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terça-feira, 13 de julho de 2010

Caça aos nazistas continua ... - Crimes imprescritíveis

13/07/2010 07h24 - Atualizado em 13/07/2010 07h45

'Caçador' corre contra o tempo para garantir punição a nazistas

Efraim Zuroff diz que é possível que haja criminosos nazistas no Brasil.
Veja a lista do Centro Wiesenthal com os dez mais procurados.

Giovana Sanchez Do G1, em São Paulo


"Sabe no futebol quando você está naquela pressão dos minutos de acréscimo? É assim que me sinto", disse ao G1 Efraim Zuroff, o maior caçador de nazistas do mundo, com uma risada desesperada ao telefone. Ele se referia ao pouco tempo que tem para colocar no banco dos réus alguns nazistas suspeitos - e até já condenados - por atos criminosos durante a Segunda Guerra Mundial. Na semana passada, Adolf Storms, um dos homens mais procurados por Zuroff, morreu na Alemanha, aos 90 anos. "Infelizmente, muito infelizmente, ele morreu sem ser julgado", disse o historiador

O norte-americano Zuroff não teve pais ou avós que sofreram no Holocausto, mas o assunto chamou sua atenção quando ainda era estudante universitário. "Comecei a pesquisar na época da Guerra do Vietnã. Ninguém falava sobre isso nos EUA." Hoje, ele comanda o projeto "Operação Última Chance", do Centro Wiesenthal, que objetiva encontrar os últimos criminosos e pressionar as autoridades dos países a exigir sua extradição e processá-los. Zuroff acabou de publicar sua história em livro: Operation Last Chance; one man's quest to bring nazi criminals to justice, inédito no Brasil.

Leia a entrevista de Efraim Zuroff ao G1:

O historiador e caçador de nazistas Efraim ZuroffO historiador e caçador de nazistas Efraim Zuroff (Foto: Arquivo Pessoal)

G1 - Adolf Storms morreu há pouco tempo. Ele estava em quarto na lista de procurados, certo? O senhor poderia falar um pouco sobre ele?
Efraim Zuroff -
Ele estava na lista nova. Todos os anos em abril ou começo de maio nós divulgamos uma nova lista, que está em nosso site. Ele estava em quarto lugar na lista. Em primeiro lugar, nós não merecemos crédito por esse caso. Ele foi encontrado quase por acidente por estudantes austríacos que estavam pesquisando o tema. Eles começaram a procurar as pessoas envolvidas e conseguiram encontrar Adolf Storms. Essa informação foi enviada a procuradores que o indiciaram. Ele seria colocado em julgamento, mas morreu antes. Infelizmente, para nós.

G1 - Qual a última pessoa que o projeto conseguiu rastrear e colocar em julgamento?
Zuroff -
Neste momento, por exemplo, Ivan Demjanjuk está sendo julgado. Nós não o levamos a julgamento, mas tentamos influenciar o governo alemão a o colocar em julgamento. Então nós não fazemos todo o trabalho, fizemos pouco, mas é um exemplo de que são esforços que têm que ser tomados de maneira conjunta para isso acontecer.

G1 - E quais os maiores desafios para se colocar um suposto criminoso nazista no banco dos réus?
Zuroff -
Acredite ou não, o maior desafio é fazer com que os países que precisam julgá-los de fato o façam. Kepiro [Sandor Kepiro] é um exemplo clássico. Nós o achamos. Na verdade, ele já havia sido julgado na Hungria em 1944, pelo crime que nós descobrimos, e foi condenado. Mas porque a Hungria foi ocupada pelos nazistas, ele não foi punido. Foi culpado de um massacre na cidade de Novi Sad, na Sérvia, junto com outros agentes. Por causa da invasão nazista, ele teve sua pena suspensa, e as pessoas que foram punidas com ele acabaram promovidas e voltaram à ativa.

E no fim, Kepiro acabou fugindo. Nós só o descobrimos há quatro anos em Budapeste. Eu entrei em contato com o governo húngaro, achei o veredicto original de sua condenação; e ele não negou que estava em Novi Sad naquele dia. Ele simplesmente diz que não matou ninguém, que não apertou o gatilho. Mas claro que há vários tipos de criminosos, nem todos apertam o gatilho. Alguns fazem outras coisas para ajudar a matar pessoas.

G1 - E ele não foi julgado de novo?
Zuroff -
Não há uma decisão. O governo diz que está investigado. Mas isso já dura quatro anos. Esse é o problema. Sabe o quê? Você poderia me fazer um favor: ligar na embaixada da Hungria no Brasil e perguntar o motivo de Sandor Kepiro ainda não ter sido colocado em julgamento. [risos]

Sandor Kepiro ouve rádio em seu flat em Budapest, aos 94 anos, em foto de 2009Sandor Kepiro ouve rádio em seu flat em Budapest, aos 94 anos, em foto de 2009 (Foto: Attila Kisbendek/AFP)

G1 - Por que o senhor acha que não há vontade política por parte dos países para caçar nazistas?
Zuroff -
Te direi o porquê. O jeito mais fácil de explicar é comparar um criminoso nazista com um serial killer. Se existe um matador em série, vamos dizer, em São Paulo, a polícia fará o possível para deter essa pessoa, pois existe a pressuposição de que aquela pessoa vai cometer assassinato de novo! Certo?

Mas com os criminosos nazistas não há perigo de que eles cometam crimes de novo. Então eles não são perigosos nesse sentido. Então tudo o que se precisa fazer é ignorá-los e eles morrerão. Isso poupa o país de um grande constrangimento e poupa dinheiro.

Acho que uma das coisas mais importantes que ajuda a explicar porque o Holocausto aconteceu é que 99% das pessoas que cometeram crimes eram gente absolutamente normal. E são pessoas que, em circunstâncias normais, que não as criadas pelos alemães nazistas, nunca cometeriam assassinato. essa é a coisa mais terrível do Holocausto. Pessoas normais cometendo crimes achando que era uma coisa normal.

As pessoas olham essas pessoas hoje e dizem: 'deve ser um ótimo avô, indefeso'. E na essência eles são inofensivos, pois não vão cometer assassinatos de novo, mas eles cometeram no passado. Não há motivos para ignorar isso só porque ele não matará de novo.

G1 - E eles estão ficando velhos, estão morrendo.
Zuroff -
Claro que estão morrendo! Sem dúvida, o tempo corre contra mim.

G1 - O senhor acredita que haja algum criminoso nazista vivendo no Brasil hoje?
Zuroff -
Não temos nenhum caso em que estamos trabalhando no momento no Brasil. Mas, se você me perguntar se é possível que haja criminosos nazistas no Brasil, eu direi que definitivamente sim, é possível.

G1 - O senhor poderia contar como e por que começou sua busca?
Zuroff -
Eu cresci nos Estados Unidos dos anos 1960. Era uma época de atividade política intensa, a maioria direcionada contra a Guerra do Vietnã. Mas eu não estava tão envolvido com isso. Eu estava mais interessado nos problemas relacionados aos judeus. E uma das coisas que surgiram quando eu estava crescendo como estudante de faculdade foi um interesse no Holocausto e o motivo era de que desde 1945 até o final dos anos 1960, começo dos 1970 não havia informação ou interesse no Holocausto na América.

Imagem de abril de 2009 mostra Charles Zentai, suspeito de perseguição e mortes de judeus em Budapeste. Ele está atualmente na Austrália, e é o sexto na lista de Zuroff. Imagem de abril de 2009 mostra Charles Zentai,
sexto na lista de Zuroff (Foto: AFP)

E eu acredito que era porque entre a comunidade judaica havia um sentimento vago e ruim de que eles não fizeram o bastante para ajudar seus parentes. Mas depois desse período as pessoas começaram a prestar atenção, pois havia um medo de que Israel fosse destruído. Pois os Exércitos árabes estavam preparados para atacar e a situação era muito perigosa. Eu me lembro de quando era criança, na minha casa do Brooklin, olhando o mapa e vendo o tamanho dos países, número de tropas, via Israel tão pequeno no meio dos países árabes e pensava: "Meu deus, vai haver outro Holocausto!"

Agora, meus pais nunca conversaram sobre o Holocausto. Eles nasceram na América, minha família não sofreu com isso, tirando a família de um irmão de meu avô que foi morta.

Então quando eu acabei a faculdade eu fui para Israel me especializar e estudar o Holocausto. [...] Acabei tendo que voltar aos EUA para coletar material e conheci Simon Wiesenthal, sua história, e descobri que os EUA estavam começando a investigar nazistas. Antes de voltar a Israel e trabalhar no Centro Wiesenthal, eu trabalhei um tempo na unidade de caça a nazistas do Departamento de Justiça Americano. E basicamente foi essa a história.

G1 - Há outra instituição ou pessoa que faz a mesma coisa que o senhor hoje? Que caça nazistas?
Zuroff -
Em instituições privadas, Ongs, não. Sou o único no mundo. Mas há pessoas que trabalham em governos, promotores, advogados, que estão envolvidas com processos em diversos países.

G1 - Quantos anos o senhor calcula que ainda tem para colocar essas pessoas em julgamentos?
Zuroff -
Muito poucos. Talvez dois ou três.

G1 - É muita pressão...
Zuroff -
Sabe de uma coisa? Você gosta de futebol? Eu estou no tempo dos acréscimos. É o melhor jeito de descrever, é o que sinto. Poucos minutos para acabar. É onde estamos.

Fonte: G1

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