Sinto necessidade de dar sequência ao meu último artigo, depois da aprovação, pela Câmara Federal, na semana passada, do projeto do novo Código Florestal, com a redação proposta pelo seu relator, o deputado federal do PC do B pelo Estado de São Paulo, Aldo Rebelo.
A truculência que os deputados da chamada “bancada ruralista” usaram, no plenário da Câmara Federal, trouxe-me à mente, no momento em que redijo este artigo, a matilha de cães violentos que eu assisti, na grande praça situada em frente à Casa Rosada, em Buenos Aires, tentar trucidar um outro cachorro. Eram todos cães grandes, inclusive o que foi atacado. Foi impressionante! Faziam parte da matilha uns sete, oito cães. Todos, ao mesmo tempo, como que obedecendo a um comando único, avançaram, com uma ferocidade que só tinha visto em filmes, para cima desse um, que resistiu bravamente. Quem o salvou foi uma velhinha que dispersou a matilha, em pleno ataque, a golpes do seu guarda-chuva. Havia pouco, tinha caído uma chuva fininha. O cão atacado saiu muito machucado e, por força do natural instinto de sobrevivência, foi proteger-se e esconder-se bem no centro de um grupo de turistas que ouvia as explicações do seu guia. Ficou, ali, deitado, arfante pela agressão brutal e covarde que, heroicamente, acabara de enfrentar, recuperando as energias. Desde aquele passeio, indago-me, sem respostas, sobre as razões que a matilha poderia ter para querer “suprimir” esse cão de sua convivência, se não na própria matilha, mas naquela grande praça pública. Em dado momento, ele saiu do centro do círculo de turistas e caminhou, rápido, na direção de uma rua oposta de onde estava a matilha. Mas os sete, oito cães que a formavam, ficaram ainda por um bom tempo rondando a praça à procura do cachorro que tinham atacado, certamente para matá-lo. Tomando emprestados os versos do poeta Carlos Drummond de Andrade: “Nunca me esquecerei desse acontecimento/na vida de minhas retinas tão fatigadas.”
Essa imagem do ataque da matilha relacionada à sessão de votação do projeto do novo Código Florestal, deve ter me ocorrido também pela leitura que acabo de fazer do pungente artigo de autoria da professora de criminologia da UFSC, Vera Regina Pereira de Andrade, intitulado: “A sociedade espelhada: o humano e o animal/Manifesto pela libertação animal”. “No mundo animal, se reproduz a violência de classe, existindo animais ricos, remediados, pobres e completamente excluídos.”
A bancada ruralista na Câmara Federal é composta, em boa parte, de grandes proprietários rurais. O seu deputado que não o é, em todo o caso está muito rico. A mesma raiva e ódio nos olhos dos cães da matilha naquele final de tarde na praça da Casa Rosada, vi brilhando, diante de mim na televisão, nos olhos dos deputados que conduziram a vitória da bancada ruralista na negativamente histórica sessão da Câmara Federal na semana passada. Infelizmente, nela ou antes dela, faltou a velhinha decidida para acabar, a golpes de guarda-chuva, com a ideia estúpida de derrubar as nossas florestas e matas para fazer avançar as fronteiras do agronegócio, principalmente das plantações de soja, na direção da região da Amazônia.
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