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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Biografia de Bolívar sob revisão

04/08/2010 - 18:52

Venezuela

Chávez usa exumação de Simon Bolívar para mudar a história

Historiadores venezuelanos sugerem que libertador da Venezulela foi traído por uma conspiração que incluía Espanha e Estados Unidos

The New York Times

O relógio acabara de bater meia noite. A maioria dos moradores do país estava dormindo. Isso não impediu o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de anunciar nas primeiras horas de 16 de julho que a última fase de sua revolução bolivariana estava em movimento.

Marchando sob o hino nacional, um grupo de soldados, especialistas forenses e assessores presidenciais reuniram-se ao redor do sarcófago de Simon Bolívar, o aristocrata do século 19 que libertou um bom pedaço da América do Sul. Uma equipe da televisão estatal filmava o grupo, vestido de jaleco branco e redinhas de cabelo.

Então eles desatarracharam o caixão, tiram sua tampa e removeram a bandeira venezuelana que cobria os restos mortais. Uma câmera suspensa capturou imagens do esqueleto. Insones aqui assistiram a cobertura ao vivo da exumação de Bolívar na televisão estatal, com narração fornecida pelo ministro do Interior, Tareck El Aissami. Para os infelizes que cochilaram, sempre existe o Twitter.

“Que momento expressivo vivemos esta noite!”, Chávez disse a seus seguidores numa série de mensagens pelo Twitter enviadas durante a exumação que foram redistribuídas pela agência oficial de notícias poucas horas depois. “Levanta-te, Simon, porque não é hora de morrer! Imediatamente me lembrei que Bolívar vive!”

Até mesmo venezuelanos acostumados ao teatro político de Chávez foram surpreendidos pela exumação, que empurrou para o lado questões como o escândalo dos alimentos importados encontrados apodrecendo nos portos, a irritação por causa da economia em recessão e as provas oferecidas pela Colômbia de que guerrilheiros colombianos mantêm acampamentos em solo venezuelano.

Com tudo isso acontecendo, os venezuelanos coçaram a cabeça nas últimas semanas sobre os possíveis motivos para Chávez remover os restos mortais de Bolívar do Panteão Nacional. O presidente ofereceu sua própria explicação. Ela envolve a necessidade urgente de realizar testes para determinar se Bolívar morreu envenenado por arsênico em Santa Clara, Colômbia, e não de tuberculose, em 1830, como os historiadores aceitam há muito tempo. Uma comissão criada por Chávez vem examinando essa teoria há três anos.

Eles trabalham baseados na demanda entre alguns bolivariólogos, como os especialistas na história de uma longa carta perdida de Bolívar revela como ele foi traído pela aristocracia colombiana. Ao decifrar a carta usando códigos maçônicos, eles sugerem que a conspiração foi ainda mais ampla e incluiu Andrew Jackson, então presidente dos Estados Unidos e o rei da Espanha. Bolívar são chamados na Venezuela, de que

Resultados apresentados numa conferência médica este ano nos Estados Unidos incentivaram Chávez ainda mais. Na conferência, Paul Auwaerter, especialista em doenças infecciosas da Universidade Johns Hopkins, disse que Bolívar provavelmente morreu por ingestão de arsênico, uma afirmação usada pelos meios de comunicação estatais da Venezuela para sustentar a alegação de que Bolívar foi assassinado.

Pouco importa que Auwaerter afirmasse que sua pesquisa havia sido mal interpretada, uma vez que a ingestão pode ter sido não intencional, por meio de medicamentos comuns que continham arsênico ou água contaminada. “Não concordo com as teorias do presidente Chávez”, disse ele por e-mail. Implacável, o governo diz que irá fundo na morte de Bolívar. O procurador-geral assistiu à exumação, deixando claro que as autoridades vêem o mistério dos ossos de Bolívar como o equivalente de uma cena criminal e uma questão de importância nacional.

A exumação pode servir a múltiplos propósitos. Se Chávez pode dizer que Bolívar foi morto na Colômbia, pode tentar usar isso contra o governo atual do país vizinho, com quem a Venezuela esfriou as relações.

Também pode levar Chávez a reescrever um aspecto importante da história venezuelana. O presidente já se identificou, e a seu movimento político, com Bolívar, ao mudar o nome do país para República Bolivariana da Venezuela. Sua agência de espionagem se chama Serviço de Inteligência bolivariana e assim por diante. Retratos de Bolívar estão ao lado dos de Chávez em repartições públicas.

Os intelectuais do país chamam atenção de que o legado de Bolívar e o uso de sua imagem não começaram com Chávez, mas passaram por vários mandatários desde o século 19. Nas livrarias, títulos como Bolívar Divino, O Culto a Bolívar, O Pensamento do Libertador e Por Que não Sou Bolivariano estão nas prateleiras. Acadêmicos discutem sobre como foi possível a um ditador do século 20, Juan Vicente Gomez, convenientemente dividir as datas de aniversário e morte com as de Bolívar.

Movimentos políticos que usam a força dos restos mortais não é novidade na Venezuela ou em qualquer outro lugar da América Latina. Um exemplo recente veio de Carlos Menem, ex-presidente da Argentina, que resgatou na Inglaterra os restos mortais do caudilho Juan Manuel de Rosas para ser sepultado no país em 1989. “Disputas sobre corpos são sobre poder, poder sobre o passado e poder no presente”, disse Lyman Johnson, historiador da Universidade da Carolina do Norte especializado em América Latina.

Chávez, ao remover os dentes e outros fragmentos de ossos do esqueleto de Bolívar para testes de DNA, talvez tenha levado a apropriação da morte a novos limites. As autoridades venezuelanas ignoraram pedidos dos descendentes da família de Bolívar (acredita-se que ele mesmo não teve filhos) para que deixassem os restos mortais em paz.

Rev. VEJA

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