas outras heresias instaladas em nome de direitos fundamentais, agora vêm de novo esses mesmos iconoclastas nos impor o fim de mais uma tradição fulcral à cultura brasileira.
Retirar os crucifixos das repartições públicas é uma clara perseguição aos cristãos em seu inalienável direito histórico de converter todos os demais à única e verdadeira religião. Ou será que também irão nos dizer que uma mera Constituição, que nem trinta anos tem, deve prevalecer sobre tradições milenares?
Nesse ritmo de negação do passado e de nossas mais profundas raízes, é de se temer que algum dia poderemos chegar à igualdade plena entre os cidadãos de todas as fés, e até mesmo os descrentes. Que Deus nos livre disso.
Daniel Sottomaior é presidente da Atea (Associação Brasileira da Ateus e Agnósticos).
A escravidão, por exemplo, é uma tradição que remonta não só aos primeiros dias da colonização no Brasil, mas vai muito além, e está bem fundamentada nos textos sagrados das três religiões abraâmicas. Deus, em sua infinita sabedora, dá instruções muito específicas sobre como tomar, tratar e vender escravos.
Jesus fez parábolas com escravos, jamais se incomodando com seu status, e Paulo disse com todas as letras que eles deveriam obedecer aos seus senhores.
Essa é a tradição em que foi fundada nossa civilização, desde muito antes do Império Romano. Ora, este país foi construído sobre o trabalho escravo. E mais: a escravidão é plenamente legitimada por diversas bulas papais. Sua Santidade, Paulo VI, dirigiu ao rei de Portugal a bula Dum Diversas, em que afirmou:
“Nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades… e reduzir suas pessoas à perpétua escravidão”
Esta é nossa tradição. Por que deveríamos negá-la, se está sustentada pela Bíblia e reafirmada pelas palavras de mais de um Santo Padre?
Depois da abolição da escravatura, as coisas só pioraram. Ao menos naquela época, a Constituição ainda instituía que o governo deve ser monárquico e que a religião oficial era a Católica Apostólica Romana. O Brasil andou muito bem nos quatro séculos de um Estado legitimado pelo direito divino, uma tradição antiqüíssima que só bem trouxe às gentes, mas ela foi subitamente encerrada com a instituição da República, cujo poder se imaginava emanar do povo, e não de Deus.
Como consequência, a República instituiu o voto universal e – imaginem só – a liberdade religiosa plena. Como pudemos virar as costas para a nossa tradição dessa maneira? Nunca o país teve liberdade religiosa, e nossa origem portuguesa também lhe é contrária. Só uma constituição que não foi proclamada com a proteção divina em seu preâmbulo poderia conter tamanho absurdo.
Depois da abolição da escravatura, da instituição da República e da democracia, da liberdade de divórcio civil, do uso legal de contraceptivos, da igualdade da mulher e tantas outras heresias instaladas em nome de direitos fundamentais, agora vêm de novo esses mesmos iconoclastas nos impor o fim de mais uma tradição fulcral à cultura brasileira.
Retirar os crucifixos das repartições públicas é uma clara perseguição aos cristãos em seu inalienável direito histórico de converter todos os demais à única e verdadeira religião. Ou será que também irão nos dizer que uma mera Constituição, que nem trinta anos tem, deve prevalecer sobre tradições milenares?
Nesse ritmo de negação do passado e de nossas mais profundas raízes, é de se temer que algum dia poderemos chegar à igualdade plena entre os cidadãos de todas as fés, e até mesmo os descrentes. Que Deus nos livre disso.
Daniel Sottomaior é presidente da Atea (Associação Brasileira da Ateus e Agnósticos).
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