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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Antissemitismo à brasileira

Com certeza você já deve ter ouvido muitas vezes que “aqui no Brasil antissemitismo não tem tradição histórica” ou que “no Brasil há tolerância religiosa”. Isto, no entanto, não é propriamente a verdade, e o antissemitismo de certos intelectuais brasileiros vem de longa data, para não falar de políticas oficiais antissemitas, como no governo de Getúlio Vargas, o que já foi longa e meticulosamente analisado por Maria Luiza Tucci Carneiro, no seu consagrado “O antissemitismo na Era Vargas”.
Muito embora tenhamos uma lei com penas severas para o preconceito de religião, raça ou cor, ainda se podem encontrar, via internet ou sebos, muitos livros que propagam idéias e mitos sobre os judeus e sua suposta dominação do mundo, clichês que jamais cessaram de existir e que hoje estão presentes com muita força no mundo islâmico, através dos sermões dos mulás nas mesquitas, onde Israel é tido como o pequeno Satã que junto com os Estados Unidos procura dominar o planeta.
Certo “erudito” brasileiro, nascido no final do século XIX, tem uma prolífica obra a respeito do que considera ser a influência judaica na História do Brasil. Estou me referindo a Gustavo Barroso, membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia de História de Portugal, da Royal Society of London, do Instituto Coimbra de Portugal, da Sociedade de História Argentina e de mais uma porção de instituições do mesmo quilate, além de ter sido agraciado com muitas comendas, inclusive a Legião de Honra da França apenas para mencionar uma, tendo sido um dos maiores arautos de idéias nazistas no Brasil em seu tempo, além de partidário do integralismo, versão tupiniquim do nazi-fascismo.
Este autor que se pretende Historiador, e que vez por outra é citado por outros escritores, tem afirmações como “toda a História do Brasil é assim: uma aparência – o idealismo construtor do português, do mameluco e do brasileiro, dos cristãos; uma realidade – o utilitarismo oculto do judeu, explorando as obras do idealismo alheio”, ou ainda como “combate-se o judeu, não se usa do judeu: usá-lo equivale a cair-lhe nas unhas mais hoje, mais amanhã”.
Ao falar sobre a fuga dos judeus da Inquisição, diz que a mistura do sangue judaico ao sangue cristão foi a causa da “falta de fixidez no caráter, inclinação a não levar nada a sério, capacidade de deformar todas as ideias, indisciplina inata e prazer do despistamento” que seriam, segundo ele, defeitos da maioria dos brasileiros.
Todos os males do Brasil são debitados aos judeus, e chega a dizer que o judeu “tem sido o fermento desagregador dos impérios e das civilizações”…
O delírio de Barroso, na sua “História Secreta do Brasil”, infelizmente não está só na literatura nacional, pois homens como Pedro Calmon, outro historiador de peso, também se referiu pejorativamente aos judeus: “por detrás dos marinheiros flamengos, estava o judeu de Amsterdam e de Haia” (in História da Civilização Brasileira), ao analisar a invasão do nordeste pelos holandeses.
O pai da sociologia brasileira, Gilberto Freyre, no seu clássico “Casa Grande & Senzala”, de 1933, época em que as ideias racistas tomavam conta de boa parte do mundo, “explicou” a usura dos judeus apelando para os mais grotescos estereótipos do nazismo alemão: “técnicos da usura, tais se tornaram os judeus em quase toda parte por um processo de especialização quase biológica que lhes parece ter aguçado o perfil no de ave de rapina, a mímica em constantes gestos de aquisição e de posse, as mãos em garras incapazes de semear e de criar. Capazes só de amealhar”! Ou seja, nós judeus temos perfis de gavião, de águia, e temos mãos em garras…(confesso que olhei no espelho e não vi nada disto).
Chocado? Não sabia que o tão citado e elogiado Freyre colocou tal “análise” na sua obra prima? Pois saiba que não parou aí. Cita autores como Chamberlain (não o ministro inglês de triste memória pela entrega da Tchecoslováquia a Hitler), para atribuir aos judeus a culpa pela escravidão dos negros no Brasil.
Vale lembrar que se Gustavo Barroso foi praticamente esquecido, menos pelos nazistas, é claro, Gilberto Freyre continua até hoje fazendo escola, sendo referência obrigatória para qualquer estudo sociológico do Brasil. É influência de peso.
Mas, por que escrevo a respeito disso, citando autores cujas obras são quase de uso exclusivo dos especialistas, você pode estar se perguntando.
Porque num momento em que a política exterior do Brasil volta-se claramente para países que não aceitam a existência de Israel como Estado, que pregam a negação do Holocausto, que disseminam ideias iguais às de Barroso, de Freyre e outros, que dizem que vão exterminar o povo judeu, creio que todos devem ficar atentos para a real possibilidade de que poderemos um dia acordar com uma campanha antissemita para, por exemplo, se jogar a culpa por um fracasso econômico nos judeus, como já se colocou a culpa pela crise financeira nos banqueiros brancos de olhos azuis…Já se viu esse filme antes…
Aqui perto, um presidente de país que faz fronteira com o nosso, abriga inimigos de Israel e dos judeus e já fez declarações a respeito dos judeus que lhe custariam a liberdade se tivessem sido feitas aqui por qualquer cidadão.
E para ficar no Brasil, lembro que pouco após o confronto israelense com o Hamas um assessor próximo ao presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, declarou à revista Piauí (edição de março de 2009) que a “invasão israelense da Faixa de Gaza é terrorismo de estado” ou “crime de guerra”, acrescentando que “os judeus têm que perder o hábito de achar que qualquer crítica é uma manifestação contra a existência de Israel”, e acusou o governo de Israel de apoiar o apartheid da África do Sul e as ditaduras de Somoza e de Salazar. “Não venham agora querer bancar os bacanas para o meu lado”, concluiu. O presidente Lula, que já viajou pelo mundo quase todo, jamais foi a Israel. Quem o impede? Que razões fazem com que ignore este Estado que está na vanguarda de muitos setores e que pode colaborar com o desenvolvimento do Brasil? O que a Líbia tem a mais para oferecer? E o Gabão? E o Sudão?
E qual a razão estratégica, econômica ou humanitária que levou o Brasil, através do Itamaraty, a firmar acordo secreto com o arquiinimigo de Israel, o Irã, burlando as sanções internacionais, como divulgou a revista Isto É ainda outro dia?
Num instante em que se culpa a política de Israel pela instabilidade do Oriente Médio, o que ficou muito claro nos discursos do novo presidente americano, é extremamente importante que os judeus tenham em mente que pode acontecer um novo massacre. Atentados e vandalismo contra instituições judaicas são diárias na Europa hoje infestada de propaganda antissemita.
Não há razão alguma para se achar que no Brasil estamos imunes de coisas parecidas. Tolo é quem assim pensa. A lição do que ocorreu no velho mundo na época do nazismo não pode ser esquecida.

Fonte: http://www.imil.org.br

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