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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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segunda-feira, 26 de março de 2012

Você sabe quem ganha com a Procissão do Senhor dos Passos?

Quanto ao culto dos santos e das imagens e relíquias, e outras coisas hoje em dia praticadas na Igreja de Roma, digo que não são permitidas pela palavra de Deus, nem trazidas para a Igreja de Roma a partir da doutrina ali ensinada, mas em parte nela deixada pela primeira conversão dos pagãos e depois favorecida, confirmada e aumentada pelos bispos de Roma. - THOMAS HOBBES - Leviatã

No ano passado, movi uma ação popular, que está em andamento, questionando o emprego de dinheiro público (Estado de SC/SEITEC e Prefeitura Municipal de Florianópolis) em favor da Fundação do Senhor dos Passos e da Mitra Metropolitana de Florianópolis, a representante dos interesses da ICAR em nossa região.
Os documentos que vieram os autos, requisitados pela Vara de Fazenda Pública, ao meu pedido, revelam que os grandes favorecidos pelo dinheiro que sai, em todos os anos, dos cofres públicos, é a mídia, notadamente as emissoras de TV e RÁDIO, como  sempre.
Como o evento é do culto católico, é lógico que tais recursos não vão parar nas mãos de emissoras evangélicas, sejam das que pertencem à IURD, sejam das que são da Assembléia de Deus, só para exemplificar.
Na última edição, que ocorreu neste final de semana, a Procissão contou com a cobertura sensacionalista do grupo   RBS, que durante a última semana intensificou a divulgação do evento como sendo de suposto interesse cultural e histórico, informando que aquele "patrimônio imaterial" está com pedido de tombamento encaminhado a nível nacional, também. Quanto maior for a importância dada a tais pantomimas, mais a mídia poderá cobrar para divulgar o evento no futuro.
E depois vem a Globo falar em corrupção e superfaturamento em outros setores. Que tal se o Ministério Público se dispusesse a levantar o superfaturamento na área de publicidade governamental?
Que tal se fosse exigida licitação (séria) na área de restauração de templos com dinheiro público?
Só na Catedral de Florianópolis e na Igreja de Sâo Francisco do Sul (dois templos inexpressivos, se comparados com grandes igrejas do mundo inteiro) diz-se que foram gastos nada menos que R$ 28.000.000,00 (vinte e oito milhões de reais), sendo notório que as restaurações foram pouco mais que maquiagens.
Detalhe: aqui na região de SC, a ganhadora dos contratos é sempre uma tal de CONCREJATO, advinhem de que Estado: do RJ, é claro!
No caso da Igreja de São Fancisco do Sul, até Termos Aditivos de Convênios sem identificação dos ordenadores primários que assinaram como representantes  do Ministério da Cultura se vê nos autos da ação popular que também estou movendo. Naquele templo, a exemplo do que ocorreu com a Catedral de Florianópolis, a maracutaia envolve adminsitradores federais, estaduais e dos Municípios. Até o cantor e compositor Gilberto Gil, enquanto ministro da Cultura, participou  dos atos que considero fraudulentos.
Sobre dinheiro para as fraudes acima noticiadas e falta para o salário dos professores estaduais e muitos outros profissionais de verdadeiro interesse para a coletividade. Como dizia o personagem do Chico Anísio, " o salário, oh!!!"
SE OS PODERES CONSTITUÍDOS,   desprendendo-se do cordão umbilical da Icar, QUISEREM EFETIVAMENTE MEXER NO VESPEIRO DAS LAMBANÇAS DE DINHEIRO PÚBLICO REPASSADO PARA SUPOSTOS RESTAUROS DO PATRIMÔNIO PRIVADO E REPARTIDO COM POLÍTICOS, PASSEM A INVESTIGAR, ALÉM DOS PATROCÍNIOS DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA (FEDERAL, ESTADUAIS E MUNICIPAIS) OS CONVÊNIOS/CONTRATOS FIRMADOS COM O BNDES, por exemplo. Lá, a sujeira parece grossa e está a merecer uma devassa pra valer.
Ah! Não esqueçam de esgravatar nas contas do Ministério do Turismo, que fedem tanto quanto as do Ministério da Cultura e devem ter muita podridão por debaixo dos Convênios e outros negócios jurídicos envolvendo templos católicos. Vi indícios de tal podridão nos documentos e informações referentes à ação popular da Catedral de Florianópolis.  

Para arrematar: a cada Procissão, sob o pálio, desfilam os politicos e, num ano eleitoral como o que estamos vivendo, o interesse em parecer simpático aos fiéis de um culto se avulta. Os políticos - os mesmos que liberam recursos para custear a propaganda do evento pela mídia - colocam-se como reles servos da ICAR sob o pálio, na companhia do Arcebispo, fazendo-me  lembrar da frase de THOMAS HOBBES (in Leviatã): A servidão, que vem da necessidade ou do medo, é desonrosa. Ora: todo político tem necesidade de votos e de contar com a simpatia dos fiéis de todos os cultos, mormente do culto dominante e teme colocar-se em posição de enfrentamento, se negar os recursos que são postulados pelos representantes de tais cultos. 
Basta se ver os achegos que a Presidente Dilma, em nome da governabilidade, tem feito com os evangélicos e que o Lula fez com a ICAR, no  famigerado Tratado Internacional ("concordata") firmado com o Vaticano.
Aquele que teme e/ou tem necessidade de mostrar-se servil, quando administrador público, acaba por cometer atos ilícitos (mesmo sabendo de eventuais represálias judiciais), em prejuízo do interesse coletivo universal, como ocorre com os políticos catarinenses que apóiam e custeiam a Procissão sob comento e outros eventos religiosos, como é o caso, também, do Encontro anual dos Gideões, que ocorre em Camboriu, sob os auspícios do Município e também do governo do Estado e das denominadas Marchas para Jesus, em todo o Brasil.
Assim, os cidadãos que apóiam tais medidas de favorecimento aos mais diversos cultos, enquanto os serviços essenciais penam por falta de dinheiro, não podem reclamar da alta carga tributária, nem da precariedade dos serviços públicos essencias ao universo de cidadãos.
Claro que a "plebe ignara", que constitui a massa dos que acompanham a Procissão, não tem entendimento de tais circunstâncias, mas os políticos safados, que fazem questão de se fazer presentes no evento, entendem muito bem o que escrevi acima. 

A respeito de administrações reféns de cultos religiosos, leia a entrevista abaixo.

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Um governo refém de autoridades religiosas. Entrevista especial com Pedro Ribeiro de Oliveira

O governo Dilma está enredado por chantagens de autoridades religiosas, e “dança conforme a música”, constata o sociólogo.

“Não é de teses que o governo tornou-se refém, mas sim de autoridades religiosas que buscam imobilizá-lo por meio de chantagens. Em vez de resistir, o governo deixou-se enredar. Ora, contra a chantagem só há uma saída: resistir ao chantagista trazendo-o para a luz do dia, isto é, obrigando-o ao debate público sobre suas propostas”. E questiona: “Se a maioria da população rejeita a política e aceita a religião, por que o governo seria diferente?” Em seu ponto de vista, Dilma Rousseff possui como meta a integração total do Brasil com o sistema capitalista mundial. “Quem paga o custo desse crescimento é o sistema de vida do Planeta – mas ele não tem voz para protestar”. Exceto oportunidades bastante raras, não existe mais um debate das políticas do governo e do Estado. “A política foi reduzida à disputa por cargos no governo e ao processo eleitoral”, sentencia, na entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.



Pedro Ribeiro de Oliveira é doutor em Sociologia pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica. Atualmente é professor do PPG em Ciências da Religião da PUC-Minas. Dentre suas obras, destacamos Fé e Política: fundamentos (Aparecida: Ideias & Letras, 2004) e Religião e dominação de classe (Petrópolis: Vozes, 1985).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – A partir da conjuntura política nacional atual, como o senhor percebe a autonomia do Estado em relação à religião?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Vamos começar pela apreciação do rumo político dos governos Lula e Dilma, porque isso ajuda a esclarecer a relevância que a religião adquiriu no cenário político brasileiro. Tal como Lula, Dilma tem como meta a plena integração do Brasil no sistema capitalista mundial, não mais pelo alinhamento aos interesses dos EUA – como foi até Fernando Henrique Cardoso – e sim pela abertura à China e aos países do “grande Sul”. Numa conjuntura econômica favorável, essa política resultou no crescimento do PIB e na distribuição da renda (não da riqueza!). Assim, o atual governo pode satisfazer praticamente todas as classes sociais: trabalhadores, aposentados e pensionistas galgam um patamar mais elevado de consumo, banqueiros têm lucros nunca vistos, empresários do agronegócio e da mineração são favorecidos, servidores públicos recuperam o poder aquisitivo. Enfim, praticamente todos têm a sensação de serem beneficiados pela atual política macroeconômica. Quem paga o custo desse crescimento é o sistema de vida do Planeta – mas ele não tem voz para protestar.
Diante desse amplo apoio na sociedade, só quebrado pelas manifestações contrárias de quem se preocupa com a vida do Planeta, o governo Dilma aprofundou o processo de despolitização iniciado por Lula. Salvo raros momentos, não se debatem mais as políticas do governo e do Estado. A política foi reduzida à disputa por cargos no governo e ao processo eleitoral. Esse é pano de fundo para minhas respostas à entrevista.

IHU On-Line – De forma geral, qual a importância da religião no cenário político nacional atual? Como a presidente Dilma está lidando com este aspecto?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Quando os partidos políticos abdicam de sua função própria de criticar e de apresentar propostas de políticas públicas e se contentam em disputar cargos e benesses, outras entidades passam a ocupar aquela função. É o caso das igrejas que, no vazio deixado pelos partidos, ganham força política. E a presidente Dilma está mostrando ter pouca habilidade para lidar com Igrejas que fazem política, especialmente se fazem uma política mesquinha. Talvez isso se deva a seu passado militante em autênticos partidos políticos, somado à pouca participação em alguma igreja. Dificilmente caberia em sua teoria esta realidade de igrejas em disputa por benesses políticas.

IHU On-Line – Como percebe que uma linguagem com fundo religioso sobe cada vez mais ao palco de um Estado que se quer laico? Não vê uma contradição aqui?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Não é bem uma contradição, mas uma concessão ao ambiente sociocultural brasileiro: o governo dança conforme a música. Se a maioria da população rejeita a política e aceita a religião, por que o governo seria diferente? Ele deixa nos bastidores sua meta política de plena inserção no sistema capitalista mundial e traz para o palco midiático as propostas ao gosto das massas, sejam elas de fundo religioso ou tratem de futebol, segurança, habitação, ensino e outras.

IHU On-Line – O governo Dilma estaria sendo refém de teses conservadoras capitaneadas por setores das igrejas pentecostais, neopentecostais e católica? Religião interferindo demais na política não força um conservadorismo perigoso?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Não é de teses que o governo tornou-se refém, mas sim de autoridades religiosas que buscam imobilizá-lo por meio de chantagens. Em vez de resistir, o governo deixou-se enredar. Ora, contra a chantagem só há uma saída: resistir ao chantagista trazendo-o para a luz do dia, isto é, obrigando-o ao debate público sobre suas propostas. Se o governo abrisse um amplo debate com a sociedade – penso no Parlamento, nos Conselhos de Cidadania, em universidades e em parcerias com ONGs – e lhes desse divulgação midiática, constataria que não há tanto consenso nas igrejas como elas deixam transparecer. Refiro-me aqui a oposição das igrejas (ou, mais precisamente, de algumas igrejas) à descriminalização do aborto e da eutanásia, à distribuição de preservativos, à educação sexual nas escolas, ao combate à homofobia, e sua insistência no ensino confessional nas escolas públicas. Na ausência de um debate, contudo, a posição da autoridade eclesiástica – pastores, padres e bispos – emerge como a única.

IHU On-Line – Como o senhor analisa a nomeação do senador Marcello Crivella (PRB-RJ) para o Ministério da Pesca?

Pedro Ribeiro de OliveiraCrivella sempre defendeu no Senado os interesses corporativos de igrejas neopentecostais, como a regulamentação da profissão de teólogo. Alçado agora à posição de ministro, ele terá acesso mais direto à presidente para fazer suas reivindicações e assim atender a suas bases. Mas é preciso ter presente que seu ministério não é sem importância, porque a pesca é um dos principais fatores de extinção de espécies aquáticas e falta uma política pública bem equacionada para o setor. Se ele tiver um comportamento realmente republicano e olhar em primeiro lugar os interesses nacionais e do sistema de vida do Planeta, poderá trazer uma grande contribuição, mas muito me surpreenderia se isso acontecer.

IHU On-Line – Como o senhor interpreta a posição da presidente Dilma em recuar e suspender a distribuição do kit anti-homofobia nas escolas? O que esse gesto sinaliza sob a condução da questão da homossexualidade no governo?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Há no caso uma questão eleitoral: a candidatura de Fernando Haddad em São Paulo, que não pode desperdiçar nenhum voto sob pena de perder a eleição. Nessa caça aos votos dos evangélicos a concorrência é feroz, e, sendo em geral um eleitorado pouco politizado, a argumentação política tem menos força do que uma argumentação religiosa ou moralista. Lamento ver o governo Dilma abrir mão de propostas políticas inovadoras por medo de perder uma eleição municipal.

IHU On-Line – O senhor percebe um enfraquecimento da influência dos setores progressistas da Igreja Católica no governo? Os fundamentos da Teologia da Libertação se perderam no governo Dilma?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Não há enfraquecimento porque o único momento em que eles tiveram alguma influência na presidência da República foi nos dois primeiros anos do governo Lula. Na medida em que o PT conduzido por Lula se transformou em partido do governo e consolidou sua aliança com o PMDB e outros grupos para eleger Dilma, foi-se acabando o espaço para um projeto de libertação. É só lembrar o abandono da reforma agrária e dos Direitos dos Povos Indígenas, o desrespeito à ecologia e à biodiversidade, o assistencialismo das políticas sociais e a despolitização geral. Hoje, a ideia-força da libertação está fora do governo – e também da igreja. Seu espaço é apenas a sociedade, e, ainda assim, somente ali onde o povo se organiza com autonomia.

Fonte: http://noticias.gospelprime.com.br

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