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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Uma experiência singular


Um testemunho eloqüente e singular está sendo dado pela professora Lícia Lustosa, da Escola Estadual Básica Anita Garibaldi, de Itapema, sobre o andamento da mobilização dos professores. Faz uma narrativa forte sobre visita a um bairro pobre de sua cidade. É longo, mas merece leitura:
“Gostaria de partilhar com vocês, a experiencia que vivi hoje 26/05 pela manhã.
A minha escola EEB Anita Garibaldi(Itapema), se propos a “panfletar” uma cartinha aos pais e comunidade para dizer por que continuamos em greve. Nos dividimos em grupos e eu a professora Priscila e mais duas alunas fomos para os bairros mais afastados de Meia-Praia. A aluna Natalia (que era minha guia) sugeriu que fizessemos o caminho do ônibus escolar. E Começamos pelo bairro Praia-Mar. No inicio um bairro simples que se revelou ao longo da minha caminhada a mais verdadeira AULA de cidadania.
Conforme ia caminhando ruas a dentro, a pobreza, a miséria, iam se revelando. Passava pelas casas dos “MEUS” ALUNOS entregando as cartinhas as pessoas (muitas não sabiam ler) e explicando o porque não voltamos a dar aula, que estamos lutando para que todos os professores recebam o piso e não só alguns. As pessoas me olhavam admiradas, talvez por não entender o porque que a professorinha saiu lá do bairro nobre da Meia- Praia (bairro dos turistas) e foi dar explicações a eles. Mas também com sorriso nos olhos de se sentirem importantes, por tal explicação. Quando nos perguntavam quanto nós ganhávamos, ficaram espantados por não termos ido antes as ruas. E nos diziam que um pedreiro ganha mais do que a gente. A receptividade das pessoas foi algo que em palavras não dá pra descrever. Foi a maior lição que EU uma professora de Artes Visuais, VI EM TODA MINHA VIDA. Já andei por muitos lugares pobres, mas não com os olhos de educadora. E percebi que nós professores, não temos ido até nossos alunos. Reclamamos que os pais não vão a escola, mas nós também não vamos até a comunidade. Se essa GREVE serviu para alguma coisa, certamente foi para mostrar quanto precisamos ser mais humanos e falar das nossas aflições, angustias, tristezas e preocupações. Que sozinhos somos fracos e impotentes mas juntos somos forte e valentes. E que para construir um País DIGNO é preciso muito mais que bons salários e boas escolas. É preciso Gente humana que vê de verdade o próximo!
Professores, não deixem de ir as ruas e explicar a sua comunidade o que está acontecendo na sua escola. Vale a pena!
Abraços e “lágrimas” a todos, Lícia Lustosa-Profa. Artes Visuais-EEB Anita Garibaldi – Itapema/SC.”

Fonte: BLOG DO MOACIR PEREIRA (Clic RBS)

2 comentários:

Anônimo disse...

Não é somente os professores do Estado de santa Catarina que tem salários baixos, as Auxiliares de Sala da Prefeitura de Florianópolis, recebem RS$700,00 reais por mes, trabalham 30hs semanais, com formação em Pedagogia, e algumas com pós graduação....setecentos reais por mês........

I.A.S. disse...

Tem razão o(a) autor(a) do comentário.

A "política de pessoal" de muitos órgãos públicos, no que tange aos agentes da educação, é desastrosa.
Querem aplicar a sovinice do meio empresarial num setor fundamental como a educação o é, e o resultado é o desastre que aí está: revolta, desmotivação e despreparo.

Já está na hora dos Sindicatos e associações de docentes lutarem por adicional de risco, por exemplo, porquanto estamos presenciando os profissionais que atuam em sala de aula a enfrentar riscos efetivos diante da má orientação dos alunos em casa, a qual culmina com agressões e até homicídios contra educadores.

É preciso que os educadores se engajem na participação em suas entidades de classe, fortalecendo-as. Quem se omite não pode reclamar. Categoria que não se une vira massa de manobra.

Mas, além da vindicação em favor da categoria, urge que os educadores se insiram na luta por cidadania plena, questionando as falhas e perversidades do sistema como um todo.

Professores e auxiliares de sala, além de outros atores da educação, podem, e devem, quando necessário, exercitar a desobediência civil ou tributária e ensiná-las aos seus alunos, de sorte que nossos cidadãos não sejam manejados como massa descerebrada pelos poderosos.

Acima de tudo, é preciso ensinar dignidade ao povo, fazendo-o reagir ao descaso da administração pública, às promessas descumpridas, à corrupção desenfreada, à cooptação do Ministério Público e do Judiciário pelo Executivo.

Não se pode falar em democracia e estado de direito se o Estado (gênero) não respeita os cidadãos/contribuintes, se política é exercida como a arte dos conchavos e dos golpes nos cofres públicos.

Enquanto permitirmos a educação religiosa - forma de manter os cidadãos mansos, conformados e submissos - nas escolas públicas, nosso povo nunca será tido e respeitado como uma grande nação, sendo sempre visto como um amontoado de pessoas que não enxergam um palmo adiante das próprias caras, uma república de símios, facilmente manobrável e explorável.Manter-nos-ão como submissos servos do Império Vaticano e outros que estão a se formar.

A remuneração dos professores é um detalhe relevante, mas não é tudo. Há muito mais a questionar. Os professores precisam politizar-se, no bom sentido, para agir como autênticos catalisadores dos anseios populares não atendidos. Não podem assumir uma postura de agentes apolíticos do Estado.
Devem influenciar, decisivamente, na formação da consciência política dos educandos, mostrando-lhes que a solidariedade social (Constituição Federal, art. 3º) a qual fundamenta a cobrança de tributos, engendra a obrigação do Estado de atender as demandas sociais por serviços dignos. O contrato social implica obrigações bilaterais: cidadãos/EStado.

O Estado não tem legitimidade para cobrar tributos, se não devolve o que arrecada em salários dignos, e também em atenção de qualidade à saúde, à segurança, à assistência social, à moradia, etc.... e isto precisa ser incutido na mente dos jovens, fazendo-os conscientes dos seus direitos mínimos, sem os quais não há como se falar em cidadania,em dignidade, em nação, enfim.

Merenda, cesta básica, vale isto, vale aquilo, são formas mesquinhas e humilhantes de aviltar a dignidade de qualquer povo.
Um povo que se acostuma e aceitar migalhas, que lhe são atiradas pelos poderosos, ao invés de lutar pelos seus direitos, não pode reclamar quando é tratado com desdém pelas elites e governantes.